quarta-feira, 13 de julho de 2016

ANÁLISE DA DIFICULDADE COM UNIDADE TEMÁTICA E CONCRETUDE EM TEXTOS DE ALUNAS DO PRIMEIRO SEMESTRE DE LETRAS

Aluno 81
Aluno 83

RESUMO: Este artigo é uma análise dos textos produzidos por duas alunas na cadeira de Leitura e Produção Textual. Visa perceber a evolução de seus textos ao longo do semestre, utilizando para isto o referencial teórico da disciplina. Por meio de uma pesquisa qualitativa foram discutidos os problemas que os textos apresentaram no que diz respeito às qualidades discursivas, dentre as quais destacou-se a unidade temática e a concretude como as principais dificuldades das alunas. Também são apresentados os conceitos utilizados para esta análise e que foram discutidos ao longo do semestre. Após essa tarefa é perceptível a melhora das alunas na construção de seus trabalhos com o auxílio de textos de apoio e leituras feitas em sala de aula.
Palavras-chave: Produção Textual; Qualidades Discursivas; Letras; Unidade temática; Concretude.

INTRODUÇÃO
            O objetivo deste artigo é analisar os textos feitos na cadeira de Leitura e Produção Textual pelas alunas A e B. Durante o semestre foram realizadas cinco atividades: apresentação pessoal, narração de um evento marcante, descrição de um processo, memorial de leitura e um artigo de opinião; todas elas incluíam a reescrita e algumas foram lidas em sala de aula e comentadas pelos alunos para que conseguissem reescrever seus textos de acordo com as leituras teóricas.
Analisamos todos os textos, comparando primeira versão e reescrita, para observar a evolução que as alunas tiveram na produção de textos e entender como este processo ocorreu. Os problemas encontrados pelas alunas foram, dentre todas as qualidades discursivas (unidade temática, concretude, objetividade e questionamento), a fuga da unidade temática e a falta de concretude, portanto, focamos neste artigo somente estes dois aspectos a fim de compreender por que seus textos apresentavam esses problemas e como eles foram superados ao longo do semestre.
Este trabalho será estruturado em seis partes. A primeira introduz a fundamentação teórica. A segunda explica a metodologia que utilizaremos para analisar os trabalhos junto a uma breve explicação de como funcionaram as atividades ao longo do semestre. A terceira analisa os dados e faz uma breve conclusão sobre a disciplina. Por último, seguem os anexos que contém as tarefas realizadas pelas alunas.
REVISÃO TEÓRICA
O texto expressa ideias. Segundo Platão e Fiorin (2006, p.3): "um texto é, pois, um todo organizado de sentido [...] é um conjunto formado por partes solidárias, ou seja, que o sentido de uma parte depende das outras, produzido por um sujeito num dado espaço e num dado tempo (p.3). O significado de uma parte do texto não é autônomo, mas depende das outras partes com que se relaciona (PLATÃO E FIORIN, op.cit). Para que ocorra essa relação é preciso que um texto apresente coerência e coesão textual.
A coerência é a harmonia de sentido, onde não há nada contraditório, nenhuma frase estará desconexa, não é um amontoado de frases, sem ligação alguma entre elas, todas estão relacionadas entre si. Por sua vez, a coesão textual é importante, uma vez que ela faz a conexão de palavras, frases ou expressões num texto. De acordo com Koch e Travaglia (1989, p.13) “a coesão é apresentada pelo uso de elementos linguísticos, como pronomes, advérbios, verbos”, que unem as orações umas as outras, dando sentido ao que se está lendo. Ao usar estes conectores coesivos, é preciso também que haja coerência entre as palavras para que o texto faça sentido.
            Um texto também é uma forma de retratar a sociedade vigente naquele momento. Cabe ao escritor colocar o seu ponto de vista no papel para dizer a realidade de seu grupo social, na sua concepção (PLATÃO E FIORIN, 2006, p. 5).
            A produção textual é a ação de escrever um texto. Ela deve produzir uma "imagem" ao seu leitor (GUEDES, 2009, p.91), criando veracidade em tudo que é lido. Uma produção textual deve conter um conjunto de características, elas vão determinar a relação que o texto vai estabelecer com os leitores por meio do diálogo e que não será feita apenas com eles, mas também com os textos que vieram antes dessa leitura (GUEDES, 2009, p.94). Essas características são chamadas de Qualidades Discursivas, e dividem-se em: unidade temática, concretude, questionamento e objetividade.
            Este artigo aborda dois conceitos fundamentais para a escrita de um texto, a unidade temática e a concretude.
            Segundo Guedes (2009, p.59), a unidade temática dá um rumo para o leitor/ouvinte de um texto, para que esse se oriente no trabalho e possa atribuir sentido a cada uma das palavras que ele lê e de estabelecer uma relação entre elas. Ainda de acordo com Guedes (2009, p.59), a mudança sucessiva de temas dentro de um texto acaba por confundir seu leitor, que fica formulando sucessivas hipóteses sobre qual seria a unidade temática do texto e sente-se frustrado por não conseguir assimilar do que o autor está falando. Sem a unidade temática, o texto acaba por ficar em desordem ou ficará uma lista, falando de muitas coisas ao mesmo tempo e não dizendo muito de coisa alguma.
            A concretude é a garantia de que a mensagem trazida pelo escritor, será entendida pelo leitor, a respeito dos sentidos e valores que o autor atribuiu aos recursos utilizados em seu texto (GUEDES, 2009, p.99). Na concretude é importante o uso de termos concretos, e não abstratos, que podem significar mais de uma coisa, e que irá atrapalhar o entendimento e interpretação do leitor.
            Após aprendermos sobre os conceitos que formam um texto, é importante ressaltar outra atividade feita ao longo do semestre, que foram as leituras feitas em sala de aula.
As práticas de leitura em sala de aula têm cunho social, de acordo com Kleiman (1995, p.10): "a leitura é um ato social, entre o leitor e escritor, estabelecendo objetivos e necessidades socialmente determinados". Sendo assim, a leitura em sala de aula é um processo interativo, onde ler irá desempenhar uma tarefa comunicativa com um propósito real, sendo esse processo real determinado socialmente pelas necessidades de leitura que os aprendizes deparam (ROTTAVA, 1998, p.62).
            O ato de ler já teve mais de uma interpretação ao longo dos anos. Na década de 60, era entendido como uma atividade ascendente (bottom-up), em que ler era extrair a decodificação dos elementos linguísticos do texto, e o processo de leitura era resultante da interação do leitor com os elementos linguísticos, textuais e discursivos de um texto (ROTTAVA, 1998, p.62).
            Nos anos 70, ler era uma atividade ascendente (top down), onde o processo de leitura era atribuir sentido ao texto. A leitura era feita usando o conhecimento prévio de mundo, enciclopédico e de leituras anteriores (ROTTAVA, 1998, p.62).
            Já a partir dos anos 80, a leitura passou a ser descrita como um processo interativo (ROTTAVA, 1998, p.62). O leitor interage com os elementos linguísticos, textuais e discursivos do texto, além de usar seu conhecimento prévio de mundo e de leitura para um entendimento do texto. Por ser um processo dinâmico, Rottava(1998) diz:
"Os leitores podem fazer diferentes leituras sempre que estiverem imbuídos de um novo propósito ou quando as leituras forem discutidas com diferentes interlocutores." (p.62).
            Portanto ao ler um texto em coletivo, é possível ver outras interpretações daquela leitura, que servirá para a construção de um novo conhecimento.
METODOLOGIA
Este artigo é uma pesquisa de natureza qualitativa. Os dados utilizados para análise neste trabalho são os textos escritos pelas alunas A e B durante o primeiro semestre do curso de Letras na disciplina de Leitura e Produção Textual. Foram realizadas cinco atividades: apresentação pessoal, narração de um momento marcante, descrição de um processo, memorial de leitura e um artigo de opinião. As tarefas ocorreram da seguinte forma: primeiramente era apresentada a proposta pela professora e tínhamos acesso a textos dos alunos que já tinham feito esta cadeira através do blog que a professora e as monitoras mantêm, entregávamos o texto e era feita uma aula expositiva sobre os textos de teoria que nos ajudavam a entender as qualidades discursivas e os gêneros textuais, após a discussão teórica os textos eram lidos em sala de aula para todos os alunos e eram comentados pelos mesmos. A partir das leituras teóricas, do parecer feito pelas monitoras e dos comentários feitos em sala de aula pelos colegas, o aluno reescrevia seu texto e o entregava com a primeira versão, o parecer, um diário dialogado (onde o aluno tinha um espaço livre para falar com a professora e também justificar teoricamente as alterações feitas na reescrita) e os critérios de avaliação da atividade.
Tarefas
Títulos
Primeira entrega
Última entrega
Conceitos
Aluna A
Aluna B
Aluna A
Aluna B
T 1
Sem título
“Viver verbo intransitivo”
10/03/2016
18/04/2016
C
C
T2
“A chegada de um irmão”
“O valor da vida”
18/04/2016
16/05/2016
B+
B+
T3
“Como comer uma trufa  no ônibus D43”
“Manual de como tirar o sutiã debaixo da roupa, para os dias mais frios”
05/05/2016
23/05/2016
A
B
T4
“Minha experiência de leitura na escola”
Sem título
13/06/2016
20/06/2016
A
B
T5
“As dificuldades do aluno para dificultar seu tempo”
“Por que o tempo no final do semestre é tão curto?”
20/06/2016
27/06/2016
C+
B-
Tabela 1: conceitos das alunas.

Ao início do semestre aprendemos sobre as qualidades discursivas, unidade temática, concretude, questionamento e objetividade. Neste trabalho serão avaliados os conceitos de unidade temática e concretude das alunas A e B, pois estes foram os que elas tiveram dificuldades em seus textos.
             Unidade temática, segundo Guedes (2009, p.95) é a delimitação de um tema e/ou assunto. A unidade temática é necessária, pois se tratar de tudo um pouco em um texto é a mesma coisa que tratar de tudo muito pouco, e que não irá resultar em um texto, mas sim numa lista de dados, que não vai compor um todo, pois sem estabelecer uma ordem para as coisas não vai haver uma interlocução com o leitor.
            A concretude é a apresentação de um tema com palavras que não tragam "imagens" abstratas para o leitor, é preciso usar um termo concreto, que facilite a compreensão do leitor/ouvinte sobre o tema escolhido. A utilização de termos abstratos, acabando que o texto fala de generalidades e de noções que apresentam para os leitores significados compartilhados, como semelhança (GUEDES, 2009, p.99).
            A primeira tarefa do semestre era redigir um texto de apresentação pessoal, todas as qualidades discursivas seriam cobradas pela professora, e tanto a aluna A como a aluna B, tiveram dificuldade em apresentar a unidade temática e concretude. Na análise da primeira versão escrita pela aluna A vemos que a falta de unidade temática é perceptível. Ela fala de mais de um tema, como no seguinte trecho:
(01) "[...] moro em Porto Alegre e sempre estudei em escola publica. Acredito que ter estudado na rede publica fez com que eu pudesse perceber o papel social de um professor". A, 1ªv.
Neste trecho a aluna começa falando sobre o fato de ela ter estudado em uma escola pública. Já no trecho seguinte muda de tema, começando a tratar de seu interesse pela licenciatura:
(02) "Sempre tive muito interesse pela licenciatura, pois ao longo de minha vida escolar tive alguns professores como ídolos. Esses professores exerceram um papel muito importante em minha vida e, muitas vezes, influenciaram positivamente as minhas escolhas."  A,1ª.
            Já no terceiro trecho destacado, o tema é o fato de ela ter escolhido estudar o curso de Letras:
(03)"Escolhi o curso de Letras por amar a literatura e me interessar por aprender novas línguas e, consequentemente, novas culturas". A, 1ªv.
Ou seja, a aluna trata de muitos temas em um mesmo texto, não há uma interlocução com o leitor (GUEDES, 2009, p.95), e mesmo que este texto possua coerência, coesão textual e se trate de uma produção textual, a qualidade discursiva da unidade temática não é apresentada, o que faz o leitor se perguntar: “do que ela está falando? Seria do fato dela ter estudado em uma escola pública? Ou pelo seu interesse pela licenciatura? Ou ainda a escolha do curso de Letras pelo seu amor a literatura?”.
            Na segunda versão de seu texto, a aluna A utiliza o mesmo processo, e não consegue descrever apenas uma unidade temática. O texto começa com a escolha da aluna em estudar Letras, mas já no segundo parágrafo desvia da unidade, como no trecho abaixo:
(4)"Minhas opções anteriores de curso eram psicologia e assistência social, sempre sonhei em poder ajudar as pessoas de alguma forma e acredito que com essas profissões eu teria essa oportunidade." A, 2ªv.
           
No parágrafo abaixo, a aluna desvia sua unidade temática, e fala sobre seu sonho de ajudar as pessoas, o que desvia do tema proposto por ela, no parágrafo anterior:
(5) "Durante os anos de escola sonhava em dar aulas por que tinha muita admiração por alguns professores, mas encarava isso como algo assombroso na realidade por que através da minha mãe, professora do estado, tive contato com o pior lado de lecionar ao acompanhar seus problemas diários." A, 2ªv.
            Já neste trecho o foco, novamente, muda, e a aluna trata de sua admiração pelos seus professores e o medo de vir a se tornar uma. Podemos ver como a aluna acaba por descrever mais um processo histórico sobre sua escolha do curso de Letras, do que uma apresentação pessoal.
            A aluna B, em sua primeira versão da apresentação pessoal, usou termos abstratos, que causam subjetividade ao texto e a falta de unidade temática. Esses problemas estão visíveis em passagens como:
(6) "A montanha se torna uma pequena subida na rua que. não, nada se compara ao encarar o Vale da Morte." e "Oh, estrada! BELA E TORTUOSA estrada. Cá estou eu, à procura da tua ETERNA busca pelo Paraíso!”. B, 1ªv.
Os dois trechos citados são subjetivos e abstratos. Os conceitos trazidos não são objetivos e não possuem unidade temática. Assim como a aluna A, seu texto é mais um processo histórico do que uma apresentação pessoal. Já na segunda versão, embora o texto consiga ter uma temática constante, os parágrafos ficaram longos.
(7)"Quando eu esboçava uma reação para voltar à Seicho, eu estava dobrando a esquina e já ouvia os pássaros, uma bicicleta veloz e assassina me atropelou, caída no chão e me vendo em pedaços, olhei para o causador daquele acidente, e hoje me lembro bem de ver meu rosto, e nele um sorriso tenebroso e que para mim parecia algo maligno, mas não aceitava que eu tivesse feito aquilo comigo, eu procurei voltar à Igreja e encontrar um INIMIGO que tivesse feito aquilo comigo, mas no fundo eu sempre soube que não existe, e eu sou a provocadora de todas as coisas que me acontecem, as boas, as ruins, são tudo parte da vida, e do que nós queremos de nós mesmos." B, 2ªv.
Tanto a aluna A, quanto a aluna B precisariam rever os conceitos de unidade temática, pois esta qualidade discursiva dificilmente foi encontrada na tarefa de apresentação pessoal.     
A segunda proposta se tratava de descrever um momento de sua vida que lhe trouxe uma lição, e possui o gênero de narrativa, onde o escritor deve situar o tempo da narrativa, o espaço e os personagens. Em sua primeira versão, a aluna A não conseguiu criar um ambiente para situar seu leitor sobre o cenário de sua história, assim como não possuiu uma unidade temática muito clara.
(8) "Era um lindo dia de verão. Meu pai me acorda cedo por que temos que ir ao hospital. Onde estava minha mãe? Era muito estranho ela não estar junto. Chegando ao hospital vimos minha mãe através de um vidro." A, 1ªv.
(9) "Finalmente chegou o momento. Pudemos sair em direção ao carro, mas havia algo de diferente. Minha mãe segurava um embrulho em seus braços, parecia estar cansada e cuidava muito daquilo. Quando sentamos no carro pude perceber que havia uma criança em seus braços." A, 1ªv.
(10) ”Cheguei em casa e esperei que aquela criança fosse deixada de lado. Meus pais me chamaram, me apresentaram ao estranho. Chamava-se Juliano, disseram que era meu irmão. “Mas quando ele vai embora?” Não iria mais embora, moraria conosco a partir daquele momento." A, 1ªv.
            Nestes trechos retirados de cada um dos parágrafos do texto, não possui a unidade temática, que em tese seria o nascimento do bebê, porém a aluna não situa sua história nesse fato, e então o tema se perde. Na segunda versão, a aluna continua sem seguir um tema, além da estrutura de seus parágrafos serem longos e tratarem de muitos assuntos.
(11) "Pergunto se posso convidar minhas vizinhas para brincar no nosso pátio, era um dia tão bom para se brincar na rua e tínhamos um jardim enorme. Mas eu não poderia brincar naquele dia por que estaríamos muito ocupados." A, 2ªv.
(12) "Àquela altura de minha vida, um passeio de carro era o que eu mais gostava, sempre parecia uma aventura, mas até mesmo esse momento que tinha tudo para ser divertido ficou ofuscado pela ansiedade de ir buscar a “mamãe”. Eu gostava de estar com meu pai, tudo parecia uma aventura quando estávamos juntos..." A, 2ªv.
(13) "ele sempre fazia com que as coisas fossem legais para mim até mesmo em momentos que, devido a minha timidez, eu ficava excluída entre crianças, como em aniversários de amigos em que por causa da quantidade de crianças eu acabava me excluindo e indo procurar proteção nos seus braços." A,2ªv.
            Nestes trechos, retirados do primeiro parágrafo, são apresentadas ao leitor diversas ideias sobre o tema, e que pouco acrescentam ao que foi proposto no título. Somente ao final do texto, nos dois últimos parágrafos, é que há uma ligação entre título e texto, formando uma unidade temática, porém no início o leitor poderia ter uma dificuldade de compreensão com o excesso de informações.
            A aluna B na sua primeira versão, não consegue ligar o primeiro parágrafo com o restante do texto, e apesar de apresentar as características de uma narrativa, não consegue uma unidade temática.
(14) "Nossas vidas são feitas de fatos e acontecimentos, que quase nunca nos marcam, ou fazem valer a pena serem ditos. Talvez a aprovação no vestibular, alguma descoberta pessoal, mas um fato, algo que ainda te causa algum sentimento, não consigo lembrar bem, talvez algo recente, que ainda me causa arrepios." B, 1ªv.
(15) "Resido em São Leopoldo, e sempre costumo caminhar em volta do condomínio que moro, mas naquelas duas últimas semanas estava cansada de ficar fazendo voltas sempre no mesmo lugar, e resolvi seguir uma rota diferente, indo caminhar até outro bairro vizinho" B, 1ªv.
            O trecho 14 é o primeiro parágrafo do texto, que não possui ligação alguma com o trecho 15.
(16) "[...] estava retornando para casa quando passei novamente pelo mendigo, e vi um carro parar e dizer que ia ligar para a samu. Minha curiosidade foi maior, e quando olhei bem para aquele mendigo deitado, percebi que ele não estava deitado e sim caído no chão, os olhos esbugalhados e de sua boca saia uma espuma branca. Ele estava morto. B, 1ªv.
            O trecho acima seria a conclusão da caminhada descrita pela aluna.
(17) "Venho passando por um momento pessoal que volto a valorizar a vida, e ver uma ser desperdiçada dessa maneira me deixou incomodada..." B, 1ªv.
            Já na sua conclusão, a aluna B usa termos subjetivos e que não os explica, o que faz que eles não sirvam para a unidade temática.
            Na segunda versão, a subjetividade foi retirada do texto, porém a unidade temática ainda não ficou clara, pois não sabemos se o tema é a caminhada em si, ou o fato de ter encontrado o mendigo morto, que teria levado ao aprendizado para a vida.
(18) "Afinal, qual o valor que eu estava dando para a minha vida? Pensava eu, naquele momento estava retornando para casa, entrando no meu condomínio com um segurança sorrindo para mim, mas eu poderia muito bem morrer no dia seguinte, ou na semana seguinte." B,2ªv.
            O trecho 18, ao contrário do 17, é uma conclusão concreta e de fácil compreensão, que não exige do leitor diversas interpretações, ela é clara e objetiva.
A proposta da tarefa três era a descrição de um processo, mas este processo teria de estar dentro de uma narrativa para não se tornar uma lista de ordens. Nesta tarefa a aluna B conseguiu completar satisfatoriamente, sem apresentar problemas com nenhuma qualidade discursiva, mas a aluna A ainda apresentou problemas em relação à concretude como podemos ver no trecho:
(19) “Subo no D43, que vai em direção à aula do centro.” A, 1ªv.
A referência a esta aula está completamente deslocada no texto, o leitor fica se perguntando “mas que aula é essa?” e “por que esta aula foi mencionada se não serve para nada no texto?”. A aluna poderia explorar mais esta aula, estabelecendo um sentido para ela no texto ou apenas retirá-la. Na reescrita a aluna optou por retirar este trecho e acrescentar um elemento que tinha relação com o restante do parágrafo que introduzia seu texto:
(20) “Subo no D43 após esperar na fila em baixo de um sol muito quente”. A, 1ª v.
É possível notar que a partir desta tarefa as duas alunas não apresentaram mais problemas com a unidade temática e progrediram muito em relação à concretude de seus textos, pois apenas a aluna A apresentou alguns problemas, que foram superados na reescrita. Essa evolução fica evidente também nos conceitos das alunas, pois nessa atividade a aluna A conseguiu atingir o conceito A e a aluna B atingiu o conceito B.
A proposta da tarefa quatro era escrever um memorial de leitura e deveriam utilizar referencias nos textos. As duas alunas concluíram de forma satisfatória, mas a aluna A apresentou um pequeno problema com a unidade temática por não ter relacionado seus dois temas principais: a leitura na escola com a leitura na universidade. Ela Inicia os seus dois primeiros parágrafos de desenvolvimento da seguinte forma:
(21) “[..] a minha experiência nas leituras escolares foi apenas um exercício de decodificação[...]” A, 1ªv.
(22) “Ao chegar a universidade me deparei com um exercício de leitura completamente estranho para mim.” A, 1ªv.
Em nenhum momento do texto faz uma ligação entre as duas experiências, mas na reescrita acrescenta um último parágrafo para ligar os dois elementos e justificar suas presenças no texto:
(23) “A partir das experiências na universidade pude perceber o quão pobres haviam sido as leituras realizadas na escola. A falta de uma leitura mais critica e reflexiva afetou não somente a minha capacidade de compreensão dos textos, mas também a construção dos conhecimentos adquiridos.” A, 2ªv.
Assim a aluna conseguiu resolver seu problema com a unidade temática e concluiu satisfatoriamente a atividade. O problema da aluna B em relação à esta atividade foi com a formatação do texto e a repetição de alguns termos como “conhecimento linguístico” que estão presente em alguns trecho como no seguinte parágrafo:
(24) “A falta do conhecimento prévio e o ruído no conhecimento lingüístico acarretaram em uma leitura não muito produtiva. Sobre minha experiência com a leitura de 1984, KLEIMAN (1995, p.16) diz que “o conhecimento lingüístico, então é, um componente do chamado conhecimento prévio sem o qual a compreensão não é possível”. B, 1ªv.
A aluna B não conseguiu atingir o conceito máximo por que sua reescrita continuou com problemas de formatação da ABNT.
 A quinta e última proposta foi um artigo de opinião, onde os alunos deveriam fichar, antes do texto, elementos como o tema, problema, hipóteses, argumentos etc. Nesta tarefa a aluna A conseguiu concluir satisfatoriamente todas as qualidades discursivas, apresentando somente problemas com alguns erros de digitação. O que a impediu de tirar um conceito satisfatório nesta tarefa foi não ter desenvolvido suficientemente seus argumentos e ter apresentado erro na ABNT. A aluna B teve problemas relacionados à falta de concretude e falta de fontes em seu texto. O texto apresenta problemas de concretude em alguns trechos como o seguinte:
(25) “O curso de Letras, e em especial os alunos de licenciatura, têm um currículo cheio e bastante exaustivo, em consequência são muitos trabalhos, leituras e provas ao longo de um semestre, porém a pior parte são as últimas semanas” B, 1ªv.
Ao utilizar o termo “currículo cheio” a aluna não nos esclarece o que seria cheio para ela e do que ele é cheio, essas passagens podem deixar o leitor com dúvida por que são muito abstratas. Outro termo utilizado pela aluna é “super aluno”, mas não é explicado para o leitor o que é esse super aluno e por que ele é considerado um super aluno.
Nesta tarefa, ambas as alunas não conseguiram tirar o conceito máximo, ficando a aluna B com conceito B e a aluna A com conceito C+. 
CONCLUSÃO
Após esta análise, percebemos que as alunas melhoraram seu entendimento sobre unidade temática e concretude, pois as leituras feitas em sala de aula auxiliaram na compreensão de seus problemas e na construção do conhecimento das qualidades discursivas. A evolução das mesmas é perceptível a ponto de que os comentários sobre os textos feitos neste artigo possuem uma melhora significativa.
Durante o semestre na cadeira de Leitura e Produção Textual, por conta das leituras feitas em sala de aula foi possível obter um maior entendimento sobre os conceitos de texto e suas qualidades discursivas. Os conhecimentos adquiridos nesta disciplina serão úteis durante todo o curso de Letras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
GUEDES, P. C. Da redação à produção textual: o ensino da escrita. São Paulo: Parábola Editora, 2009.
ROTTAVA, L. A Leitura e a Escrita na Pesquisa e no Ensino. Espaços da Escola, Ijuí, Editora UNIJUÍ, a. 4, n. 27, jan.-mar. 1998, p 61-68.
PLATÃO, F & FIORIN, J.L. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Atila, 2006.
KLEIMAN, A. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Pontes, 1995.
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