Aluno 80
Reescrita
Possuo como singela lembrança, a imagem da capa do primeiro livro que li: era uma obra do tipo educacional para crianças, mal servia para se abanar devido a sua finura. Entretanto, eu pouco sabia a importância que aquele contato iria trazer mais tarde: uns pensamentos, uma profissão, uma paixão.
Contudo, esse contato se manteve único - com raras exceções estudantis - por muito tempo, a necessidade do extraordinário foi acariciada por projeções gráficas com tramas cada vez mais impressionantes que iam chegando ao meu conhecimento. Porém, não foi o bastante, minha mente requeria mais.
Busquei, então, por uma (aparente) antiga magia: os livros. Algo que há muito não havia usado, só entrando em contato para saber a continuação de certos filmes. Dessa forma, como digno vivente do século XXI, recorri ao Google e procurei (com êxito) uma obra interessante - cuja, logo foi comprada - sobre uma menina que roubava livros durante a Segunda Guerra Mundial. Assim, quando a obra chegou na minha casa, a leitura de concretizou.
A história me trazia um filme na cabeça, o qual eu poderia explorar, pois parecia ser meu até o final do livro: a Alemanha na década de 1930, o inverno e a Rua Himmel. As imagens que a suspeita (e ao mesmo tempo confiável) narradora trazia eram belíssimas e novas para mim. Dessa maneira, aproveitei até o final, quando uma quase catarse/epifania chegou a mim. Não foi pelo final um tanto quanto triste, mas sim pela experiência totalmente nova que tinha passado. Eu não havia só finalizado um livro, eu vivo aquela outra realidade, me introduzi e criei.
Sob outra ótica, toda essa "novidade" não foi totalmente perfeita, em muitas partes, foi assustadora. Na minha vida, eu nunca tive qualquer motivação familiar ou de amigos para ler. Se tinha filme, ótimo, ao contrário disso: jamais. Dessa forma, não sei dizer se foi algo intrínseco, aos doze anos, eu procurar minha primeira leitura prazerosa; este era um livro de 400 páginas, o qual demorei dois meses para terminar. Não compreendia diversas imagens: "como assim uma rua com neve?", "Se tem personagens, cadê os atores?", "Como eles são?", "O que significam as cores no céu?", "Que palavra é essa? Ou essa? Ou aquela?", "como a narradora pode estar aqui e lá ao mesmo tempo?", "como ela sabe de tudo?". Desse jeito, com o mesmo tipo de perguntas infantis, eu poderia continuar por horas.
Seguindo essa linha, durante um bom tempo pude ver as consequências de uma leitura tardia: minha incompreensão em inúmeros textos, a dificuldade que possuo em relacionar frases (principalmente numa leitura acadêmica), ou a preguiça em ler textos grandes numa prova e relacioná-lo com uma afirmação. Estes fatos são preocupantes. Entretanto, eu jamais tinha analisado esses problemas com qualquer déficit de leitura devido a um ignorância no assunto. Com isso, fica claro que a falta de motivação que deveria ser dada pelos agentes sociais para a leitura, como retratado no texto "A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento" (ROTTAVA, 2000), provavelmente, me trazem mais consequências que imagino, entretanto, consegui reverter o quadro um pouco, hoje tenho uma carga literária mais considerável. A questão é, quantos vão ficar nessa posição e, também, irão mudar?
Nossa sociedade não valoriza tais aspectos. A literatura é distribuída, hoje, de maneira relaxada. Os estudantes não são estimulados a ler e, assim, ficam fixos na informação trazida pela mídia ou meios de comunicação que deixam de estimular o cérebro tanto quanto a literatura. O dado é mais alarmante do que a atenção que damos à este. Uma prova disso é a dificuldade que estudantes novatos de ensino superior tem de compreender textos acadêmicos. Pessoalmente, me incluo nessa categoria e a razão contextualizada no texto de Rottava (2000), onde os agentes sociais são responsáveis pela realização da leitura, pode ser aplicada em diversas situações.
Referências:
ROTTAVA, Lucia; A Importância da Leitura na Construção de Conhecimento
In: Espaço da Escola; Editora UNIJUÍ; n. 35; p. 11-16; 2000.
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