segunda-feira, 29 de junho de 2015

MEMORIAL: O MACHADO QUE QUEBRA MEU GELO

Reescrita
Aluno 50


Rever memórias nos toca de um modo ou de outro. Estamos tão acostumados com o mesmo vento, o mesmo sol, o mesmo pulsar no peito, que só quando nos relemos por dentro notamos quantas páginas se passaram. A vida, afinal, não passa de um breve folhear de um livro que tem como destino alguma prateleira empoeirada; e por mais besta que seja a história ainda assim nos sentimos tão apegados a ela.
Nas minhas primeiras páginas, já amareladas, existe uma casa onde se preservava um único livro, cujos salmos já mal eram lidos. Literatura era uma palavra exótica.  Meu pai, devido às carências de infância, era um sujeito de pouco estudo, minimamente dado à leitura e, nas raras vezes que o fazia, tinha de mexer os lábios e cochichar vagarosamente para absorver que no princípio Deus criara o céu e a terra. Entretanto, seu baixo nível de alfabetização não o impediu de me ensinar o pouco que sabia antes mesmo de me mandar à escola. Bondosamente me instruiu – que seja seu o céu que no princípio Deus criou –, e pacientemente aprendi. Fui à pré-escola já alfabetizado, mas a única coisa que eu lia era alguns anúncios de outdoors nas ruas. Desse modo, não seria correto afirmar um letramento de minha parte à época – o fato de eu ser capaz de lidar com a leitura e a escrita ainda não servia de sustento para a preservação de tais atividades. Para melhor exemplificar essa distinção entre alfabetização e letramento, tomo como referência o texto de Lúcia Rottava:
“Alfabetização significa apenas a ação de ensinar/apreender a ler e a escrever, enquanto letramento diz respeito à condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva (dedica-se a atividades de leitura e escrita) e exerce (responde às demandas sociais também dessas mesmas habilidades) as práticas sociais que usam a escrita.” 
(ROTTAVA, 2000, p. 12)
Ou seja, eu, o guru da turma na pré-escola por saber ler e escrever, não fazia outra coisa que não fosse decifrar os signos (mais recorrentes) da língua portuguesa. Mesmo assim, todas as minhas ilustrações eram acompanhadas por um balão de fala, com palavras cada vez menos deficientes à medida que a escola me fixava a Sagrada Gramática. Entretanto, o fato de a escola ter desenvolvido minha capacidade de decodificar os signos da escrita não colaborou – esteve muito longe de colaborar, em bem da verdade – com meu letramento. Sujeitar o aluno às regras da norma-padrão não implica o desenvolvimento do gosto pela leitura e tampouco faz suscitar nele o desejo de cultivar a prática da escrita. É como afirma Rottava (2000, p. 13), ao colocar que quando “[...] a escola alfabetiza acreditando estar expondo os alunos à pratica da leitura, na verdade o que está fazendo é ‘treinando-os’ a simplesmente decodificarem um material escrito”.
Foi só mais tarde, quando fui presenteado por uma prima minha com um enorme livro, uma compilação intitulada Um Tesouro de Contos de Fada lindamente ilustrada, que se deu início o meu processo de letramento. A princípio o que me chamou a atenção foram as ilustrações magníficas, mas pouco depois já estava encantado com os tantos mundos que visitava em leituras vagarosas. Logo, como consequência da leitura, aprimorei meus conhecimentos linguísticos o bastante para ler de modo mais crítico as cartas que o Papai Noel deixava para mim, e pude chegar à conclusão de que ou o bom velho não existia, ou havia sido alfabetizado por meu pai. Não tardou para que o Papai Noel se tornasse literatura para mim, tanto quanto as personagens de Andersen e dos Grimm, e talvez tenha sido esse o momento primeiro em que o letramento me guiou para uma descoberta inusitada.
Passadas algumas tantas páginas, encontrei para mim um dos amigos mais verdadeiros que já tive em um período em que a vida tornava-se cada vez mais assombrosa. Entre o mundo ideal que me fora ensinado em casa e o mundo rude vomitado pela escola, o Dr. Watson mostrou-se uma companhia preciosa. A figura de Sherlock Holmes e o mistério que envolvia suas aventuras deram a mim um novo mundo. As histórias de Arthur Conan Doyle tiveram papel imprescindível em minha formação como leitor. Nesse ponto da vida a literatura tornara-se parte fundamental da minha existência, passara a ser identidade.
Como letrado, pouco a pouco meus gostos literários amadureceram, e pouco a pouco meus conhecimentos linguísticos foram se ampliando ao passo que se ampliava também meu conhecimento de mundo. Conheci Tolkien, Poe, Hesse; desenvolvi paixões por Machado de Assis e Jorge Amado. O processo de letramento ao qual eu mesmo me sujeitei fez com que cada livro lido contribuísse para a leitura de outro, que cada conhecimento adquirido por uma leitura prévia fosse um degrau para um novo saber. Dessa forma, a compreensão de determinado texto só me era possível porque com textos anteriores eu já ampliara meus conhecimentos linguísticos e textuais – eu edificava, aos poucos, uma escada de saberes. Construir o sentido de um texto passa a ser, afinal, uma tarefa do leitor, a qual implica tanto a capacidade de discernimento como também suas noções de mundo, fundamentos trazidos em sua bagagem cultural/intelectual.
 “A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto” 
(KLEIMAN, 1995, p. 13)
Desse modo, assimilei no ato de ler seu papel incontestável na preservação e construção saberes. Graças a isso, a identidade que a literatura se tornara para mim assumiu um caráter de constante formação: adentrei nos versos de Augusto dos Anjos e de Mário Quintana e fi-los pedaços de mim. O romance 1984, de George Orwell, foi um soco em meu estômago: provou que a literatura política também pode ser uma arte ao passo que abalou nas camadas mais profundas tudo aquilo que eu possuía como verdade; O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse, um uivo cortês nos meus vazios e um grito selvagem que me atentou a todas as ambivalências humanas. Reconheci e reconheço até hoje a leitura como mais que uma simples fuga ou passatempo. O ato de ler é uma experiência de ampliação existencial – é por ele que podemos ter contato com diferentes pontos de vista e expandir nosso discernimento; o ato de ler, para melhor referir, é uma
“[...] prática social circunstanciada, favorecendo o alargamento do espírito e das possibilidades de atuação e intervenção na sociedade. [...] Um valor, portanto. Um valor que carrega um princípio de humanidade e que implica, mais que o simples hábito, uma atitude.”
(BRITTO, 2012, p. 30)

Parafraseando Kafka, a prática da leitura – a literatura, mais especificamente, tornou-se o machado que constantemente quebra o mar gelado em mim.



REFERÊNCIAS

ROTTAVA, Lucia. A importância da leitura na construção do conhecimento. In Espaços da escola. n 35, p. 11-16, 2000.
KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 4ª ed. Campinas: Pontes, 1995.
BRITTO, Luiz Percival Leme. LEITURA: ACEPÇÕES, SENTIDOS E VALOR. In Nuances: estudos sobre Educação, v. 21, n. 22, p. 18-32, 2012.

Parecer_Aluno50

É sem dúvidas interessante o modo como você percorre suas memórias, descrevendo-as sob o uso de metáforas e figurações. Essas escolhas só fazem dizer sobre o seu perfil como escritor e, arrisco a dizer, até dão indícios da sua identidade de leitor, porque apontam para um possível gosto pela prosa poética. Esse estilo por qual optou, portanto, pode ser tranquilamente mantido na segunda versão do texto, havendo apenas que considerar outras observações sobre aspectos diferentes.
Você precisa tomar um pouco mais de cuidado ao se valer de ideis, pois elas precisam estar encaixadas no texto de forma natural e motivada. Para entendermos melhor o que falo, reparemos no modo como os três primeiros excertos estão inseridos em seu memorial: não há uma clara correlação entre eles e os parágrafos que os precedem ou sucedem. Perceba como a falta de articulação desses trechos autorais com as suas próprias ideias faz o raciocínio teórico de seu memorial parecer um tanto quanto artificial e a ideia geral do texto, fragmentada. Evite, assim, simplesmente inserir os excertos em meio aos parágrafos, mesmo que eles pareçam estar relacionados com as ideias periféricas, pois parecer não é o bastante: a linearidade de raciocínio só se faz sensível se você de fato concatenar todas as suas ideias, dispondo-as de acordo com a relação lógica entre elas. Considere isso.
Além disso, leve em conta que você precisa apresentar um ou mais conceitos de leitura, podendo, para tanto, como sugestão, responder indiretamente às seguintes perguntas ao longo do texto: como você enxerga o ato de ler? Quais as implicações dessa prática? Deixe claro o seu entendimento sobre isso. Ao fazê-lo, inclusive, você pode se apoiar nos conceitos teóricos dos textos trabalhados em aula, pois eles também podem servir como uma sustentação autoral para as suas concepções pessoais. Ou então você pode mesmo partir das ideias que já estão no texto, desenvolvendo-as de modo a indiretamente abordar os conceitos de leitura.

Por fim, atente às normas da ABNT ao trazer conceitos e ideias de fontes externas, pois que devem constar, obrigatoriamente, as referências bibliográficas utilizadas em seu texto ao fim dele.

MEMORIAL: O MACHADO QUE QUEBRA MEU GELO

1 Versão
Aluno 50


Rever memórias nos toca de um modo ou de outro. Estamos tão acostumados com o mesmo vento, o mesmo sol, o mesmo pulsar no peito, que só quando nos relemos por dentro notamos quantas páginas se passaram. A vida, afinal, não passa de um breve folhear de um livro que tem como destino alguma prateleira empoeirada; e por mais besta que seja a história ainda assim nos sentimos tão apegados a ela.
Nas minhas primeiras páginas, já amareladas, existe uma casa onde se preservava um único livro, cujos salmos já mal eram lidos. Literatura era uma palavra exótica.  Meu pai, devido às carências de infância, era um sujeito de pouco estudo, minimamente dado à leitura e, nas raras vezes que o fazia, tinha de mexer os lábios e cochichar vagarosamente para absorver que no princípio Deus criara o céu e a terra. Entretanto, seu baixo nível de alfabetização não o impediu de me ensinar o pouco que sabia antes mesmo de me mandar à escola. Bondosamente me instruiu – que seja seu o céu que no princípio Deus criou –, e pacientemente aprendi. Fui à pré-escola já alfabetizado, mas o processo de meu letramento iniciou-se somente mais tarde, já que inicialmente a única coisa que eu lia eram alguns anúncios de outdoors nas ruas. A respeito de alfabetização e letramento, tomo como referência um trecho do texto de Lúcia Rottava:
“Alfabetização significa apenas a ação de ensinar/apreender a ler e a escrever, enquanto letramento diz respeito à condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva (dedica-se a atividades de leitura e escrita) e exerce (responde às demandas sociais também dessas mesmas habilidades) as práticas sociais que usam a escrita.” 
(ROTTAVA, 1998, p. 12)
Na pré-escola eu me sentia o guru da turma. Todas as minhas ilustrações eram acompanhadas por um balão de fala, ainda que com palavras um pouco deficientes. Entretanto, não atribuo à escola meu letramento – o que ela fez nos anos seguintes foi nada mais que desenvolver minha capacidade de decodificar os signos da escrita.
“A escola alfabetiza acreditando estar expondo os alunos à pratica da leitura, na verdade o que está fazendo é ‘treinando-os’ a simplesmente decodificarem um material escrito”
(ROTTAVA, 2000, 13).

Foi só mais tarde, quando fui presenteado por uma prima minha com um enorme livro, uma compilação intitulada Um Tesouro de Contos de Fada lindamente ilustrada, que se deu início o meu processo de letramento.
A princípio o que me chamou a atenção foram as ilustrações magníficas, mas pouco depois já estava encantado com os tantos mundos que visitava. Logo, como consequência da leitura, aprimorei minha escrita o bastante para ler de modo mais crítico as cartas que o Papai Noel deixava para mim, e pude chegar à conclusão de que ou o bom velho não existia, ou havia sido alfabetizado por meu pai. Não tardou para que o Papai Noel se tornasse literatura para mim, tanto quanto as personagens de Andersen e dos Grimm.
Passadas algumas tantas páginas, encontrei para mim um dos amigos mais verdadeiros que já tive em um período em que a vida tornava-se cada vez mais assombrosa. Entre o mundo ideal que me fora ensinado em casa e o mundo rude vomitado pela escola, o Dr. Watson mostrou-se uma companhia preciosa. A figura de Sherlock Holmes e o mistério que envolvia suas aventuras deram a mim um novo mundo. As histórias de Arthur Conan Doyle tiveram papel fundamental em minha formação como leitor. Nesse ponto da minha vida a literatura tornou-se parte de mim.
Como letrado, pouco a pouco meus gostos literários amadureceram, e pouco a pouco meus conhecimentos linguísticos foram se ampliando ao passo que se ampliava também meu conhecimento de mundo. Conheci Tolkien, Poe, Hesse; desenvolvi paixões por Machado de Assis e Jorge Amado. Cada livro contribuía para a leitura de outro, cada conhecimento adquirido por uma leitura prévia era um degrau para um novo conhecimento.
 “A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto” 
(KLEIMAN, 1995, p. 13)
Desse modo, assimilei na leitura seu papel incontestável na preservação e construção de novos saberes. A literatura não era mais uma simples distração: passou a ser formação. Adentrei nos versos de Augusto dos Anjos e de Mário Quintana e fi-los pedaços de mim. O romance 1984, de George Orwell, foi um soco no meu estômago; O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse, um uivo nos meus vazios. A leitura não me era mais uma fuga; a leitura era uma
“[...] prática social circunstanciada, favorecendo o alargamento do espírito e das possibilidades de atuação e intervenção na sociedade. [...] Um valor, portanto. Um valor que carrega um princípio de humanidade e que implica, mais que o simples hábito, uma atitude.”
(BRITTO, 2012, p. 30)

Parafraseando Kafka, a literatura tornou-se o machado que constantemente quebra o mar gelado em mim.

DNA Charqueadense

Reescrita
Aluno 52


De estatura mediana em sua maioria, postura ruim, aparentando serem mais velhos do que são, gostam de se meter na vida dos outros, frequentemente associados com presidiários e em grande parte funcionários da Gerdau, esses são os Charqueadenses. Eles nascem,  crescem,  constituem família e morrem em grande parte sem nunca deixar a cidade, o que é extremamente contraditório já que não importa onde você for, irá encontrar um representante dessa espécie.
Eles vão ser seus melhores amigos, até você virar as costas: nesse momento, eles vão começar a falar mal de você, pelo simples prazer de serem falsos, mas não os julgue, isso é algo incontrolável, está em seu DNA. Os moradores de Charqueadas se dividem em 4 principais raças. Os moradores da Vila AFP que juram morar na França ou algum outro lugar semelhante. São fúteis em grande parte, os homens sempre competindo entre si para ver quem tem mais posses e as mulheres, sempre tentando diminuir umas as outras com base no ano do carro de seus maridos ou quantas reformas elas estão fazendo em suas casas. Acham que o mundo é deles e, portanto, não aceitam criticas e nem nada que não seja concordar com a noção de que são perfeitos. Temos também os habitantes do centro que não fazem muito além de trabalhar e dedicarem-se a si mesmos e por isso, não incomodam ninguém; mas também, por se manterem nessa rotina pacata, me passam a impressão de não tirar muito proveito da vida. Ao contrário da maioria das cidades, onde os habitantes do centro são ativos e agitados, essas pessoas são muito calmas.  A penúltima raça é uma junção de vários subtipos: estamos falando dos habitantes da Cohab. Esse bairro é responsável por grande parte do que disse anteriormente, são feios, muito feios. Constituem a parte da população que faz os trabalhos braçais, o que acaba fazendo parecer que são mais velhos do que realmente são. Além disso, também são fofoqueiros, eles são os responsáveis por fazer com que a informação circule na cidade. Por último, mas não menos interessante, os presidiários. Estes são a única coisa que a maioria das pessoas de fora enxerga de Charqueadas. Apesar de serem em grande número e estarem constantemente fugindo dos inúmeros presídios que a cidade possui, estes não influenciam em nada a vida da cidade. Em todas as vezes que tive contato com eles, se mostraram muito civilizados, mais que os vizinhos que estacionam o carro em seu portão e ainda ficam brabos quando você pede que retirem-no, talvez pelo fato de a maioria deles não ser Charqueadense.
Após ler tudo isso, você pode deve achar que eu odeio os habitantes dessa cidade, mas não me entenda mal, não é nada disso, a questão é que, na verdade, eu sou um deles e por isso me sinto obrigado a falar mal de meus conterrâneos sempre que tenho a chance. Como disse, está em nosso DNA.

Parecer_Aluno52

Aluno 52, há algumas mudanças necessárias no teu texto. Mas antes, vou ressaltar alguns pontos positivos nele. Um deles é tu apresentar de que ponto está descrevendo os charqueadenses, sem se deixar de fora do quadro da cidade. Isso estabelece, de certa forma, a tua relação com a descrição dessas pessoas. Entretanto, é importante explicitar o porquê de estar descrevendo essas pessoas. Para que envolva o leitor no momento em que ele lê o texto.
Isso tem muito a ver com a objetividade, por exemplo, como Guedes define, é uma “bronca pessoal”. Qual é a sua bronca com os charqueadenses? Quando você for descrevê-los para alguém, coloque essa bronca junto, objetive essas pessoas, para que elas possam ser montadas na mente do interlocutor. Outro ponto crucial, é você parar pra pensar se essas características são mesmo das pessoas de Chaequeadas ou das pessoas em geral.
Para tornar mais interessante a descrição e para que o leitor consiga visualizar algo através dela, usa-se da concretude. O primeiro passo é evitar adjetivos abstratos que não situem o leitor, como “esnobes” e “chatos”. O que é um chato? Descreva esses chatos, o que os caracteriza como chatos. Assim, como “falsos” e “feios”. O que é ser feio, não seria mais enriquecedor para o texto dizer descrever a aparência deles? Lembre que você tem uma faca na mão, tem que fazer um recorte e mostrar para o leitor aquilo que você quer que ele veja, quer que ele veja com os mesmos olhos que tu, com o teu ponto de vista. Para ti, beleza é uma coisa, para ele é outra. Mas qual você quer apontar?

Boa reescrita.

DNA Charqueadense

1 Versão
Aluno 52



Mesquinhos, feios, frequentemente associados com presidiários e em grande parte funcionários da Gerdau, esses são os Charqueadenses. Eles nascem,  crescem,  constituem família e morrem em grande parte sem nunca deixar a cidade, o que é extremamente contraditório já que não importa onde você for, irá encontrar um representante dessa espécie.
Eles vão ser seus melhores amigos, até você virar as costas: nesse momento, eles vão começar a falar mal de você, pelo simples prazer de serem falsos, mas não os julgue, isso é algo incontrolável, está em seu DNA. Os moradores de Charqueadas se dividem em 4 principais raças. Os moradores da Vila AFP que juram morar na França ou algum outro lugar semelhante. São esnobes, chatos, acham que o mundo é deles e, portanto, não aceitam criticas e nem nada que não seja concordar com a noção de que são perfeitos. Temos também os habitantes do centro que não fazem muito além de trabalhar e dedicarem-se a si mesmos e por isso, não incomodam ninguém. Ao contrário da maioria das cidades, essas pessoas são, em sua maioria, muito calmas.  A penúltima raça é uma junção de vários subtipos: estamos falando dos habitantes da Cohab. Esse bairro é responsável por grande parte do que disse anteriormente, são feios, muito feios. Além disso, também são fofoqueiros, eles são os responsáveis por fazer com que a informação circule na cidade. Por último, mas não menos interessante, os presidiários. Estes são a única coisa que a maioria das pessoas de fora enxergam de Charqueadas. Apesar de serem em grande número e estarem constantemente fugindo dos inúmeros presídios que a cidade possui, estes não influenciam em nada a vida da cidade. Em todas as vezes que tive contato com eles, se mostraram muito civilizados, mais que os vizinhos que estacionam o carro em seu portão e ainda ficam brabos quando você pede que retirem-no, talvez pelo fato de a maioria deles não ser Charqueadense.
Não me entenda mal, não é que eu os odeie com todo meu coração, mas é que moro lá e por isso me sinto obrigado a falar mal de meus conterrâneos sempre que tenho a chance. Como disse, está em nosso DNA.

Comentário por Aluno 50

Aluno 60,

O estilo de escrita leve de linguagem coloquial que você usa dá conta de sua narração e do que ela implica. É fácil notar um questionamento em seu texto, posto que este a todo momento nos faz criar uma expectativa acerca do desfecho. Percebi também em vários momentos o uso de elementos concretos que permitem ao leitor uma boa visualização da cena e do personagem.
O texto apresenta unidade muito bem delineada, possui clareza nas ideias e situa muito bem o leitor dentro do que constrói: passa de uma maneira bastante verossímil o desassossego e a ansiedade que a narradora sente.
Percebo que na reescrita você acrescentou mais informações sobre seu amigo. Isso fortalece a imagem desse personagem para o leitor, fazendo com que crie mais afinidade com a situação a partir do momento que a importância de seu amigo é ressaltada pelas informações que você passou.

Enfim, de modo geral seu texto está bem escrito, entretém e cumpre com seu papel.

Comentário por Aluno 57

Olá aluno 50

           Adorei o teu texto. Sei que devemos comentar levando em consideração os critérios, mas independentemente de qualquer coisa, o texto é muito bom. 
             A unidade temática ficou bem clara, o fato marcante foi o assalto. A forma como fostes expondo os fatos, cheia de detalhes, como o aperto no ônibus, o cheiro de suor, o sorvete na mão do bandido, deram muita concretude ao texto. Consigo imaginar perfeitamente toda a sequência de cenas. Acredito ter questionamento, pois esperamos para ver o que acontece quando do encontro com o assaltante.
            Muito mais pelo conteúdo, do que pela forma, acho que o texto perdeu muito por teres retirado o "lampejo de consciência", que aparece na escrita, após pensares em chutar o assaltante. Penso que essa passagem fazia um link bem interessante com o final do texto, mostrando que tudo tem um outro lado. Mas é o risco que corremos ao reescrevermos um texto que já está muito bom. Abraços. 

Comentário por Aluno 47

 Aluna 55,

  É notável que seus textos mantêm durante o tempo todo unidade temática e objetividade. Notei na primeira versão um forte questionamento que desde o início motivou a leitura. Sua reescrita, no entanto, perdeu um pouco do tom de suspense responsável pela forte motivação quando você alterou o primeiro parágrafo, deixando a leitura mais lenta. 
  Quanto à concretude, é possível perceber grande evolução da reescrita em relação ao primeiro texto, tuas descrições foram felizes na tentativa de fazer imaginar o seu voo e todas as imagens que você via. Além disso, na primeira versão, fiquei um pouco confusa quanto à construção dos parágrafos e quanto a concordância citada no teu parecer, problemas também resolvidos na reescrita. 

Por Aluno 54

Aluno 63,

    Primeiramente, gostei da forma que escolheste para narrar, usando o fluxo de consciência. A sequência rápida de ideias dá uma ideia de simultaneidade, enquanto lia conseguia imaginar a cena. Alguns aspectos do texto deixam a concretude bem clara, como citar a cor da sala, do quarto. No entanto, gostaria de ter recebido mais informações do autor. O texto ficou curto, o que não é ruim, mas se ficasse maior talvez algumas informações poderiam ter sido acrescentadas.

     A expectativa de descobrir quem/o que é dá um tom legal ao texto, realmente tive vontade de chegar ao fim, e apesar de ter indicações ao longo dele foi uma surpresa agradável descobrir que era teu irmão. Senti a presença de um narrador que participava e dava o próprio ponto de vista.

Comentário por Aluno 62


Aluno 53


Teu texto é muito interessante e, de fato, cumpre com os critérios propostos para uma narrativa. Ele é objetivo, não deixando o leitor (nesse, caso, leitora) confuso com conceitos mal explicados; ele apresenta concretude, já que é possível visualizar toda a situação exposta; há unidade temática, pois você mantém sempre o mesmo enfoque; e, por fim, há questionamento, pois a construção do texto nos faz querer continuar lendo. Além disso, ele também é engraçado e humorístico, principalmente na última frase: " - Tem sim, moça. Ali na frente. Só me diz aí a placa do teu carro pra eu anotar aqui, por favor. ". Você soube jogar muitíssimo bem com toda essa situação. De forma geral, é um bom texto.

Letras: amor, ódio e amor.

Reescrita
Aluno 47


      Minha memória de escrita começa ainda muito cedo: aos três anos de idade, acompanhava minha mãe no curso de Magistério e, devido à idade apropriada e ao interesse, acabei virando “cobaia” do grupo inteiro. “Bianca, sabe que letra é essa?” “Bianca, sabe como se pronuncia esses dois sons juntos?”. Eu ganhava livrinhos coloridos que estimulavam a leituras, exercícios de contorno das letras cursivas em cadernos de caligrafia e professoras de dedicadas que tentavam me ensinar de todas as formas; elas, uma aluna para testarem seus métodos.
     Depois de alguns meses de esforço conjunto, finalmente, em um sábado ensolarado na turma de Magistério, li minha primeira palavra. Estava escrita no quadro negro e, quando ninguém estava prestando atenção em mim, li-a em voz alta, com convicção e sucesso, para alegria e festejo da turma toda que me ouviu.
      Essa foi a primeira e uma das minhas mais marcantes memórias de leitura. Fui despertada ao mundo das letras, antes mesmo do período escolar, pelos meus pais. Este é um dos tópicos abordados por Rottava (2000), a autora diz que, uma vez conscientes desse papel, os pais devem ser responsáveis pelo incentivo da leitura, pois a leitura é fundamental ao indivíduo no meio social, faz parte de todas as áreas do conhecimento e é importante a todas as comunicações. Nesse aspecto, fui muito bem contemplada pelos meus pais.
      Lembro-me dos primeiros livrinhos que consegui ler: “O Patinho Feio”, “O Boto Cor-de-rosa” e a “A Estória do Abacaxi”. Segundo Britto (2012), a leitura de mundo precede a leitura de palavras, é feita primeiramente através do nosso conhecimento prévio sobre o assunto. Hoje, então, sei que os li, mas não palavra a palavra, uma vez que minha mãe já havia lido milhares de vezes aqueles textos para mim e, assim, eu apenas identificava o que estava escrito utilizando minha vivência sobre aqueles livrinhos.
      Quando entrei na escola, a leitura já era fácil. Minha professora solicitava que lêssemos uma palavra para cada letra do alfabeto e eu já conseguia fazê-lo quase instantaneamente. A partir desse momento e até o ensino médio, a leitura por prazer adormeceu na minha vida e ela se tornou unicamente escolar: livros didáticos, textos de história, geografia, artes. O incentivo familiar direcionou-se para as leituras “obrigatórias”. Segundo Britto (2012), essas leituras escolares não participavam para a minha construção como leitora, embora envolvessem teoricamente aprendizados, apenas faziam parte do meu dia a dia. A falta de interesse que essas leituras me incitavam, por causa da forma como me eram apresentadas, excluía o papel fundamental da leitura de um texto: ampliar as formas de perceber o mundo, construir um leitor com pensamento crítico.
     Penso que a falta de incentivo à leitura por prazer tenha sido responsável pelo meu temporário desinteresse. Fato esse, que me causou grandes problemas com as disciplinas, principalmente com as que exigiam maior capacidade com as palavras, afetando, consequentemente, a minha produção de conhecimento de forma geral.
Ler e escrever são particularmente indissociáveis, pois podem ser vistos como evento social, no qual os leitores, do mesmo modo como os escritores, compartilham pensamentos e idéias e, particularmente, objetivos afins que os constituem também produtores de conhecimentos. (ROTTAVA, 2000, p. 14).
     Logo, podemos concluir que quem não lê, tem dificuldades para escrever e, por conseguinte, para entender sintaxes e interpretar textos que ficam, a cada nível, mais difíceis no contexto escolar. Não apenas para a língua portuguesa, mas em todas as disciplinas, pois têm por objetivo construírem conhecimentos utilizando as interpretações e os conhecimentos de mundo.
    Sempre suspeitei que a falta de leitura fosse responsável pelas minhas dificuldades, mas nenhum livro me interessava, nem me fazia sentir algo que eu sentia quando tocava algum instrumento musical, que me fizesse entrar em um mundo e perceber outros sentimentos. Naquele momento, eram apenas palavras jogadas no papel. Ainda assim, lia com freqüência gibis da Mônica e as histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo do Monteiro Lobato, simplesmente por fazerem parte do meio social escolar em que eu estava inserida.
      Foi somente no segundo ano do ensino médio, quando decidi pela profissão da medicina e, por essa razão, freqüentei um curso pré-vestibular, que meus hábitos mudaram. Depois de ler os maçantes Lucíola de José de Alencar e O Uraguai do Basílio da Gama, estava decidida que nunca mais teria gosto pela leitura. Foi então que o meu professor do cursinho desafiou as meninas a lerem e compreenderem o complexo romance de Clarice Lispector: A Paixão Segundo GH. “Desafio aceito!”. Apaixonei-me a primeira vista, identifiquei-me instantaneamente e percebi que a leitura é muito mais do que palavras jogadas em um papel, mesmo sendo esta a impressão que temos ao ler textos que não compreendemos ou não nos interessam.  
      Não consigo avaliar se a lembrança do meu primeiro livro como leitora de fato é mais forte que a leitura da minha primeira palavra, pois ambas são essenciais para minha vida. No entanto, foi Lispector quem me motivou e que, verdadeiramente, me fez ter vontade de ler outros livros, conhecer o mundo que se esconde em cada história, os sentimentos que podem existir. A partir de então, nunca mais parei de ler por prazer, passei a estar sempre com um título novo por perto.
       A paixão pelo mundo da leitura foi tão forte que se transformou em mudança de planos: deixar o sonho da medicina e ir para o curso de Letras, onde poderia estudar aprofundadamente a literatura e aprender de forma mais técnica sobre os livros. A leitura, que antes era tão desinteressada, tornou-se profissão.

REFERÊNCIAS
ROTTAVA, Lucia; A Importância da Leitura da Construção de Conhecimento In Espaço da Escola; n. 35; p. 11-16; 2000
BRITTO, Luiz P.L; Leitura: acepções, sentido e valor In Nuances: estudos sobre Educação; v.21. n. 22; p. 18-22; 2012

Parecer_Aluno47

A sua produção conta com o encadeamento de experiências relativas à prática da leitura, descritas sob um bom detalhamento das memórias. Isso é dizer que você atende à peculiaridade de um memorial, que nada mais é que uma compilação de memórias sobre algo, mediante, além disso, de um dissertar concreto e suficientemente objetivo. Percebem-se, portanto, os motivos que levam a autora a discorrer: apresentar-se como leitora, basicamente.
A proposta em questão requeria o tratamento de um ou mais conceitos de leitura, de modo que as percepções da autora quanto ao ato de ler ficassem evidentes; e, todavia, há pouco desenvolvimento dos trechos que se ocupam disso. Note que ao falar do entendimento de Britto (2012) sobre leitura ou do papel que, segundo Rottava (2000), os pais têm na formação de um filho leitor, a autora o faz apressadamente, sem se demorar muito na abordagem dessas ideias. Experimente, portanto, concatenar essas ideias referenciais com as suas próprias de modo mais natural e fluido, em oposição a simplesmente incluí-las. Isso evitará uma fragmentação no que deveria ser uma linearidade temática do texto e, consequentemente, você soará mais coerente e convincente ao se apoiar em referenciais, pois uma correlação entre as ideias poderá ser mais facilmente percebida pelo seu interlocutor.
Além de considerar essas observações, você deve atentar para os aspectos linguísticos e formais de sua composição. Se reler seu texto, identificará alguns problemas de coesão e falta de clareza em alguns trechos, como é o caso do fim do último parágrafo, que está um tanto quanto confuso. Algo com que também se deve ter cuidado é a extensão de períodos: o quinto parágrafo é uma situação-exemplo. Períodos muito extensos, se não cuidadosamente redigidos, podem se tornar confusos e comprometer a fluidez da leitura, pois geralmente encerram ideias muitas vezes desconexas. Talvez fosse bom pensar em uma reformulação do trecho em questão.

Letras: amor, ódio e amor.

1  Versão
Aluno 47


      Minha memória de escrita começa ainda muito cedo: aos três anos de idade, acompanhava minha mãe no curso de Magistério e, por causa da idade apropriada e o interesse em aprender, acabei virando “cobaia” do grupo inteiro. “Bianca, sabe que letra é essa?” “Bianca, sabe como se pronuncia esses dois sons juntos?”. Eu ganhava livrinhos de pinturas com pequenos textos, exercícios de contorno das letras cursivas em cadernos de caligrafia e professoras de dedicadas que tentavam me ensinar de todas as formas; elas, uma aluna para testarem seus métodos.
      Depois de alguns meses de esforço conjunto, finalmente, em um sábado ensolarado na turma de Magistério, li minha primeira palavra: ela estava escrita no quadro negro e, quando ninguém estava prestando atenção em mim, li-a em voz alta, com convicção e sucesso, para alegria e festejo da turma toda que me ouviu.
      Essa foi a primeira e uma das minhas mais marcantes memórias de leitura. Fui despertada ao mundo das letras, antes mesmo do período escolar, pelos meus pais. Este é um dos tópicos abordados por Rottava (2000), a autora diz que, uma vez conscientes desse papel, os pais devem ser responsáveis pelo incentivo da leitura e, neste aspecto, não tenho o que reclamar.
      Lembro-me dos primeiros livrinhos que consegui ler: “O Patinho Feio”, “O Boto Cor-de-rosa” e a “A Estória do Abacaxi”. Segundo Britto (2012), a leitura de mundo precede a leitura de palavras. Hoje, então, sei que os li, mas não palavra a palavra, uma vez que minha mãe já havia lido milhares de vezes aquelas historinhas para mim e por isso conseguia identificar o que estava escrito.
      Quando entrei na escola, a leitura já era fácil. Minha professora solicitava que lêssemos uma palavra para cada letra do alfabeto e eu já conseguia fazê-lo quase instantaneamente. A partir desse momento e até o ensino médio, a leitura por prazer adormeceu na minha vida e ela tornou-se unicamente escolar: livros didáticos, textos de história, geografia, português, artes. O incentivo familiar direcionou-se para as leituras “obrigatórias”, o que segundo Britto (2012), não eram leituras que participavam para a minha construção como leitora, uma vez que apenas faziam parte do meu dia a dia. Penso que isso talvez tenha sido responsável pelo meu temporário desinteresse, fato que me causou grandes problemas com a disciplina de língua portuguesa, pois a leitura tem relação direta com a escrita, logo quem não lê, tem dificuldades para escrever e, por conseguinte, para entender a sintaxe e interpretar os textos de língua portuguesa que ficavam cada vez mais complexos.
      Sempre suspeitei da importância da leitura para melhorar meu rendimento na disciplina de língua portuguesa, mas nenhum livro me interessava ou me fazia sentir algo que eu sentia quando tocava algum instrumento musical, algo que me fizesse entrar em um mundo e perceber outros sentimentos. Naquele momento, eram apenas palavras jogadas no papel. Ainda assim, lia com freqüência gibis da Mônica e as histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo do Monteiro Lobato, mas simplesmente por fazerem parte do meio social escolar em que eu estava inserida.
      Foi somente no segundo ano do ensino médio, quando decidi que queria cursar medicina e, por isso, entrei adiantadamente em um cursinho pré-vestibular, que meus hábitos mudaram. Depois de ler os maçantes Lucíola de José de Alencar e O Uraguai do Basílio da Gama, estava decidida que nunca mais teria gosto pela leitura. Foi então que o meu professor do cursinho desafiou as meninas a lerem e compreenderem o complexo romance de Clarice Lispector: A Paixão Segundo GH. “Desafio aceito!”. Apaixonei-me a primeira vista, identifiquei-me e percebi que a leitura é muito mais do que palavras jogadas em um papel, mesmo sendo esta a impressão que temos ao ler textos que não compreendemos e que não são do nosso interesse.
      Não consigo pesar se a lembrança do primeiro livro que me marcou como leitora é mais forte do que a da leitura da minha primeira palavra, pois ambas são essenciais para minha vida. No entanto, foi Lispector que me inseriu no mundo da leitura, que, verdadeiramente, me fez ter vontade de ler outros livros, conhecer o mundo que se esconde em cada história, os sentimentos que lá podem existir.
      A partir de então, nunca mais parei de ler por gosto. Ler mais de um livro ao mesmo tempo não teve mais problemas - hoje, é até mesmo uma necessidade. A paixão pelo mundo da leitura foi tão forte que se transformou em mudança de planos: deixar o sonho da medicina e ir para o curso de Letras, onde poderia estudar aprofundadamente a leitura e os belíssimos mundos que se escondem atrás das letras.

REFERÊNCIAS
ROTTAVA, Lucia; A Importância da Leitura da Construção de Conhecimento In Espaço da Escola; n. 35; p. 11-16; 2000
BRITTO, Luiz P.L; Leitura: acepções, sentido e valor In Nuances: estudos sobre Educação; v.21. n. 22; p. 18-22; 2012

COMO APRECIAR UM BOM CAFÉ

Reescrita
Aluno 54


       Não é preciso ser um barista – aquele cuja especialidade é o café – para preparar um bom café e, por conseguinte, para apreciá-lo. Existem duas premissas básicas para a apreciação do café: ele precisa ser passado, à moda antiga, e o ambiente onde a bebida será ingerida precisa ser aconchegante.
       Esqueça, por favor, o café solúvel. Não tente criar exceções com aquelas marcas que são vendidas no mercado como um Nescafé Gourmet ou um Iguaçu. Tenha sempre em casa pó de café original, aquele que vem dos grãos moídos de uma pequena mercearia de bairro.  A preparação do café é rápida: em um comercial, durante o seu programa de televisão favorito, a bebida pode ficar pronta.
       Da união do pó de café, da água quente e de um filtro de papel dá-se início um dos processos mais prazerosos dos momentos de lazer. Como mágica, o líquido preto que já foi chamado de ouro negro (com muita razão), começa a pingar no bule e o cheiro que se espalha pela casa chega à narina como um consolo. Quase se sente o calor da bebida, como um agasalho de lã sendo colocado, só pelo cheiro marcante. Com o café pronto basta escolher uma xícara, adoçar, e se preparar para a melhor parte.
         A cereja do bolo está no ambiente em que o café é apreciado. Principalmente se esse ambiente for uma sala pouco iluminada, onde a luz da televisão ou a de uma luminária sob um clássico de Veríssimo prevalece. O centro desse microcosmo chamado sala é um sofá grande e confortável, com muitos travesseiros e com uma coberta antiga vermelha, fiel companheiro só esperando você se acomodar.  
        Assim, após preparar seu café fresquinho e se acomodar no sofá, usando um pijama confortável e meias quentinhas, o ato de beber café é quase uma demonstração de carinho: o primeiro gole quente e amargo assusta o estômago, como se fosse um estrangeiro tentando encontrar seu lugar, mas o segundo gole é como um abraço; o calor da bebida enlaça o corpo e o aquece, superando o frio da rua e da casa. Agora, esse é um momento íntimo. A combinação do ambiente com o café passado cria uma esfera até pacífica dentro de casa, como se a bebida fosse sua melhor amiga, pronta para ouvir seu desabafo e te apreciar, assim como você a aprecia.

Parecer_Aluno54

      Aluno 54, teu texto está muito bom. Ele descreve o processo de uma forma bastante interessante, quase dá pra sentir o cheiro do café e ver o tempo lá fora tipicamente londrino. Você interage e apresenta a tua opinião sobre o texto de uma forma bem peculiar, assim é possível ver o teu ponto de vista e ver que se trata de uma apaixonada por café. Mantenha isso.
     Apenas um problema formal com a divisão de parágrafos, lembre que quando muda de assunto, muda o parágrafo. Por exemplo, no segundo quando passa de café moído a apetrechos para passar o café. Afora isso, cuidado com a formatação. Insira o cabeçalho proposto pela professora.

Boa reescrita.