Reescrita
Aluno 76
TEMA: tempo
DELIMITAÇÃO DO TEMA: a natureza sociohistórica do tempo
OBJETIVO: mostrar que o problema é de todos, não apenas dos
estudantes
PROBLEMA: sensação de uma falta de tempo generalizada
HIPÓTESE: há uma má distribuição do tempo; perdemos muito tempo
com gadgets
ARGUMENTOS:
1) Dados concretos: pesquisadores comprovam que uma pessoa hoje
sente que o tempo passa mais rápido do que para alguém que viveu há cem anos.
- Pesquisa comparativa sobre a sensação da passagem do tempo de
James Tien e James Burnes, professores de matemática aplicada do Instituto
Politécnico Rensselaer, nos Estados Unidos. Fonte: revista Superinteressante.
2) Autoridade: pesquisadora fala sobre impressão de estarmos
sempre acompanhado por olhos e ouvidos, uma decorrência do avanço tecnológico.
- Fonte: BARBOSA, Marielle Kellermann. “Viver conectado,
subjetividade no mundo contemporâneo”.
3) Dados concretos: explosão no número de vítimas de overdose
associada ao uso de calmantes nos últimos anos.
- Fonte: estudo publicado em fevereiro no “American Journal of
Public Health” e citado em reportagem do jornal O Globo.
CONTRA-ARGUMENTO:
1) Autoridade/dados concretos: na contramão da velocidade,
surgem movimentos como o nadismo
- Fonte: Marcelo Bohrer, mentor do movimento nadismo.
Desacelerar é preciso
Final de semestre e uma certeza que compartilho com quase todos
os meus colegas de faculdade, a grande maioria cursando o primeiro semestre de
Letras na UFRGS: falta tempo. Há uma sensação generalizada de que não
conseguimos fazer tudo o que queremos, não só na universidade. O sentimento é
também dos jornalistas que trabalham comigo, dos amigos, dos familiares.
Vivemos em um mundo dominado pela pressa e pela ansiedade. É impossível dar
conta de tudo. E parece que a vida está passando rápido demais. Por que e como
chegamos a esse ponto?
A resposta para essa pergunta talvez esteja no avanço
tecnológico. Tudo ficou muito rápido nos últimos anos, e o acesso à informação
está mais veloz e disponível conosco a tiracolo, no aparelho celular. A
tecnologia e a internet provocaram uma revolução na quantidade de informações e
na forma como as compartilhamos. É como se estivéssemos num círculo vicioso que
funciona mais ou menos assim: a tecnologia gera demanda por velocidade, que
acelera o desenvolvimento de novas tecnologias, e estas precisam ser cada vez
mais rápidas. Ad infinitum. O resultado dessa impaciência para “ganhar” tempo é
que estamos cada vez mais com a sensação de perdê-lo. Há inclusive pesquisas
que comprovam isso.
Pesquisadores afirmam que uma pessoa hoje sente que ele (o
tempo) passa mais rápido do que para alguém que viveu há cem anos. E dão até
uma estimativa de quanto: de 1,08 vez, para quem tem 24 anos, a 7,69 vezes,
para quem tem 62 anos – a diferença seria causada pelo período de exposição à
vida em alta velocidade. James Tien e James Burnes, professores de matemática
aplicada do Instituto Politécnico Rensselaer, nos Estados Unidos, chegaram à
essa conclusão analisando o crescimento das estatísticas de produtividade e emissão
de patentes em 1897 e 1997 – os índices foram escolhidos por serem indicativos
de desenvolvimento tecnológico e também por estarem entre os poucos com dados
centenários confiáveis. (GWERCMAN, Sérgio. “Tempo: Cada vez mais acelerado”. Superinteressante. Março de
2005.)
Outra questão importante que se sobressai nessa necessidade de
nos mantermos 24 horas conectados, além da sensação de tempo escasso para fazer
tudo o que necessitamos, é a impressão de estar sempre acompanhado por olhos e
ouvidos, um sentimento de escuta permanente.
Um comportamento que vem se tornando cada vez mais frequente (e
excessivo?) no dia a dia, em especial entre os mais jovens (crianças e
adolescentes), mas também entre adultos (em menor intensidade nos de mais
idade), é o uso dos dispositivos tecnológicos, e me refiro a qualquer
dispositivo com acesso à internet: celular, tablets, laptop, para conexão às
mídias sociais e sites, blogs, sites de relacionamento. Esse comportamento, de
pessoas dirigindo, andando pela rua, sentadas em restaurantes, cinemas, entre
amigos, na sala de análise com seus celulares e afins, "conversando"
com outras pessoas online, postando comentários, fotos, vendo o que outros
postam, me parece uma conduta social fundamental para compreendermos algo muito
diferente que vem acontecendo. (BARBOSA, Marielle Kellermann. “Viver conectado,
subjetividade no mundo contemporâneo”. Ide
(São Paulo), São Paulo , v. 35, n. 55, p. 89-101, jan.
2013.)
Entre as consequências desse mundo acelerado está a busca da
felicidade e a paz para enfrenter a rotina por meio de pílulas compradas na
farmácia. A adoção dessa estratégia frente às dificuldades do dia a dia são
preocupantes. Segundo um estudo publicado em fevereiro no “American Journal of
Public Health” e citado em reportagem do jornal O Globo, ocorreu uma explosão
no número de vítimas de overdose associada ao uso de medicamentos
benzodiazepínicos, conhecidos como calmantes, nos EUA, entre 1996 e 2013. O
número de mortes ultrapassou em muito o crescimento, também significativo, no
consumo dessas substâncias no mesmo período. De acorodo com os pesquisadores
liderados por Marcus Bachhuber, professor da Faculdade de Medicina Albert
Einstein, em Nova York, esses medicamentos estão por trás de 31% das quase 23
mil fatalidades relacionadas a remédios controlados no país em 2013, levando a
uma taxa de 3,14 mortes a cada 100 mil adultos naquele ano, um aumento de mais
de quatro vezes frente à 0,58 morte por 100 mil adultos registrada em 1996.
Enquanto isso, nesses 18 anos, o número de prescrições subiu 67%, de 8,1
milhões para 13,5 milhões.
Sintetizados pela primeira vez no início da década de 1960, os
compostos benzodiazepínicos trouxeram uma revolução na forma de lidar com
distúrbios psíquicos. Chamados ansiolíticos, e também apelidados de “drogas da
paz”, eles são receitados para tratar de ansiedade à insônia, passando por
estresse, tristeza, fobias e outros transtornos de humor muito comuns na
sociedade moderna. Com isso, eles logo se tornaram os medicamentos
psicotrópicos (que agem no sistema nervoso central) mais usados no mundo.
Embora sejam muito mais seguros que as opções anteriores, como os chamados
barbitúricos (que tiveram entre suas vítimas mais famosas a atriz Marilyn
Monroe, morta em 1962), seu consumo indiscriminado, principalmente quando
aliado ao uso de outras drogas lícitas e ilícitas, em especial álcool e
analgésicos opioides, pode ser extremamente perigoso. (BAIMA, Cesar. “Pesquisa
mostra explosão de mortes por uso de calmantes nos EUA”. O Globo. 19/02/2016.)
Se o tempo está acelerando, por outro lado, um dia continua
tendo 24 horas, 1 hora é composta de 60 minutos e cada minuto ainda tem 60
segundos. Mas nem tudo está perdido. A solução para essa correria toda pode
estar em iniciativas como o “slow food”, que prega comer mais devagar, curtindo
a refeição. Outras saídas talvez sejam a meditação e a ioga. Ou o simples fazer
nada sem culpa, o que inclusive, ganhou nome, “nadismo”. Trata-se de um
movimento cuja ideia central é combater o estresse e a falta de tempo por meio
de momentos de pausa para fazer nada como forma de promover equilíbrio: “O
nadismo propõe uma importante transformação cultural: a consciência de que
fazer nada não é perder tempo, mas uma forma muito valiosa de aproveitá-lo.
Assim, literalmente sem fazer nada, aprendemos a desacelerar e vivemos
melhor!”, afirma Marcelo Bohrer, mentor do movimento no site da empreitada.
A grande verdade é que não dá mais para manter o ritmo acelerado
de nossas rotinas - e isso, definitivamente, não é problema apenas de
universitário em final de semestre. Possivelmente não seja necessário
radicalizar ao ponto de ter de aderir ao nadismo como filosofia de vida, mas os
dados e as pesquisas mostram que estamos nos prejudicando com essa correria
toda, tendo como uma de suas piores consequências o consumos desenfreado de
calmantes. O recado está dado: é preciso desacelerar.
Referências bibliográficas
BAIMA, Cesar. “Pesquisa mostra explosão de mortes por uso de
calmantes nos EUA”. O Globo.
19/02/2016.
BARBOSA, Marielle Kellermann. Viver conectado, subjetividade no
mundo contemporâneo. Ide (São
Paulo), São Paulo , v. 35, n. 55, p. 89-101, jan.
2013.
GWERCMAN, Sérgio. “Tempo: Cada vez mais acelerado”. Superinteressante. Março de
2005.
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