Aluno 83
Reescrita
Coloco
meus tênis de caminhada, e após um breve alongamento saio para caminhar. Saindo
do condomínio onde moro, estou cansada de sempre andar fazendo voltas ao redor
dos edifícios, nesse dia tomo um caminho diferente, vou caminhar até o bairro
vizinho.
Já começava a anoitecer, acelerei o
passo, pois meu caminho começa passando por uma longa rua, onde nas primeiras
duas quadras só existem fábricas, somente mais adiante que temos casas e algum
comércio. Como as fábricas estavam fechando por conta do horário, tomei ainda
mais cuidado, olhando para todos os lados para ver se não via alguém estranho.
Toda vez que alguém aparecia no meu
campo de vista minhas pernas tremiam um pouco, nunca ouvi falar de assaltos
naquela região, mas a rua é bastante deserta na parte em que eu me encontrava,
e nos dias de hoje não existe um local realmente seguro. Por sorte as poucas
pessoas que encontrei naquelas duas, infinitas, quadras, eram, provavelmente
trabalhadores voltando para casa.
Assim que me aproximo do início da
terceira quadra, onde as casas já estão aparecendo, avisto um mendigo deitado
no meio da calçada, exatamente onde eu iria passar. Não pensei duas vezes em
atravessar a rua e nem olhei para a cara do sujeito, que estava na frente de um
restaurante, fechado àquela hora.
Nas quadras seguintes caminhei
tranquilamente, passando por famílias sentadas no pátio de suas casas bebendo
um chimarrão, crianças brincavam na rua, mas quando os postes de luz começaram
a acender, tive de dar meia volta para retornar ao condomínio.
Apressando o passo cada vez mais,
comecei a correr para ir mais rápido, pensava em fazer um chimarrão quando
chegasse em casa, quando um carro parou do outro lado da rua logo a frente, e
minha corrida, brutalmente parou também. Levei um susto! O carro estava parado
em frente a um restaurante, e uma mulher dizia para o homem que estava com ela
para ligarem à SAMU. Minha curiosidade foi maior, e caminhando lentamente para
me aproximar da cena dei de cara com o mendigo que eu tinha visto antes, ele
não estava deitado e sim caído no chão, seus olhos estavam abertos, opacos, sem
qualquer brilho de vida, e de sua boca, também aberta, saia uma espuma branca.
Ele estava morto.
O rosto daquele homem me paralisou
de medo, ele parecia não ter mais de quarenta anos, e aquela cena de morte me
assustou muito.
Recomecei a caminhar e andava cada
vez mais rápido, para esquecer daquela cena, mas quanto mais eu caminhava, mais
aqueles olhos frios apareciam no meu inconsciente. A noite já começara, e as
duas quadras de fábricas em que eu me encontrava, já não eram mais tão
assustadoras, não sei se alguém passou por mim no restante do percurso. Na
minha cabeça eu só pensava o quão horrível tinha sido aquela morte para o
homem, provavelmente uma overdose, esses drogados merecem, eu pensava comigo,
mas eu sabia que ele era um ser humano, vidas são preciosas, provavelmente
tinha uma família que estava preocupada com ele.
Afinal, qual o valor que eu estava dando para
a minha vida? Pensava eu, naquele momento estava retornando para casa, entrando
no meu condomínio com um segurança sorrindo para mim, mas eu poderia muito bem
morrer no dia seguinte, ou na semana seguinte. O que eu estava fazendo para
valer a pena a minha existência? Eu não queria morrer insignificante, como
aquele mendigo, daquele jeito humilhante de olhos frios.
Chegando em casa, após um
alongamento, onde todos os meus pensamentos ainda estava naquele acontecido.
Bebi o chimarrão mais precioso da minha vida, eu estava viva e iria me deliciar
na vida!
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