Aluno 92
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Este breve texto tem como objetivo
refletir acerca da leitura como necessidade e como exercício social. Uso de uma
experiência de leitura e pesquisa pessoal para discutir sobre as implicações
dessa abordagem específica de leitura. A experiência com a leitura de um
clássico é abordada de maneira diferente devido as circunstâncias da leitura.
A
leitura como ideia de prática social consiste em ler para determinado objetivo,
bem como para alguém e em certas circunstâncias (ROTTAVA, 2000 p.14). A leitura
da obra de Shakespeare nasceu de uma necessidade: encenar a peça. Com o
trabalho extensivo com um grupo de teatro, surgiu a vontade de encenar um
clássico. Foi estipulado ao grupo que todos deveriam ler Otelo. Os atores-leitores
tinham duas semanas para ler e tirar suas conclusões sobre o texto, o qual
seria discutido ao fim desse tempo. É possível notar que as condições para
leitura foram estabelecidas desde o início. Sabíamos o que ler, quando ler e
para que leríamos.
A
leitura como necessidade transforma a experiência em muitos fatores. Apesar de
já ter lido outras obras do mesmo autor anteriormente, ler com um objetivo
específico causa uma série de impressões diferenciadas. Primeiramente, ao ler
por ordem externa ou de maneira objetivada, o foco no dito texto é maior.
Quando lemos de maneira livre, por prazer, a leitura ocorre de maneira leve,
despreocupada, com um foco de atenção que se expande para elementos distintos
da obra, diferente de quando lemos com um objetivo, em que esse foco se afunila
e restringe sua atenção para pontos específicos considerados de maior
importância.
Em
segundo lugar, esse tipo de leitura está ligado ao contexto social do leitor.
Nesse caso, a leitura da obra de Shakespeare contava com a expectativa de uma
série de indivíduos, por isso recebia um grau de importância diferente de
simples leitura recreativa. O meio em que os atores-leitores estavam inseridos
esperava que todos não só completassem a leitura, mas obtivessem uma análise e tirassem
conclusões acerca do tema abordado pelo texto.
A experiência toma um rumo diferenciado
sobre a ótica do grupo.
As
práticas sociais de leitura agrupam direitos e obrigações (cf. scollon et alli,
1999 p.32-3 - ROTTAVA, 2000, p.13). Tal afirmação se mostra verídica com a
situação que estamos analisando. Um grupo que trabalha ativamente com o texto,
como é o caso de um grupo de teatro, possui uma série de obrigações, não
somente com a obra, mas com os outros membros. A leitura de Otelo traz consigo
uma pesquisa. Pesquisa essa que é avançada por todos os atores-leitores do
grupo, por isso uma série de trocas acontece. Os leitores buscam informação na
peça, analisam os personagens, investigam significados e simbolismos ocultos e
percebem diferentes nuances da narrativa. Por isso, digo que a leitura com
objetivo, a leitura para determinado grupo, tende a se repetir diversas vezes.
O grupo que selecionou Otelo como objeto de leitura releu o texto mais de uma
vez e obteve diferentes conclusões, a nível individual e como coletivo de
leitura.
Concluindo, a leitura como prática
social compele o leitor a ler com um objetivo em mente, se lê para alguém e sob
circunstâncias específicas. Em minha experiência pude notar que a leitura com
um grupo de pessoas toma proporções diferentes. Os membros do coletivo analisam
e retém informações de maneira eficaz, dividindo-as futuramente com seus
companheiros e enriquecendo a experiência de leitura.
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