sexta-feira, 1 de julho de 2016

Reescrita
Aluno 83


A experiência da leitura sempre revela surpresas para o leitor, sejam elas boas ou ruins. Na minha vida de leitora, apenas um livro conseguiu ser um grande desafio para uma pessoa que sempre teve um dom nato para o exercício.
                O livro em questão é 1984, de George Orwell. A primeira vez que o li foi em 2013, e as dificuldades foram imensas na compreensão linguística utilizada pelo autor. A barreira linguística se deu pelo fato do uso de palavras inventadas pelo autor, e que possuíam uma grande ambiguidade, e que jamais havia ouvido falar.
                Na história narrada Orwell cria uma nova língua, que é chamada exatamente de "novilíngua", e as expressões usadas por ele, como "duplipensar", "  crimedeter             ", "                  ", "  dupliplusbom        " e "negrobranco"(ORWELL), foram minusciosamente explicadas pelo autor no livro, exatamente para a compreensão do leitor, porém tive imensa dificuldade de compreendê-las, tendo a necessidade de ler mais de uma vez, e mesmo assim obtendo uma ideia muito vaga e estranha para mim, sobre o que realmente se tratava. A falta de um conhecimento prévio e o ruído no conhecimento linguístico acarretaram em uma leitura não muito produtiva. Nesse aspecto "o conhecimento linguístico, então é, um componente do chamado conhecimento prévio sem o qual a compreensão não é possível", como diz Kleiman(1995, p.16).
                Minhas leituras anteriores jamais causaram tamanho estranhamento sobre a linguagem utilizada por um autor, e quando algo dessa natureza acontecia, meu conhecimento de mundo ou conhecimento enciclopédico(KLEIMAN, 1995, p.20), bastaram para a compreensão do contexto geral do texto.
                Aquela leitura difícil e que foi muito sofrida para mim, acabou despertando uma dúvida sobre minha capacidade como leitora, de acordo com Kleiman(1995,p.10) a leitura é um "ato social, entre o leitor e escritor, obedecendo a objetivos e necessidades", de forma que meu objetivo de despertar o desejo político e ideológico trazidos pelo autor acabaram ficando em segundo plano, por conta dos meus problemas de compreensão, de forma que acabei desistindo de fazer uma segunda leitura.
                Nesse ano de 2016, após ingressar no curso de Letras, iniciei uma nova etapa na minha vida de leitora. Os textos mais acadêmicos, juntamente com os literários, acabaram por despertar meu interesse pelo livro 1984. Passaram três anos desde minha primeira, e decepcionante, leitura, quando decidi ler novamente o livro.
                Logo nos primeiros capítulos minha capacidade de compreensão do que lia era completamente diferente, e me espantei com a velocidade com que meu cérebro assimilava tudo que lia, e como todas as palavras formavam conceitos de forma alguma me foram estranhos, uma vez que eles já eram estranhos do meu conhecimento textual, não somente pela primeira leitura, três anos atrás, mas também pela minha prática de leitura assídua nos últimos meses, sobre isso Kleiman(1995, p.20) diz que "quanto mais conhecimento textual o leitor tiver , quanto maior sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua compreensão".
                Os conceitos como "duplipensar", "             " ou "negrobranco" foram assimilados logo numa primeira leitura da explicação dada pelo autor, e a segunda leitura correu de forma muito mais útil, rápida e agradável em comparação com a primeira.
                Ao final da segunda leitura não pude deixar de lembrar de uma frase dita por ROTTAVA(2000, p. 6):
                ... a leitura deve provocar no leitor uma reação. Essa, por sua vez, permitirá que sejam emitidas opiniões, pois aceitar ou recusar um tema ou assunto é, muitas vezes, o ponto de partida para a construção do conhecimento.
                Sobre a experiência com essas duas leituras, cada uma conseguiu me somar algum tipo de conhecimento. Se na primeira obtive dificuldades de compreensão, ela me foi importante para reter tais conceitos diferentes, e que depois de anos, e outras leituras específicas, acabaram por fazer sentido sem nenhum esforço quando foram exigidas na segunda leitura.

REFERÊNCIAS
KLEIMAN, A. TEXTO E LEITOR. Aspectos congnitivos da leitura. 4ª ed. Campinas, SP. 1995.
ROTTAVA, Lucia. A importância da leitura na construção do conhecimento. Espaços da escola. Editora Unijuí. ano 9. n 35. p 06, jan/mar 2000.
ORWELL, George. 1984. 17ª ed. São Paulo, SP. 1988.

               











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