Resumo
Este
artigo visa analisar criticamente a produção textual do primeiro semestre de
dois estudantes de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
tendo como objetivo não apenas relatar e demonstrar o aprendizado adquirido por
cada um ao longo do semestre, mas também realizar comparações críticas a
respeito dos dois, de modo que sejam levantadas as concepções de letramento de
um ingressante no curso de Letras. A análise dos textos
está embasada principalmente nos conceitos de produção textual estabelecidos
por Paulo Coimbra Guedes em seu livro “Da Redação à Produção Textual” (2009) no
que se refere aos gêneros textuais argumentativo/dissertativo, narrativo e
descritivo. Os dados
para esta pesquisa foram coletados através do material produzido na disciplina
de Leitura e Produção Textual, ministrada pela professora Lúcia Rottava. Como
resultado desta análise crítica, conclui-se que o ingressante entra no curso de
Letras com concepções equivocadas de letramento, fazendo-o, a principio,
produzir textos sem as concepções textuais adequadas para o meio acadêmico;
entretanto, ao longo de um processo de letramento acadêmico, o aluno passa a
ter uma evolução concreta e visível, como será mostrado ao longo de todo o
artigo.
Palavras-chave: Linguagem Escrita; Letramento
Acadêmico; Produção Textual; Concepções Textuais.
1.
Introdução
Esta análise
crítica insere-se no contexto da disciplina de Leitura e Produção Textual,
ministrada pela professora Lúcia Rottava, no qual foram realizados cinco tipos
de avaliações, sendo elas embasadas por Paulo Coimbra Guedes em seu livro “Da
Redação à Produção Textual” (2009) no que se refere aos gêneros textuais
argumentativo/dissertativo, narrativo e descritivo.
Dentro
desse contexto, então, analisaremos críticamente as cinco avaliações realizadas
por dois estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tendo em vista
que ambos são ingressantes do curso e estão tendo as primeiras experiências com
as concepções acadêmicas de ensino e letramento, consideramos importante a
realização deste trabalho para um maior esclarecimento sobre como se dá
evolução do aluno ao longo do semestre. Nosso objetivo com este artigo,
portanto, não é somente mostrar o avanço dos alunos ao longo do curso, mas
propor também a reflexão de como se deu este avanço. Com base nisso, além de
expormos e refletirmos sobre as escritas e reescritas de cada avaliação, também
analisaremos, de maneira geral, quais são as concepções de escrita de dos dois
alunos antes e após a exposição dos conceitos acadêmicos supracitados.
2.
Revisão
da Literatura
Este
artigo parte das concepções teóricas de qualidades discursivas estabelecidas
por Paulo Coimbra Guedes em seu livro “Da Redação à Produção Textual” (2009) no
que se refere aos gêneros textuais já supracitados. Como ele define no mesmo
livro:
Qualidades
discursivas são um conjunto de características que determinam a relação que o
texto vai estabelecer com seus leitores por meio do diálogo que trava não só
diretamente com eles, mas também com os demais textos que o antecederam na
história dessa relação. (GUEDES, 2009, pág. 94).
Consideramos,
então, que este livro seja uma base completa para qualquer construção textual
clara e coesa, pois é por meio dele que são estabelecidas as maneiras efetivas
para se produzir um texto de maneira objetiva e acadêmica. Com base neste mesmo
artigo, partiremos também da problematização presente no artigo “A Leitura em
Contexto Acadêmico: o processo de construção de sentidos de alunos do primeiro
semestre do curso de Letras” (2012), de Lúcia Rottava, onde ela discorre sobre
as dificuldades de leitura e produção textual dos alunos ingressantes no
primeiro semestre do curso de Letras. Neste artigo, Rottava examina as
concepções existentes no aluno ingressante do primeiro semestre e elucida as
implicações práticas que isso resulta nas produções textuais.
Acreditamos,
com base nestes dois autores, que o processo de evolução do aluno não está
superficialmente ligado a uma questão de prática, mas sim profundamente ligado
a concepções de letramento que são desenvolvidas ao longo do semestre na
disciplina. Desse modo, confirma-se que o aluno ingressante possui uma carência
de letramento acadêmico, e não de capacidade ou potencial.
3.
Metodologia
A organização
deste artigo se dará por dois movimentos. No primeiro, faremos uma análise específica
de cada uma das cinco avaliações seguindo as concepções de Paulo Coimbra Guedes
(2009), com o objetivo de mostrar a evolução dos alunos ao longo do semestre. Em
seguida, caracterizando-se como segundo e último movimento, faremos uma análise
geral dos dois alunos para uma reflexão das concepções de Leitura e Produção
Textual, esclarecendo o que implica tais concepções e como elas mostraram-se ao
longo das avaliações. Em ambos os movimentos, o corpus deste artigo se trata
dos textos produzidos na disciplina em sua primeira versão (V1) e em sua
reescrita (RE). Sendo eles frutos das cinco avaliações da disciplina de
Produção Textual, essas produções possuíam temáticas diferentes que, por se
inserirem dentro dos conceitos de Guedes, estavam de acordo com as propostas
estabelecidas pelo autor e livro supracitados. São elas: apresentação pessoal;
relato de um acontecimento que provocou aprendizado; descrição de um processo;
memória literária e artigo de opinião. Estes dados de pesquisa serão analisados
com uma abordagem qualitativa.
4. Qualidades Discursivas
A proposta de apresentação pessoal
surge como o pontapé inicial nas produções textuais de ambos os alunos que
analisamos nesse artigo. Sob a ideia de apresentação, certas qualidades
discursivas são analisadas. De acordo com Guedes (2009), qualidades discursivas
são um conjunto de características que determinam a relação que o texto vai
estabelecer com seus leitores.
A primeira das qualidades
discursivas é a unidade temática. É uma espécie de fio condutor de perpassa
todo o texto. Serve para delimitar o assunto abordado e focar os esforços e
argumentação do autor para um ponto específico. No caso de uma apresentação
pessoal, é imperativo que se selecione uma característica específica, para que
o texto não caia na superficialidade e torne-se uma lista de informações sobre
o autor.
Outra qualidade que merece atenção
é o questionamento. Serve para atrair o interesse do leitor no texto e criar
uma discussão sobre o assunto. O questionamento faz com que o leitor pondere
sobre o assunto discutido no texto, não sendo apenas um espectador passivo.
A concretude refere-se a certa
precisão do texto. O uso de palavras mais concretas e precisas ao invés do uso
de abstrações faz com que o leitor tenha uma imagem mais clara em sua mente,
facilitando o entendimento da mensagem que o autor quer passar. Conceitos
abstratos, como felicidade, podem ser entendidos de maneira diferente por
diferentes leitores. Por isso, a escolha de palavras concretas no texto é
essencial para que se tenha sua mensagem entendida.
A última qualidade é a
objetividade. Ao escrever um texto, o autor precisa saber claramente quais
ideias deseja exprimir, que objetivo tem seu texto. Guedes diz que um texto
objetivo dá ao leitor todos os dados que ele precisa para o entendimento do que
se quer dizer. Um texto tem objetividade quando ele não deixa furos, quando o
leitor não necessita buscar informações extras para a compreensão da ideia do
autor.
Essas
qualidades serão levadas em conta na análise dos textos a seguir. Vale
ressaltar, também, que essas qualidades permearão também as próximas
avaliações, porém com suas particularidades teóricas de produção textual.
AVALIAÇÃO
1 – APRESENTAÇÃO PESSOAL
(Aluno 94)
A primeira versão do texto do aluno
em questão é diminuta. O pequeno trecho escrito não se aprofunda em nenhuma
questão específica, pecando na unidade temática. A princípio, temos a impressão
de que o autor trabalhará com a ideia de sua gigantesca pretensão, porém isso
não acontece. O texto passa por essa característica específica do autor,
menciona sua disponibilidade para errar, refazer e aprender na classe e ainda
finaliza dizendo que poderia fazer outro texto de apresentação, este sendo mais
complexo e menos modesto. Talvez o pequeno tamanho do texto impeça de dissertar
sobre qualquer coisa. Nesse caso, o autor não somente falha em determinar uma
unidade específica para o texto, como não desenvolve absolutamente nada.
Ao reescrever, o aluno percebe o
caráter de um texto de apresentação pessoal. O tema é delimitado logo nas
primeiras linhas. O autor inicia com a definição de pretensão no dicionário.
Mesmo para aqueles que não tiveram acesso à primeira versão, me parece claro
que a unidade temática fica evidente
desde o começo. O aluno fala sobre sua pretensão e o desejo de alcançar mais e
mais.
Um exemplo é apresentado, junto com
um questionamento: o que você, leitor
faria se estivesse no lugar do autor? Utilizando de um exemplo de uma cidade
destruída e de um observador sem grandes esperanças, que já considera ter visto
tudo que há para ser visto na vida, o autor instiga o leitor a se colocar nesta
cena, nesta cidade, no lugar dele. Será que nós, que lemos, teríamos o mesmo
impulso de ir além, mesmo sem saber o que há do outro lado? Existe outro lado?
Muitos sentimentos e abstrações são
usados. Com exceção da cena da cidade em ruínas, considera-se que o texto peca
um pouco na concretude, mas a mensagem ainda é passada de maneira clara, pois o
texto possui objetividade e chaga em um ponto. Explica quem é 94, o autor,
e nos mostra porque ele é assim, sob a ótica de sua pretensão sem limites. É
notável a diferença e evolução das duas versões do texto.
AVALIAÇÃO 2 – RELATO DE UM
ACONTECIMENTO QUE PROVOCOU APRENDIZADO
(Aluno 94)
A próxima proposta do aluno 94 que analisaremos se trata de uma memória marcante em sua vida. O autor
essencialmente fala sobre o episódio em que competiu em um campeonato de
jiu-jitsu. A unidade temática existe,
entende-se qual o ponto principal e fio condutor da narrativa, porém o autor se
perde em vários momentos. Existem informações que são inseridas porém não
desenvolvidas, como em certo ponto em que o autor menciona um apelido que
recebeu dos colegas. A informação aparece apenas naquele momento, não contribui
para discussão.
O texto possui certa concretude, porém existem abstrações.
Como o momento que o autor menciona uma espécie de espírito que a influência a
competir, mesmo em estado físico frágil. Nota-se uma noção de objetividade, ele tem como missão
explicar e mostrar como a sua contribuição na competição se sucedeu, porém,
novamente, estas informações que se colocam como fios soltos no texto devem ser
cortados, isso em prol da objetividade e clareza da mensagem.
Na segunda versão do mesmo texto, o
autor presta a atenção devida à ideia de objetividade.
Fica claro que o ponto principal é sua atuação na competição, porém uma ideia é
adicionada: o aprendizado que a situação o proporcionou. O autor desenvolve uma
informação de pouco destaque na primeira versão, em que diz que foi
diagnosticado com uma lesão durante o treino, pouco tempo antes de competir. A
informação é clara é possui concretude.
O autor explica que decidiu competir mesmo sendo contrariado por profissionais,
e machucou mais ainda sua perna ferida, ao ponto de que ainda sente dores
ocasionais. Essa situação lhe proporcionou certo aprendizado, que ele menciona
no final do texto: é inteligente ouvir os outros. Talvez se tivesse feito isso,
não tivesse se machucado tanto. É um questionamento
não explicitado no texto.
Em suma, a reescrita desse texto
nos dá uma ideia satisfatória da situação pela qual o aluno passou, e nos
apresenta certo aprendizado. Vale ressaltar, também, que tanto a escrita quando
a reescrita já apresentaram uma unidade temática – demonstrando um avanço claro
e direto entre uma avaliação e outra.
AVALIAÇÃO 3 – DESCRIÇÃO DE UM
PROCESSO
(Aluno 92)
Para começo dessa análise, vale
aqui retomar esta frase que em suma lida com as qualidades discursivas que
devem girar em torno da objetividade. Nessa proposta, isso se inclui de maneira
mais necessária ainda. Para realizar a descrição de um processo, é preciso que
o aluno tenha entendido claramente as qualidades discursivas aprendidas até
aqui, de modo que o leitor saiba usar a “faca”, isto é, a unidade temática da descrição.
Mais do que as outras propostas,
esta avaliação requer uma precisão e uma atenção a mais para que se tenha, no
final da produção textual, unicamente a descrição de um processo e não uma
listagem de coisas.
Podemos dizer que Aluno 92 soube
usar os seus conhecimentos e aplicá-los como “uma faca”. Perceba como o próprio
tema de seu texto abre margem para que o processo se desdobre em outros e, no
entanto, ele consegue atar e seguir a unidade temática dentro dessa proposta.
Podemos dizer que a unidade temática está presente nessa redação. O aluno
realmente desenvolveu e entendeu esta qualidade discursiva. Porém, o texto peca
em alguns detalhes pequenos que poderiam ser resolvidos para uma melhor resolução
do texto, por exemplo, quando o aluno fala em seu texto “encha-os de informação
ininterrupta”, não há um dado que dê a concretude devida para essa informação.
Nesse caso, a aplicação de uma concretude para esta frase e também para as
demais articularia não somente o texto em função de uma concretude maior, mas
de uma unidade temática mais articulada e atada, tendo em vista que ela poderia
direcionar de maneira mais objetiva o leitor.
Na
reescrita, vemos a diferença de como a aplicação da concretude nesses aspectos
funciona bem e trabalha diretamente com a unidade temática dentro dessa
proposta. Na reescrita, o aluno consegue dar não somente a devida concretude,
mas também consegue afirmar o seu tema e deixar ele muito mais claro e
direcionado, de modo que o autor consiga saber exatamente o que é esse processo.
Guedes afirma (2009) que só vale à pena descrever algo caso seja para
equacionar algum problema. Em outras palavras, a descrição tem que fazer
sentido para o leitor, ou seja, deve-se estar explícito no texto o “para que” da descrição, isto é, que
conhecimento o leitor vai adquirir ao ler o texto. O “para que” é o questionamento
da descrição. Nesta avaliação, vemos por final que o aluno consegue responder
claramente o “para que” através das qualidades
discursivas supracitadas e, principalmente, consegue responder explicitamente o
“para que” logo pelo tema de sua proposta.
AVALIAÇÃO
NÚMERO 4 – MEMÓRIA LITERÁRIA
(Aluno 92)
A memória literária se constitui
como uma grande ponte em termos de noções de produção textuais. Portanto, uma
memória “comum” pode abrangir todas as qualidades discursivas de Guedes,
entretanto, a memória literária abrange noções específicas de cunho científico.
Nesse ponto, a realização desta tarefa é uma grande ponte onde o aluno, já
situado nas concepções básicas de produção textual, vai ter a sua primeira
experiência de um cunho científico – neste caso, de um molde mais próximo a
produção de um artigo.
Com isso, a memória literária possui
algumas especificidades que o aluno cumpriu muito bem. Perceba como além das
qualidades discursivas já referidas, o texto consegue dialogar com uma escrita
acadêmica a subjetividade e a objetividade requeridas pela proposta. Enquanto
de um lado o aluno trabalha com a subjetividade requerida pelo teor pessoal da
proposta, ao mesmo tempo ele trabalha a objetividade requerida pelo teor
teórico requerido pela mesma. Ao contrário das outras propostas, podemos
realizar a mesma crítica contundente tanto para a escrita quanto a reescrita,
tendo em vista que esses dois imperativos da proposta são muito bem cumpridos
pelo aluno. De fato, temos nesta proposta o maior sinal de avanço do aluno,
onde ele parece ter compreendido de maneira geral todas as dinâmicas que
envolvem a produção textual.
AVALIAÇÃO
NÚMERO 5 – ARTIGO DE OPINIÃO
(Aluno 94)
Analisaremos agora mais um texto do
aluno 94, neste caso, um artigo. A proposta era desenvolver um artigo,
posicionando-se e argumentando em prol de sua opinião. O tema foi delimitado: tempo.
O autor decidiu dissertar sobre o a carga horária e divisão do tempo nas
universidades brasileiras, tendo em vista que o próprio autor do artigo é um
estudante universitário.
O autor desenvolve a ideia de que o
padrão de tempo exigido pelas universidades no Brasil é muito alto, fazendo com
que os alunos não aproveitem o tempo e conhecimento ofertado na instituição,
mas, sim, apenas sobrevivam dentro dela.
A objetividade e concretude do
artigo em questão me parecem evidente. O autor problematiza a questão do tempo
de maneira incisiva e apresenta um estudo para dar base a sua argumentação.
Como ressalva é interessante notar que a portaria ministerial e sua ideia de
carga horária que equivale a tempo de aprendizado é mencionada no final do
texto, de maneira superficial. Faltam também as referências usadas na pesquisa,
porém veremos que na segunda versão do mesmo texto, tais problemas recebem a
devida atenção.
Ao reescrever o artigo, o aluno
presta mais atenção a organização do texto, facilitando a leitura. Os pontos
principais já discutidos aqui permanecem, e a menção à portaria ministerial do
fim do texto é melhor desenvolvida e as referências são colocadas como as
normas demandam.
Em suma, o texto é objetivo e não
perde o fio de sua argumentação. Há de ser considerado, porém, como o autor
pode trazer mais argumentos para sua dissertação. O artigo, apesar de bem
escrito e colocado, peca pela falta de mais argumentos contundentes. Ainda
assim, fica muito bem evidente o avanço do aluno nas escritas.
5.
Conclusões
Analisando as escritas e reescritas
dos dois alunos, torna-se claro um avanço não somente em relação à V1 e a RE de
cada tarefa, como também um avanço contínuo entre cada tarefa. Perceba como, no
começo, algumas qualidades discursivas essenciais para uma produção textual
como unidade temática e objetividade eram deixadas de lado pelos dois alunos.
Agora, perceba como, no decorrer das reescritas e das demais avaliações, essas
mesmas qualidades foram sendo assimiladas e expostas nos textos de uma maneira
natural e clara. Podemos atestar isso lendo somente as escritas dos alunos (V1),
onde, mesmo sem o feedback da
ministrante da cadeira, os alunos ainda assim já desenvolviam ao decorrer das avaliações
certas noções das qualidades discursivas. Isso acontece não somente por uma
evolução natural decorrente da prática da escrita, mas principalmente pelo fato
de que os alunos assimilaram os ensinamentos precisos da professora ao longo do
curso, de modo que eles entendessem a essência de cada proposta.
Perceba, por exemplo, como o aluno 94, que em seu primeiro texto sequer fez um texto com unidade
temática e no entanto, logo na segunda tarefa, já apresentou a unidade temática
– ainda que ela se perdesse em alguns aspectos. O mesmo podemos falar para o
aluno Aluno 92, perceba como a própria escrita e reescrita da terceira
avaliação demonstra uma evolução brusca. A primeira versão já era constituída
em partes por qualidades discursivas bem expostas, mas na reescrita isso se
tornou de forma mais clara ainda: ele havia aprendido a produzir academicamente
com base nessas qualidades e com as devidas críticas precisas da ministrante da
cadeira.
Mas como isso ocorreu? Para
responder isso, recorreremos às palavras de Rottava (2012), que descreve em seu
artigo sobre como a leitura em contexto acadêmico é expressa em uma síntese
apropriada para este artigo. Podemos destacar o embasamento bakhiniano em o seu
artigo, onde ela ressalta que:
Quando o sujeito-leitor está
empenhado em uma tarefa de leitura, ele se insere em um contexto social que
possui diferentes práticas de uso da linguagem, desempenhando determinados
papéis. Na comunidade, cada sujeito-leitor possui experiência com as práticas de
leitura que se diferem cultural e socialmente das experiências de outros
sujeitos. Ademais, o grau de envolvimento que os sujeitos leitores têm em uma
determinada comunidade varia de acordo com o papel que a leitura tem nessa
comunidade discursiva. Como consequência, uma comunidade discursiva formada por
alunos de um determinado curso de graduação pode ter aspectos comuns, outros,
porém, característicos de sua área. (ROTTAVA, 2012, pág. 165).
Torna-se claro, então, que a
evolução dos alunos tem fundamento em uma construção de sentidos gerada pela
exposição de práticas de leituras e produções acadêmicas. Antes, os alunos não
estavam aptos para a plena realização das produções acadêmicas adequadas pela
falta de experiências suficientes para a assimilação destas concepções de
linguagem. Dessa maneira, confirma-se, aliado aos dados analisados e coletados
da pesquisa, de que de fato, a carência dos alunos se dava por uma questão de
letramento, onde a exposição com estas estruturas de linguagem por parte deles
não existia, fazendo-os, normalmente, a recorrerem e fundamentarem suas
concepções de acordo com o ambiente em que eles viviam. Com isso, o avanço se
justifica não somente pela exposição dos conhecimentos teóricos de Guedes, mas
pela exposição geral de concepções acadêmicas de letramento/leitura.
Conclue-se que os alunos
assimilaram essas novas práticas de leitura e produção textual, fazendo-os
mudarem as suas concepções de letramento de quando ingressaram e quando terminaram
o semestre. É ressaltar como síntese, então, que os grandes motivos das
deficiências apontadas por Rottava em seu artigo supracitado, para nós, são
justamente essas concepções de letramento naturalmente limitadas em razão da
sua pouca exposição com demais concepções e conceitos, além, claro, de suas
práticas.
Referências
Bibliográficas
COIMBRA GUEDES, Paulo.
Da Redação à Produção textual: o ensino
da escrita. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
ROTTAVA, Lucia.
A Leitura em Contexto Acadêmico: o processo
de construção de sentidos de alunos do primeiro semestre do curso de letras.
Santa Cruz do Sul: Signo, 2012.
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