Aluno 81
Aluno 83
RESUMO: Este artigo é uma análise dos textos produzidos por duas
alunas na cadeira de Leitura e Produção Textual. Visa perceber a evolução de
seus textos ao longo do semestre, utilizando para isto o referencial teórico da
disciplina. Por meio de uma pesquisa qualitativa foram discutidos os problemas
que os textos apresentaram no que diz respeito às qualidades discursivas,
dentre as quais destacou-se a unidade temática e a concretude como as principais
dificuldades das alunas. Também são apresentados os conceitos utilizados para
esta análise e que foram discutidos ao longo do semestre. Após essa tarefa é
perceptível a melhora das alunas na construção de seus trabalhos com o auxílio
de textos de apoio e leituras feitas em sala de aula.
Palavras-chave: Produção Textual; Qualidades Discursivas; Letras; Unidade
temática; Concretude.
INTRODUÇÃO
O
objetivo deste artigo é analisar os textos feitos na cadeira de Leitura e
Produção Textual pelas alunas A e B. Durante o semestre foram realizadas cinco
atividades: apresentação pessoal, narração de um evento marcante, descrição de
um processo, memorial de leitura e um artigo de opinião; todas elas incluíam a
reescrita e algumas foram lidas em sala de aula e comentadas pelos alunos para
que conseguissem reescrever seus textos de acordo com as leituras teóricas.
Analisamos todos os textos, comparando
primeira versão e reescrita, para observar a evolução que as alunas tiveram na
produção de textos e entender como este processo ocorreu. Os problemas
encontrados pelas alunas foram, dentre todas as qualidades discursivas (unidade
temática, concretude, objetividade e questionamento), a fuga da unidade
temática e a falta de concretude, portanto, focamos neste artigo somente estes
dois aspectos a fim de compreender por que seus textos apresentavam esses
problemas e como eles foram superados ao longo do semestre.
Este trabalho será estruturado em seis partes. A primeira
introduz a fundamentação teórica. A segunda explica a metodologia que
utilizaremos para analisar os trabalhos junto a uma breve explicação de como
funcionaram as atividades ao longo do semestre. A terceira analisa os dados e faz
uma breve conclusão sobre a disciplina. Por último, seguem os anexos que contém
as tarefas realizadas pelas alunas.
REVISÃO TEÓRICA
O texto expressa ideias. Segundo Platão e Fiorin
(2006, p.3): "um texto é, pois, um todo organizado de sentido [...] é um
conjunto formado por partes solidárias, ou seja, que o sentido de uma parte
depende das outras, produzido por um sujeito num dado espaço e num dado tempo
(p.3). O significado de uma parte do texto não é autônomo, mas depende das
outras partes com que se relaciona (PLATÃO E FIORIN, op.cit). Para que ocorra
essa relação é preciso que um texto apresente coerência e coesão
textual.
A coerência é a harmonia de sentido, onde não há
nada contraditório, nenhuma frase estará desconexa, não é um amontoado de
frases, sem ligação alguma entre elas, todas estão relacionadas entre si. Por
sua vez, a coesão textual é importante, uma vez que ela faz a conexão de
palavras, frases ou expressões num texto. De acordo com Koch e Travaglia (1989,
p.13) “a coesão é apresentada pelo uso de elementos linguísticos, como
pronomes, advérbios, verbos”, que unem as orações umas as outras, dando sentido
ao que se está lendo. Ao usar estes conectores coesivos, é preciso também que
haja coerência entre as palavras para que o texto faça sentido.
Um texto também é uma forma de
retratar a sociedade vigente naquele momento. Cabe ao escritor colocar o seu
ponto de vista no papel para dizer a realidade de seu grupo social, na sua
concepção (PLATÃO E FIORIN, 2006, p. 5).
A produção textual é a ação de
escrever um texto. Ela deve produzir uma "imagem" ao seu leitor
(GUEDES, 2009, p.91), criando veracidade em tudo que é lido. Uma produção
textual deve conter um conjunto de características, elas vão determinar a relação
que o texto vai estabelecer com os leitores por meio do diálogo e que não será
feita apenas com eles, mas também com os textos que vieram antes dessa leitura
(GUEDES, 2009, p.94). Essas características são chamadas de Qualidades Discursivas, e dividem-se em:
unidade temática, concretude, questionamento e objetividade.
Este artigo aborda dois conceitos
fundamentais para a escrita de um texto, a unidade temática e a concretude.
Segundo Guedes (2009, p.59), a
unidade temática dá um rumo para o leitor/ouvinte de um texto, para que esse se
oriente no trabalho e possa atribuir sentido a cada uma das palavras que ele lê
e de estabelecer uma relação entre elas. Ainda de acordo com Guedes (2009,
p.59), a mudança sucessiva de temas dentro de um texto acaba por confundir seu
leitor, que fica formulando sucessivas hipóteses sobre qual seria a unidade
temática do texto e sente-se frustrado por não conseguir assimilar do que o
autor está falando. Sem a unidade temática, o texto acaba por ficar em desordem
ou ficará uma lista, falando de muitas coisas ao mesmo tempo e não dizendo
muito de coisa alguma.
A concretude é a garantia de que a
mensagem trazida pelo escritor, será entendida pelo leitor, a respeito dos
sentidos e valores que o autor atribuiu aos recursos utilizados em seu texto
(GUEDES, 2009, p.99). Na concretude é importante o uso de termos concretos, e
não abstratos, que podem significar mais de uma coisa, e que irá atrapalhar o
entendimento e interpretação do leitor.
Após aprendermos sobre os conceitos
que formam um texto, é importante ressaltar outra atividade feita ao longo do
semestre, que foram as leituras feitas em sala de aula.
As práticas de leitura em sala de aula têm cunho
social, de acordo com Kleiman (1995, p.10): "a leitura é um ato social,
entre o leitor e escritor, estabelecendo objetivos e necessidades socialmente
determinados". Sendo assim, a leitura em sala de aula é um processo
interativo, onde ler irá desempenhar uma tarefa comunicativa com um propósito
real, sendo esse processo real determinado socialmente pelas necessidades de
leitura que os aprendizes deparam (ROTTAVA, 1998, p.62).
O ato de ler já teve mais de uma
interpretação ao longo dos anos. Na década de 60, era entendido como uma
atividade ascendente (bottom-up), em que ler era extrair a decodificação dos
elementos linguísticos do texto, e o processo de leitura era resultante da
interação do leitor com os elementos linguísticos, textuais e discursivos de um
texto (ROTTAVA, 1998, p.62).
Nos anos 70, ler era uma atividade
ascendente (top down), onde o processo de leitura era atribuir sentido ao
texto. A leitura era feita usando o conhecimento prévio de mundo, enciclopédico
e de leituras anteriores (ROTTAVA, 1998, p.62).
Já a partir dos anos 80, a leitura
passou a ser descrita como um processo interativo (ROTTAVA, 1998, p.62). O
leitor interage com os elementos linguísticos, textuais e discursivos do texto,
além de usar seu conhecimento prévio de mundo e de leitura para um entendimento
do texto. Por ser um processo dinâmico, Rottava(1998) diz:
"Os leitores podem fazer diferentes leituras sempre que estiverem
imbuídos de um novo propósito ou quando as leituras forem discutidas com
diferentes interlocutores." (p.62).
Portanto
ao ler um texto em coletivo, é possível ver outras interpretações daquela
leitura, que servirá para a construção de um novo conhecimento.
METODOLOGIA
Este artigo é uma pesquisa de natureza
qualitativa. Os dados utilizados para análise neste trabalho são os textos
escritos pelas alunas A e B durante o primeiro semestre do curso de Letras na disciplina
de Leitura e Produção Textual. Foram realizadas cinco atividades: apresentação
pessoal, narração de um momento marcante, descrição de um processo, memorial de
leitura e um artigo de opinião. As tarefas ocorreram da seguinte forma:
primeiramente era apresentada a proposta pela professora e tínhamos acesso a
textos dos alunos que já tinham feito esta cadeira através do blog que a
professora e as monitoras mantêm, entregávamos o texto e era feita uma aula
expositiva sobre os textos de teoria que nos ajudavam a entender as qualidades
discursivas e os gêneros textuais, após a discussão teórica os textos eram
lidos em sala de aula para todos os alunos e eram comentados pelos mesmos. A
partir das leituras teóricas, do parecer feito pelas monitoras e dos
comentários feitos em sala de aula pelos colegas, o aluno reescrevia seu texto
e o entregava com a primeira versão, o parecer, um diário dialogado (onde o
aluno tinha um espaço livre para falar com a professora e também justificar
teoricamente as alterações feitas na reescrita) e os critérios de avaliação da
atividade.
Tarefas
|
Títulos
|
Primeira
entrega
|
Última
entrega
|
Conceitos
|
||
Aluna
A
|
Aluna
B
|
Aluna
A
|
Aluna
B
|
|||
T 1
|
Sem título
|
“Viver verbo intransitivo”
|
10/03/2016
|
18/04/2016
|
C
|
C
|
T2
|
“A chegada de um irmão”
|
“O valor da vida”
|
18/04/2016
|
16/05/2016
|
B+
|
B+
|
T3
|
“Como comer uma trufa no ônibus D43”
|
“Manual de como tirar o sutiã debaixo
da roupa, para os dias mais frios”
|
05/05/2016
|
23/05/2016
|
A
|
B
|
T4
|
“Minha experiência de leitura na escola”
|
Sem título
|
13/06/2016
|
20/06/2016
|
A
|
B
|
T5
|
“As dificuldades do aluno para
dificultar seu tempo”
|
“Por que o tempo no final do semestre é
tão curto?”
|
20/06/2016
|
27/06/2016
|
C+
|
B-
|
Tabela 1: conceitos das alunas.
Ao início do semestre aprendemos sobre as
qualidades discursivas, unidade temática,
concretude, questionamento e
objetividade. Neste trabalho serão avaliados os conceitos de unidade temática e concretude das alunas A e B, pois estes foram os que elas tiveram
dificuldades em seus textos.
Unidade
temática, segundo Guedes (2009, p.95) é a delimitação de um tema e/ou
assunto. A unidade temática é necessária, pois se tratar de tudo um pouco em um
texto é a mesma coisa que tratar de tudo muito pouco, e que não irá resultar em
um texto, mas sim numa lista de dados, que não vai compor um todo, pois sem
estabelecer uma ordem para as coisas não vai haver uma interlocução com o
leitor.
A concretude é a apresentação de um tema com palavras que não tragam
"imagens" abstratas para o leitor, é preciso usar um termo concreto,
que facilite a compreensão do leitor/ouvinte sobre o tema escolhido. A
utilização de termos abstratos, acabando que o texto fala de generalidades e de
noções que apresentam para os leitores significados compartilhados, como
semelhança (GUEDES, 2009, p.99).
A primeira tarefa do semestre era
redigir um texto de apresentação pessoal, todas as qualidades discursivas
seriam cobradas pela professora, e tanto a aluna A como a aluna B, tiveram
dificuldade em apresentar a unidade
temática e concretude. Na análise
da primeira versão escrita pela aluna A vemos que a falta de unidade temática é
perceptível. Ela fala de mais de um tema, como no seguinte trecho:
(01) "[...] moro em Porto Alegre e sempre estudei em escola
publica. Acredito que ter estudado na rede publica fez com que eu pudesse
perceber o papel social de um professor". A, 1ªv.
Neste trecho a aluna começa falando sobre o fato
de ela ter estudado em uma escola pública. Já no trecho seguinte muda de tema,
começando a tratar de seu interesse pela licenciatura:
(02) "Sempre tive muito interesse pela licenciatura, pois ao longo
de minha vida escolar tive alguns professores como ídolos. Esses professores
exerceram um papel muito importante em minha vida e, muitas vezes,
influenciaram positivamente as minhas escolhas." A,1ª.
Já no
terceiro trecho destacado, o tema é o fato de ela ter escolhido estudar o curso
de Letras:
(03)"Escolhi o curso de Letras por amar a literatura e me
interessar por aprender novas línguas e, consequentemente, novas
culturas". A, 1ªv.
Ou seja, a aluna trata de muitos temas em um
mesmo texto, não há uma interlocução com o leitor (GUEDES, 2009, p.95), e mesmo
que este texto possua coerência, coesão textual e se trate de uma produção
textual, a qualidade discursiva da unidade temática não é apresentada, o que
faz o leitor se perguntar: “do que ela está falando? Seria do fato dela ter
estudado em uma escola pública? Ou pelo seu interesse pela licenciatura? Ou
ainda a escolha do curso de Letras pelo seu amor a literatura?”.
Na segunda versão de seu texto, a
aluna A utiliza o mesmo processo, e não consegue descrever apenas uma unidade
temática. O texto começa com a escolha da aluna em estudar Letras, mas já no
segundo parágrafo desvia da unidade, como no trecho abaixo:
(4)"Minhas opções anteriores de curso eram psicologia e assistência social,
sempre sonhei em poder ajudar as pessoas de alguma forma e acredito que com
essas profissões eu teria essa oportunidade." A, 2ªv.
No parágrafo abaixo, a aluna desvia sua unidade
temática, e fala sobre seu sonho de ajudar as pessoas, o que desvia do tema
proposto por ela, no parágrafo anterior:
(5) "Durante os anos de escola sonhava em
dar aulas por que tinha muita admiração por alguns professores, mas encarava
isso como algo assombroso na realidade por que através da minha mãe, professora
do estado, tive contato com o pior lado de lecionar ao acompanhar seus problemas
diários." A, 2ªv.
Já neste
trecho o foco, novamente, muda, e a aluna trata de sua admiração pelos seus
professores e o medo de vir a se tornar uma. Podemos ver como a aluna acaba por
descrever mais um processo histórico sobre sua escolha do curso de Letras, do
que uma apresentação pessoal.
A aluna B, em sua primeira versão da
apresentação pessoal, usou termos abstratos, que causam subjetividade ao texto
e a falta de unidade temática. Esses problemas estão visíveis em passagens
como:
(6) "A montanha se torna uma pequena subida na rua que. não, nada
se compara ao encarar o Vale da Morte." e "Oh, estrada! BELA E
TORTUOSA estrada. Cá estou eu, à procura da tua ETERNA busca pelo Paraíso!”. B,
1ªv.
Os dois trechos citados são subjetivos e
abstratos. Os conceitos trazidos não são objetivos e não possuem unidade
temática. Assim como a aluna A, seu texto é mais um processo histórico do que
uma apresentação pessoal. Já na segunda versão, embora o texto consiga ter uma
temática constante, os parágrafos ficaram longos.
(7)"Quando eu esboçava uma reação para voltar à Seicho, eu estava
dobrando a esquina e já ouvia os pássaros, uma bicicleta veloz e assassina me
atropelou, caída no chão e me vendo em pedaços, olhei para o causador daquele
acidente, e hoje me lembro bem de ver meu rosto, e nele um sorriso tenebroso e
que para mim parecia algo maligno, mas não aceitava que eu tivesse feito aquilo
comigo, eu procurei voltar à Igreja e encontrar um INIMIGO que tivesse feito
aquilo comigo, mas no fundo eu sempre soube que não existe, e eu sou a
provocadora de todas as coisas que me acontecem, as boas, as ruins, são tudo
parte da vida, e do que nós queremos de nós mesmos." B, 2ªv.
Tanto a aluna A, quanto a aluna B precisariam
rever os conceitos de unidade temática, pois esta qualidade discursiva
dificilmente foi encontrada na tarefa de apresentação pessoal.
A segunda proposta se tratava de descrever um
momento de sua vida que lhe trouxe uma lição, e possui o gênero de narrativa,
onde o escritor deve situar o tempo da narrativa, o espaço e os personagens. Em
sua primeira versão, a aluna A não conseguiu criar um ambiente para situar seu
leitor sobre o cenário de sua história, assim como não possuiu uma unidade
temática muito clara.
(8) "Era um lindo dia de verão. Meu pai me acorda cedo por que
temos que ir ao hospital. Onde estava minha mãe? Era muito estranho ela não
estar junto. Chegando ao hospital vimos minha mãe através de um vidro." A,
1ªv.
(9) "Finalmente chegou o momento. Pudemos sair em direção ao carro,
mas havia algo de diferente. Minha mãe segurava um embrulho em seus braços,
parecia estar cansada e cuidava muito daquilo. Quando sentamos no carro pude
perceber que havia uma criança em seus braços." A, 1ªv.
(10) ”Cheguei em casa e esperei que aquela criança fosse deixada de
lado. Meus pais me chamaram, me apresentaram ao estranho. Chamava-se Juliano,
disseram que era meu irmão. “Mas quando ele vai embora?” Não iria mais embora,
moraria conosco a partir daquele momento." A, 1ªv.
Nestes
trechos retirados de cada um dos parágrafos do texto, não possui a unidade
temática, que em tese seria o nascimento do bebê, porém a aluna não situa sua
história nesse fato, e então o tema se perde. Na segunda versão, a aluna
continua sem seguir um tema, além da estrutura de seus parágrafos serem longos
e tratarem de muitos assuntos.
(11) "Pergunto se posso convidar minhas vizinhas para brincar no
nosso pátio, era um dia tão bom para se brincar na rua e tínhamos um jardim
enorme. Mas eu não poderia brincar naquele dia por que estaríamos muito
ocupados." A, 2ªv.
(12) "Àquela altura de minha vida, um passeio de carro era o que eu
mais gostava, sempre parecia uma aventura, mas até mesmo esse momento que tinha
tudo para ser divertido ficou ofuscado pela ansiedade de ir buscar a “mamãe”.
Eu gostava de estar com meu pai, tudo parecia uma aventura quando estávamos
juntos..." A, 2ªv.
(13) "ele sempre fazia com que as coisas fossem legais para mim até
mesmo em momentos que, devido a minha timidez, eu ficava excluída entre
crianças, como em aniversários de amigos em que por causa da quantidade de
crianças eu acabava me excluindo e indo procurar proteção nos seus
braços." A,2ªv.
Nestes
trechos, retirados do primeiro parágrafo, são apresentadas ao leitor diversas
ideias sobre o tema, e que pouco acrescentam ao que foi proposto no título.
Somente ao final do texto, nos dois últimos parágrafos, é que há uma ligação
entre título e texto, formando uma unidade temática, porém no início o leitor
poderia ter uma dificuldade de compreensão com o excesso de informações.
A aluna B na sua primeira versão,
não consegue ligar o primeiro parágrafo com o restante do texto, e apesar de
apresentar as características de uma narrativa, não consegue uma unidade
temática.
(14) "Nossas vidas são feitas de fatos e acontecimentos, que quase nunca
nos marcam, ou fazem valer a pena serem ditos. Talvez a aprovação no
vestibular, alguma descoberta pessoal, mas um fato, algo que ainda te causa
algum sentimento, não consigo lembrar bem, talvez algo recente, que ainda me causa
arrepios." B, 1ªv.
(15) "Resido em São Leopoldo, e sempre costumo caminhar em volta do
condomínio que moro, mas naquelas duas últimas semanas estava cansada de ficar
fazendo voltas sempre no mesmo lugar, e resolvi seguir uma rota diferente, indo
caminhar até outro bairro vizinho" B, 1ªv.
O trecho
14 é o primeiro parágrafo do texto, que não possui ligação alguma com o trecho
15.
(16) "[...] estava retornando para casa quando passei novamente pelo
mendigo, e vi um carro parar e dizer que ia ligar para a samu. Minha
curiosidade foi maior, e quando olhei bem para aquele mendigo deitado, percebi
que ele não estava deitado e sim caído no chão, os olhos esbugalhados e de sua
boca saia uma espuma branca. Ele estava morto. B, 1ªv.
O trecho
acima seria a conclusão da caminhada descrita pela aluna.
(17) "Venho passando por um momento pessoal que volto a valorizar a
vida, e ver uma ser desperdiçada dessa maneira me deixou incomodada..." B,
1ªv.
Já na sua
conclusão, a aluna B usa termos subjetivos e que não os explica, o que faz que
eles não sirvam para a unidade temática.
Na segunda versão, a subjetividade
foi retirada do texto, porém a unidade temática ainda não ficou clara, pois não
sabemos se o tema é a caminhada em si, ou o fato de ter encontrado o mendigo
morto, que teria levado ao aprendizado para a vida.
(18) "Afinal, qual o valor que eu estava dando para a minha vida?
Pensava eu, naquele momento estava retornando para casa, entrando no meu
condomínio com um segurança sorrindo para mim, mas eu poderia muito bem morrer
no dia seguinte, ou na semana seguinte." B,2ªv.
O trecho
18, ao contrário do 17, é uma conclusão concreta e de fácil compreensão, que
não exige do leitor diversas interpretações, ela é clara e objetiva.
A proposta
da tarefa três era a descrição de um processo, mas este processo teria de estar
dentro de uma narrativa para não se tornar uma lista de ordens. Nesta tarefa a
aluna B conseguiu completar satisfatoriamente, sem apresentar problemas com
nenhuma qualidade discursiva, mas a aluna A ainda apresentou problemas em
relação à concretude como podemos ver no trecho:
(19) “Subo no D43, que vai
em direção à aula do centro.” A,
1ªv.
A
referência a esta aula está completamente deslocada no texto, o leitor fica se
perguntando “mas que aula é essa?” e “por que esta aula foi mencionada se não
serve para nada no texto?”. A aluna poderia explorar mais esta aula,
estabelecendo um sentido para ela no texto ou apenas retirá-la. Na reescrita a
aluna optou por retirar este trecho e acrescentar um elemento que tinha relação
com o restante do parágrafo que introduzia seu texto:
(20) “Subo no D43 após
esperar na fila em baixo de um sol muito quente”. A, 1ª v.
É possível
notar que a partir desta tarefa as duas alunas não apresentaram mais problemas
com a unidade temática e progrediram muito em relação à concretude de seus
textos, pois apenas a aluna A apresentou alguns problemas, que foram superados
na reescrita. Essa evolução fica evidente também nos conceitos das alunas, pois
nessa atividade a aluna A conseguiu atingir o conceito A e a aluna B atingiu o
conceito B.
A proposta
da tarefa quatro era escrever um memorial de leitura e deveriam utilizar
referencias nos textos. As duas alunas concluíram de forma satisfatória, mas a
aluna A apresentou um pequeno problema com a unidade temática por não ter
relacionado seus dois temas principais: a leitura na escola com a leitura na
universidade. Ela Inicia os seus dois primeiros parágrafos de desenvolvimento
da seguinte forma:
(21) “[..] a minha
experiência nas leituras escolares foi apenas um exercício de
decodificação[...]” A, 1ªv.
(22) “Ao chegar a
universidade me deparei com um exercício de leitura completamente estranho para
mim.” A, 1ªv.
Em nenhum
momento do texto faz uma ligação entre as duas experiências, mas na reescrita
acrescenta um último parágrafo para ligar os dois elementos e justificar suas
presenças no texto:
(23) “A partir
das experiências na universidade pude perceber o quão pobres haviam sido as
leituras realizadas na escola. A falta de uma leitura mais critica e reflexiva
afetou não somente a minha capacidade de compreensão dos textos, mas também a
construção dos conhecimentos adquiridos.” A, 2ªv.
Assim a
aluna conseguiu resolver seu problema com a unidade temática e concluiu
satisfatoriamente a atividade. O problema da aluna B em relação à esta
atividade foi com a formatação do texto e a repetição de alguns termos como
“conhecimento linguístico” que estão presente em alguns trecho como no seguinte
parágrafo:
(24) “A falta
do conhecimento prévio e o ruído no conhecimento
lingüístico acarretaram em uma leitura não muito produtiva. Sobre minha
experiência com a leitura de 1984, KLEIMAN (1995, p.16) diz que “o conhecimento lingüístico, então é, um
componente do chamado conhecimento prévio sem o qual a compreensão não é
possível”. B, 1ªv.
A aluna B
não conseguiu atingir o conceito máximo por que sua reescrita continuou com
problemas de formatação da ABNT.
A quinta e última proposta foi um artigo de
opinião, onde os alunos deveriam fichar, antes do texto, elementos como o tema,
problema, hipóteses, argumentos etc. Nesta tarefa a aluna A conseguiu concluir
satisfatoriamente todas as qualidades discursivas, apresentando somente
problemas com alguns erros de digitação. O que a impediu de tirar um conceito
satisfatório nesta tarefa foi não ter desenvolvido suficientemente seus
argumentos e ter apresentado erro na ABNT. A aluna B teve problemas
relacionados à falta de concretude e falta de fontes em seu texto. O texto
apresenta problemas de concretude em alguns trechos como o seguinte:
(25) “O curso de Letras, e
em especial os alunos de licenciatura, têm um currículo cheio e bastante exaustivo, em consequência são muitos
trabalhos, leituras e provas ao longo de um semestre, porém a pior parte são as
últimas semanas” B, 1ªv.
Ao
utilizar o termo “currículo cheio” a aluna não nos esclarece o que seria cheio
para ela e do que ele é cheio, essas passagens podem deixar o leitor com dúvida
por que são muito abstratas. Outro termo utilizado pela aluna é “super aluno”,
mas não é explicado para o leitor o que é esse super aluno e por que ele é
considerado um super aluno.
Nesta tarefa, ambas as alunas não conseguiram
tirar o conceito máximo, ficando a aluna B com conceito B e a aluna A com
conceito C+.
CONCLUSÃO
Após esta análise, percebemos que as alunas
melhoraram seu entendimento sobre unidade temática e concretude, pois as
leituras feitas em sala de aula auxiliaram na compreensão de seus problemas e
na construção do conhecimento das qualidades discursivas. A evolução das mesmas
é perceptível a ponto de que os comentários sobre os textos feitos neste artigo
possuem uma melhora significativa.
Durante o semestre na cadeira de Leitura e
Produção Textual, por conta das leituras feitas em sala de aula foi possível
obter um maior entendimento sobre os conceitos de texto e suas qualidades
discursivas. Os conhecimentos adquiridos nesta disciplina serão úteis durante
todo o curso de Letras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
GUEDES, P. C. Da redação à produção textual: o ensino da
escrita. São Paulo: Parábola Editora, 2009.
ROTTAVA, L. A Leitura e a Escrita na Pesquisa e no
Ensino. Espaços da Escola, Ijuí, Editora UNIJUÍ, a. 4, n. 27, jan.-mar. 1998, p
61-68.
PLATÃO, F &
FIORIN, J.L. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Atila, 2006.
KLEIMAN, A. Texto e Leitor:
aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Pontes, 1995.
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