sexta-feira, 1 de julho de 2016

O VALOR DA VIDA

Aluno 83
Reescrita


Coloco meus tênis de caminhada, e após um breve alongamento saio para caminhar. Saindo do condomínio onde moro, estou cansada de sempre andar fazendo voltas ao redor dos edifícios, nesse dia tomo um caminho diferente, vou caminhar até o bairro vizinho.
            Já começava a anoitecer, acelerei o passo, pois meu caminho começa passando por uma longa rua, onde nas primeiras duas quadras só existem fábricas, somente mais adiante que temos casas e algum comércio. Como as fábricas estavam fechando por conta do horário, tomei ainda mais cuidado, olhando para todos os lados para ver se não via alguém estranho.
            Toda vez que alguém aparecia no meu campo de vista minhas pernas tremiam um pouco, nunca ouvi falar de assaltos naquela região, mas a rua é bastante deserta na parte em que eu me encontrava, e nos dias de hoje não existe um local realmente seguro. Por sorte as poucas pessoas que encontrei naquelas duas, infinitas, quadras, eram, provavelmente trabalhadores voltando para casa.
            Assim que me aproximo do início da terceira quadra, onde as casas já estão aparecendo, avisto um mendigo deitado no meio da calçada, exatamente onde eu iria passar. Não pensei duas vezes em atravessar a rua e nem olhei para a cara do sujeito, que estava na frente de um restaurante, fechado àquela hora.
            Nas quadras seguintes caminhei tranquilamente, passando por famílias sentadas no pátio de suas casas bebendo um chimarrão, crianças brincavam na rua, mas quando os postes de luz começaram a acender, tive de dar meia volta para retornar ao condomínio.
            Apressando o passo cada vez mais, comecei a correr para ir mais rápido, pensava em fazer um chimarrão quando chegasse em casa, quando um carro parou do outro lado da rua logo a frente, e minha corrida, brutalmente parou também. Levei um susto! O carro estava parado em frente a um restaurante, e uma mulher dizia para o homem que estava com ela para ligarem à SAMU. Minha curiosidade foi maior, e caminhando lentamente para me aproximar da cena dei de cara com o mendigo que eu tinha visto antes, ele não estava deitado e sim caído no chão, seus olhos estavam abertos, opacos, sem qualquer brilho de vida, e de sua boca, também aberta, saia uma espuma branca. Ele estava morto.
            O rosto daquele homem me paralisou de medo, ele parecia não ter mais de quarenta anos, e aquela cena de morte me assustou muito.
            Recomecei a caminhar e andava cada vez mais rápido, para esquecer daquela cena, mas quanto mais eu caminhava, mais aqueles olhos frios apareciam no meu inconsciente. A noite já começara, e as duas quadras de fábricas em que eu me encontrava, já não eram mais tão assustadoras, não sei se alguém passou por mim no restante do percurso. Na minha cabeça eu só pensava o quão horrível tinha sido aquela morte para o homem, provavelmente uma overdose, esses drogados merecem, eu pensava comigo, mas eu sabia que ele era um ser humano, vidas são preciosas, provavelmente tinha uma família que estava preocupada com ele.
 Afinal, qual o valor que eu estava dando para a minha vida? Pensava eu, naquele momento estava retornando para casa, entrando no meu condomínio com um segurança sorrindo para mim, mas eu poderia muito bem morrer no dia seguinte, ou na semana seguinte. O que eu estava fazendo para valer a pena a minha existência? Eu não queria morrer insignificante, como aquele mendigo, daquele jeito humilhante de olhos frios.
            Chegando em casa, após um alongamento, onde todos os meus pensamentos ainda estava naquele acontecido. Bebi o chimarrão mais precioso da minha vida, eu estava viva e iria me deliciar na vida!

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