segunda-feira, 7 de julho de 2014

Literatura: concepção, revisão de conceitos e função social

Reescrita
Aluno 32


Sabe-se que o ensino de literatura no ensino médio é frequentemente resumido à leitura de obras obrigatórias para a realização do vestibular. Essa abordagem pode acabar por fazer o aluno criar um conceito de literatura relacionado apenas aos livros clássicos da literatura brasileira, desconsiderando, por exemplo, a literatura científica. Comparar experiências de diferentes gerações pode ser esclarecedor para investigar se mudanças que ocorrem no ensino influenciam ou não nas concepções formadas, além de ser útil para encontrar novas e melhores maneiras de lecionar a disciplina.
Para analisar a percepção da literatura construída durante o ensino médio, entrevistou-se um aluno que o concluiu recentemente e já ingressou na universidade. Entrevistou-se também uma pessoa que concluiu o ensino superior e já trabalha em sua área, para observar a possível diferença entre a percepção da literatura entre gerações. Os entrevistados não são da área de Letras justamente porque quem estuda nesta área já têm o termo melhor definido.
 As questões propostas visaram colher o conceito inicial de “literatura” formulado pelos entrevistados e o papel social que ela desempenha a partir desse conceito. Após breve tentativa de ampliar o termo, afirmando-se que a literatura se expressa nas mais variadas formas, perguntava-se se a visão deles havia mudado, a utilidade que a literatura assume nas áreas em que os entrevistados atuam e a nova função social que ela possui, caso os conceitos tivessem sido alterados.
Ambos os entrevistados demonstraram concepções de literatura que não se limitavam aos clássicos, mas que eram abrangentes e englobavam ideias mais amplas do que o esperado. Nenhum deles citou exemplos da literatura brasileira ou se restringiu à disciplina escolar. Tanto E.A.[1] quanto D.S.[2] trouxeram o caráter informativo como função social da literatura, afirmando que ela é de suma importância para a construção do conhecimento. E.A. também mencionou que a criatividade é desenvolvida com a literatura, e relacionou-a à arte.
Ao expor a importância da literatura em suas respectivas áreas de estudo, E.A. e D.S. colocaram que ela é imprescindível para que se aprenda sobre o campo em que se trabalha – no caso deles, matérias exatas – já que pela escrita ficam registrados dados relevantes, e experiências não precisam ser repetidas para que se saibam os resultados. A pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, feita em 2011, apresentou dados que condizem com as concepções dos entrevistados. Ainda que seja sobre leitura e não literatura, os dois termos são bastante associados, e as semelhanças são visíveis devido ao papel que lhes é atribuído. O estudo aponta que o papel atribuído à leitura pela maior parte das pessoas é de fonte de conhecimento: 64% afirmaram que é fonte de conhecimento para a vida; 41%, fonte de conhecimento e atualização profissional; e 35%, fonte de conhecimento para a escola/ faculdade. Foram as mesmas funções atribuídas por E.A. e D.S.
Além da busca por informações, ressaltada por ambos os entrevistados, D.S. apontou aspecto notável: o lazer. Ele afirmou que para conhecer mais sobre seu hobby, a filatelia, recorre a diversas fontes a que não teria acesso se não fosse pela literatura. Essa resposta, no entanto, não foi tão popular na supracitada pesquisa: apenas 21% das pessoas concordaram que a leitura é uma atividade interessante e, o mais preocupante, só 18% a consideram uma atividade prazerosa.
Fica claro, ao olhar para as entrevistas, que as duas refutaram a hipótese de que o conceito de “literatura” que o ensino médio constrói é limitado, visto que os contribuintes já a entendiam como um termo abrangente mesmo antes de ser dada tal definição. Além disso, pessoas com experiências diferentes em educação básica e secundária e com considerável diferença de idade possuem definições similares do termo. No entanto, a parcela da população que julga a literatura interessante e prazerosa ainda é muito pequena – D.S. foi uma exceção. Algo que poderia ser questionado é se a conclusão do ensino superior ou a faixa etária influenciam o indivíduo a ter essa opinião.
Seria interessante aumentar o alcance da entrevista. Se ela fosse estendida a mais pessoas, seria possível ver o quanto a abordagem adotada durante o ensino médio influencia na perspectiva dos indivíduos. Adicionar perguntas sobre o gosto dos entrevistados pela leitura e se eles o atribuem às aulas do colégio também seria construtivo. Para que seja construída uma educação de qualidade cada vez maior, poderia ser relevante apresentar os resultados das entrevistas aos professores da disciplina de literatura de diversos colégios, abrindo diálogos para procurar por erros e acertos dos modos de ensino.






[1] E.A., 17 anos, é estudante de Agronomia na UFRGS.
[2] D.S., 51 anos, graduou-se em Engenharia Química pela PUCRS e atua na área. 

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