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Aluno 50
Quem já foi impelido a escrever qualquer tipo de texto, tanto pela vontade própria como por compromisso acadêmico, dirá sem sombra de dúvidas que não se trata de uma tarefa fácil; e talvez até menos pela dificuldade que existe em passar ideias claras e estruturadas para o papel e mais pela disciplina que a atividade demanda. Assim como não há escrito nem escritor que escape totalmente dessas inconveniências, seja qual for o gênero textual trabalhado, não há também texto que não possa ser escrito. E para amenizar os obstáculos, atrevo-me a relatar as etapas que uso para o processo de escrita de um texto de modo geral. Não tenho intenção de apontar um “jeito certo” de proceder – até porque não sou ninguém para fazê-lo –; apenas quero compartilhar o que tem funcionado comigo para um problema que vejo ser de muitos.
Antes de qualquer coisa, é fundamental ter consciência de que a leitura é imprescindível para se escrever bem. Não é só conhecidíssima a frase que afirma que “um bom escritor é um bom leitor” como é também muito verdadeira. Posto isso à parte, a primeira etapa propriamente dita se baseia em conceber uma ideia, a essência do texto.
Ter sobre o que falar, para muita gente, é considerado o passo mais difícil do processo. Como gerar uma ideia pode tomar muito tempo, justamente do que pouco se dispõe, uma boa forma de proceder é usar daqueles longos períodos de espera do cotidiano (filas demoradas que dão voltas e voltas, ou então as idas e vindas dentro do ônibus, por exemplo) para pensar em algo. Observar o cotidiano e refletir sobre ele pode ser bastante recompensador. Em todo caso, uma coisa é certa: torna-se muito mais difícil ser acometido por uma ideia ao simplesmente permanecer encarando o papel em branco ou o ponto de inserção do Word – o máximo que este último fará é continuar piscando irritantemente. Eu mesmo já travei batalhas inúteis contra páginas em branco e acabei com a cabeça mais vazia do que elas.
Surgida a ideia, é hora de tomar algumas precauções antes de por a escrita em prática. Para essa etapa é estritamente necessário desligar-se de tudo ao redor e ter como companhia nada mais que um dicionário – uma questão de disciplina. A ajuda da internet pode ser muito útil em alguns casos, mas perigosíssima em tantos outros. Acessamos em dado certo instante e no seguinte não sabemos como fomos parar tão longe. É uma terra sem lei. E não são as distrações os únicos males: estas andam a dançar ciranda com a procrastinação. É preciso ter em mente que o momento escolhido para escrever não é hora de dar banho no cachorro ou de fazer bolo: é hora de sentar, tendo em mente que escrever deitado promove risco de letargia momentânea, e começar a redigir o texto.
O que pode facilitar a primeira escrita é a simples técnica de arremessar as ideias na página em branco. Sintaxe e ortografia podem esperar. Autocrítica usada em doses muito moderadas, de modo que não interrompa, o fluxo da escrita. Em suma, que o escritor se entenda já é mais que suficiente nessa etapa. E então, quando julgar que todas as ideias estão expostas, é dado o momento de o escritor inserir o ponto final, ponto dos pontos. É batalha vencida – o que se segue é a tarefa de por ordem ao caos e vencer também a guerra.
O próximo passo é ler o texto de modo crítico e reescrevê-lo. É essa a hora de reformular conceitos, apropriar a forma, parágrafos e orações, atentar ao excesso de adjetivações e à clareza, eliminar qualquer evidência de ambiguidade – enfim, consolidar a ideia inicial. Até aqui o processo resume-se basicamente em escrever com liberdade e editar com disciplina.
Resta então reler, reler, reler, e reescrever, reescrever, reescrever. Quantas vezes achar-se necessário. Contudo, em certa altura será preciso despachar o texto. Caso haja data fixa de entrega não há mistério em como proceder. Existem, porém, textos sem prazo de entrega, e desses o próprio tempo vai se encarregar. Tantas reescritas, compromisso assombroso a que o escritor se sujeita, o farão querer em dado momento livrar-se de uma vez do que escreveu. Restará então ao texto o destino ou de ser publicado, ou de ser lançado à lixeira, ou de ser guardado em alguma gaveta, talvez numa caixa de sapato velha, e ser lembrado às vezes e lamentado pelo que poderia ter sido.
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