segunda-feira, 29 de junho de 2015

Dia 8.

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Aluno 51


Decidimos que seria feito a moda antiga. Com a família reunida em casa, e alguns no quarto para ajuda-la nesse momento tão delicado. Sem médico, sem hospital, em casa. Como costumava acontecer quando essa era a única opção. Estava tudo encaminhado do jeito que deveria ser. A previsão de que aconteceria até no máximo o dia 25 estava correta, visto que estávamos no dia 8. Então era isso, aconteceria hoje. Sem cirurgia, sem hospital, mas naturalmente, como as coisas devem acontecer.
E, começamos a ouvir os gritos. Típicos gritos de dor, ou seriam de alívio? Não sei. Mas eram gritos. Gritos que fizeram com que nós, que estávamos aguardando na sala, entrássemos no quarto para tentar oferecer qualquer tipo de conforto a ela. E, de certo modo, conseguimos. Ela estava ofegante como qualquer mulher em sua situação estaria. Suava e se esforçava para que aquilo acabasse logo, pois já não aguentava mais de dor. Ninguém aguentava.
Estávamos cansados daquela tensão, inclusive mais cansados do que ela. Porém sabíamos que aquilo já iria passar, que em poucos minutos a dor que ela sentia iria embora, os gritos iriam calar. E assim aconteceu. Depois de algumas horas ali, trabalhando duro, lutando por aquela vida, ela finamente conseguiu. O silêncio, então, tomou conta do quarto, e principalmente, dos nossos corações.
Não era nascimento. Era morte.
Já questionaram a ironia que é essa vida? Nascemos ao lado da nossa família, construímos, com eles, o maior vínculo existente durante a nossa vida, e então na hora de morrer, no exato momento em que deixamos esse mundo, nos encontramos separados uns dos outros. Ela não queria isso. Nós não queríamos isso. Então não o fizemos. Apoiamos ela em sua última decisão, assim como a apoiamos durante a sua vida toda.
E aconteceu. Preencheu o quarto de silêncio, ela de alívio e nós de saudade. Preencheu a vida de sentido, nós de tristeza e ela de saudade. Selou o amor, como um laço que muitas vezes difícil de colocar, sela uma caixinha de presente. E assim, finalmente, ela selou a vida.

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