Aluno 95
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Quando era mais jovem, estava em dúvida em qual carreira seguir. Como gosto de línguas estrangeiras, um amigo sugeriu a carreira diplomática. Ao ouvir esta pela primeira vez, achei interessante, mas não sabia nada sobre a atividade. Para me inteirar sobre o assunto, pesquisei e descobri um livro chamado “Diário de bordo: um voo com destino à carreira diplomática”. Trata-se de um ensaio autobiográfico no qual a autora descreve sua jornada até tornar-se diplomata, depois de sete anos como aeromoça. Diário de bordo é o nome do documento em que os principais acontecimentos da viagem são anotados pelo comandante do transporte utilizado no trecho percorrido. A autora, Claudia Assaf, utiliza esse documento como metáfora para descrever sua vida.
A primeira vez que li, tinha dezesseis anos de idade,. O livro era demasiado complexo. Muito do conteúdo não fazia sentido, era cansativo e confuso. Faltava-me conhecimento línguístico para conceituar as palavras, muitas delas, desconhecidas.
Sobre conhecimento de mundo, era um zero à esquerda, pois possuía muito pouca experiência social. Como cresci em um sítio e não tinha muitos amigos, meu convívio com outras pessoas foi limitado até os dezesseis anos, quando entrei para a faculdade. Essa foi também a época que li o livro pela primeira vez. Há uma passagem no livro que a autora descreve sobre como as pessoas de Daca faziam suas necessidades fisiológicas ao ar livre, no meio do campo (página 43). Nesse trecho até ri imaginando as cabeças de várias pessoas espalhadas ao longo dos campos, enquanto olhava-as de dentro do trem. Uma plantação de homens e mulheres.
Na segunda leitura, doze anos mais tarde, minha compreensão foi muito melhor. Sobre o conhecimento linguístico, já havia acrescentado muitas às palavras ao meu léxico, de modo que o biografia me pareceu mais coesa e clara. Contudo, o que mais vislumbrou-me ao completar a segunda leitura foi como a mudança no meu conhecimento de mundo influenciou no meu aprendizado ao concluir a obra. Já tinha maior conhecimento adquirido ao longo da vida: ensino superior, especialização, tempo de convivência social (amigos, família, colegas de trabalho, entre outros) e muitos outros livros na bagagem.
A autora trata principalmente de problemas sociais em seu livro. Ela viajou o mundo todo, enquanto trabalhava como aeromoça em uma companhia árabe, descobrindo assim as desigualdades sociais a nível mundial. Aos dezesseis anos de idade, passava batido por esses assuntos, pois achava-os chatos. Envergonho-me de dizer, mazelas sociais como prostituição, por exemplo, na minha cabecinha infantilóide, era um emprego que algumas mulheres tinham por diversão. No trecho onde a autora fala sobre a grande quantidade de prostitutas em Amsterdam, achei engraçado na primeira vez. Na segunda, foi como se pudesse sentir a tristeza da autora ao ver que muitas mulheres precisavam submeter-se aquele tipo de tratamento. Senti-me um idiota de ter pensado diferente em algum momento da vida. Sobre o trecho de Daca, a autora reflete sobre a necessidade da conscientização para o dia mundial do banheiro, o qual eu achava ridículo. Pensava que era mais importante preocupar-se com terrorismo e acabar com guerras a dar banheiros para quem não tem. Hoje vejo que isso é uma questão de dignidade humana.
Desse modo, a segunda compreensão mexeu muito mais comigo. Agora sou, principalmente, mais atento às causas sociais.
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