quarta-feira, 13 de julho de 2016

Aluno 76
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Esquema texto argumentativo

TEMA: tempo.
DELIMITAÇÃO DO TEMA: a natureza sociohistórica do tempo para universitários do primeiro semetre.
OBJETIVO: mostrar que o problemas é de todos, não apenas dos estudantes.
PROBLEMA: sensação de uma falta de tempo generalizada.
HIPÓTESE: há uma má distribuição do tempo; perdemos muito tempo com gadgets.
ARGUMENTOS:
Dados concretos: pesquisadores comprovam que uma pessoa hoje sente que o tempo passa mais rápido do que para alguém que viveu há cem anos.
Autoridade: pesquisadora fala sobre impressão de estarmos sempre acompanhado por olhos e ouvidos, uma decorrência do avanço tecnológico.
Dados concretos: explosão no número de vítimas de overdose associada ao uso de calmantes nos últimos anos.
CONTRA-ARGUMENTO:
Autoridade/dados concretos: na contramão da velocidade, surgem movimentos como o nadismo

Desacelerar é preciso

Final de semestre e uma certeza que compartilho com quase todos os meus colegas de faculdade, a grande maioria cursando o primeiro semestre de Letras na UFRGS: falta tempo. Há uma sensação generalizada de que não conseguimos fazer tudo o que queremos, não só na universidade. O sentimento é também dos jornalistas que trabalham comigo, dos amigos, dos familiares. Vivemos em um mundo dominado pela pressa e pela ansiedade. É impossível dar conta de tudo. E parece que a vida está passando rápido demais. Por que e como chegamos a esse ponto?
A resposta para essa pergunta talvez esteja no avanço tecnológico. Tudo ficou muito rápido nos últimos anos, e o acesso à informação está cada vez mais veloz e disponível conosco a tiracolo, no aparelho celular. A tecnologia e a internet provocaram uma revolução na quantidade de informações e na forma como as compartilhamos. É como se estivéssemos num círculo vicioso que funciona mais ou menos assim: a tecnologia gera demanda por velocidade, que acelera o desenvolvimento de novas tecnologias, e estas precisam ser cada vez mais rápidas. Ad infinitum. O resultado dessa impaciência para “ganhar” tempo é que estamos cada vez mais com a sensação de perdê-lo. Há inclusive pesquisas que comprovam essa sensação. 

Pesquisadores afirmam que uma pessoa hoje sente que ele (o tempo) passa mais rápido do que para alguém que viveu há cem anos. E dão até uma estimativa de quanto: de 1,08 vez, para quem tem 24 anos, a 7,69 vezes, para quem tem 62 anos – a diferença seria causada pelo período de exposição à vida em alta velocidade. James Tien e James Burnes, professores de matemática aplicada do Instituto Politécnico Rensselaer, nos Estados Unidos, chegaram à essa conclusão analisando o crescimento das estatísticas de produtividade e emissão de patentes em 1897 e 1997 – os índices foram escolhidos por serem indicativos de desenvolvimento tecnológico e também por estarem entre os poucos com dados centenários confiáveis. (GWERCMAN, Sérgio. “Tempo: Cada vez mais acelerado”. Superinteressante. Março de 2005.) 

Outra questão importante que se sobressai nessa necessidade de estarmos 24 horas conectados, além da sensação de tempo escasso para fazer tudo o que necessitamos, é a impressão de estar sempre acompanhado por olhos e ouvidos, um sentimento de escuta permanente.

Um comportamento que vem se tornando cada vez mais frequente (e excessivo?) no dia a dia, em especial entre os mais jovens (crianças e adolescentes), mas também entre adultos (em menor intensidade nos de mais idade), é o uso dos dispositivos tecnológicos, e me refiro a qualquer dispositivo com acesso à internet: celular, tablets, laptop, para conexão às mídias sociais e sites, blogs, sites de relacionamento. Esse comportamento, de pessoas dirigindo, andando pela rua, sentadas em restaurantes, cinemas, entre amigos, na sala de análise com seus celulares e afins, "conversando" com outras pessoas online, postando comentários, fotos, vendo o que outros postam, me parece uma conduta social fundamental para compreendermos algo muito diferente que vem acontecendo. (BARBOSA, Marielle Kellermann. “Viver conectado, subjetividade no mundo contemporâneo”. Ide (São Paulo),  São Paulo ,  v. 35, n. 55, p. 89-101, jan.  2013.)

Entre as consequências desse mundo acelerado está a busca da felicidade e a paz para enfrenter a rotina por meio de pílulas compradas na farmácia. A adoção dessa estratégia frente às dificuldades do dia a dia são preocupantes. Segundo um estudo publicado em fevereiro no “American Journal of Public Health” e citado em reportagem do jornal O Globo, ocorreu uma explosão no número de vítimas de overdose associada ao uso de medicamentos benzodiazepínicos, conhecidos como calmantes, nos EUA, entre 1996 e 2013. O número de mortes ultrapassou em muito o crescimento, também significativo, no consumo dessas substâncias no mesmo período. De acorodo com os pesquisadores liderados por Marcus Bachhuber, professor da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York, esses medicamentos estão por trás de 31% das quase 23 mil fatalidades relacionadas a remédios controlados no país em 2013, levando a uma taxa de 3,14 mortes a cada 100 mil adultos naquele ano, um aumento de mais de quatro vezes frente à 0,58 morte por 100 mil adultos registrada em 1996. Enquanto isso, nesses 18 anos, o número de prescrições subiu 67%, de 8,1 milhões para 13,5 milhões.

Sintetizados pela primeira vez no início da década de 1960, os compostos benzodiazepínicos trouxeram uma revolução na forma de lidar com distúrbios psíquicos. Chamados ansiolíticos, e também apelidados de “drogas da paz”, eles são receitados para tratar de ansiedade à insônia, passando por estresse, tristeza, fobias e outros transtornos de humor muito comuns na sociedade moderna. Com isso, eles logo se tornaram os medicamentos psicotrópicos (que agem no sistema nervoso central) mais usados no mundo. Embora sejam muito mais seguros que as opções anteriores, como os chamados barbitúricos (que tiveram entre suas vítimas mais famosas a atriz Marilyn Monroe, morta em 1962), seu consumo indiscriminado, principalmente quando aliado ao uso de outras drogas lícitas e ilícitas, em especial álcool e analgésicos opioides, pode ser extremamente perigoso. (BAIMA, Cesar. “Pesquisa mostra explosão de mortes por uso de calmantes nos EUA”. O Globo. 19/02/2016.)

Se o tempo está acelerando, por outro lado, um dia continua tendo 24 horas, 1 hora é composta de 60 minutos e cada minuto ainda tem 60 segundos. Mas nem tudo está perdido. A solução para essa correria toda pode estar em iniciativas como o “slow food”, que prega comer mais devagar, curtindo a refeição. Outras saídas talvez sejam a meditação e a ioga. Ou o simples fazer nada sem culpa, o que inclusive, ganhou nome, “nadismo”. Trata-se de um movimento cuja ideia central é combater o estresse e a falta de tempo por meio de momentos de pausa para fazer nada como forma de promover equilíbrio: “O nadismo propõe uma importante transformação cultural: a consciência de que fazer nada não é perder tempo, mas uma forma muito valiosa de aproveitá-lo. Assim, literalmente sem fazer nada, aprendemos a desacelerar e vivemos melhor!”, afirma Marcelo Bohrer, mentor do movimento no site da empreitada.
A grande verdade é que não dá mais para manter no ritmo de nossas rotinas - e isso , definitivamente, não é problema apenas de universitário em final de semestre. Possivelmente não seja necessário radicalizar ao ponto de ter de aderir ao nadismo como filosofia de vida, mas os dados e as pesquisas estão aí para mostrar que estamos nos prejudicando com essa correria toda, tendo como uma de suas piores consequências o consumos desenfreado de calmantes. O recado está dado: é preciso desacelerar.







Referências bibliográficas

BAIMA, Cesar. “Pesquisa mostra explosão de mortes por uso de calmantes nos EUA”. O Globo. 19/02/2016.
BARBOSA, Marielle Kellermann. Viver conectado, subjetividade no mundo contemporâneo. Ide (São Paulo),  São Paulo ,  v. 35, n. 55, p. 89-101, jan.  2013.   
GWERCMAN, Sérgio. “Tempo: Cada vez mais acelerado”. Superinteressante. Março de 2005.

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