quinta-feira, 4 de junho de 2015

Apresentação e despedida

Reescrita
Aluno 64


Costumo dizer que não escolhi a vida de professora; foi ela que me escolheu. Filha de uma professora frustrada, e sobrinha de outra, que descobriu-se educadora findo o entusiasmo da juventude, cresci cercada de cadernos de chamada, provas e programas de disciplina. Nada mais natural que manifestar interesse pela profissão, especialmente após descobrir meu amor pela língua inglesa. Um ano depois de concluir o Ensino Médio, eu já me decidira pela licenciatura, certa de que nascera para lecionar. Passaram-se dois anos desde então, e minha convicção tornou-se dúvida.
Quando meu primeiro vestibular resultou em fracasso, busquei outras maneiras de aprender mais sobre educação. Enquanto estudava para realizar nova tentativa de entrar na universidade, iniciei o curso de Aproveitamento de Estudos, antigamente conhecido como Magistério. Apesar de ser a única aluna em minha turma com menos de trinta anos, não tive problemas para conectar-me com minhas colegas; elas traziam perspectivas muito diferentes das minhas, e o resultado foi bastante positivo. Tive a oportunidade de vivenciar e trabalhar com faixas etárias com as quais não teria contato no curso de Letras, e durante seis meses ministrei aulas de inglês para crianças de três à oito anos. Minhas dúvidas quanto ao futuro na carreira de professor começaram nessa época, e pouco depois ingressei na universidade. As incertezas cresceram;  passei a perceber traços meus que julgo incompatíveis com os de um bom professor, e encontrei situações com as quais não soube lidar. Ainda que o desejo de transmitir o que aprendi sempre estivesse presente, não consegui ignorar o enorme desconforto por estar entre tantas pessoas, sabendo ser o foco de suas atenções. As perguntas repentinas me deixavam desnorteada e em alguns momentos o burburinho causava pânico.
A vida acadêmica também não forneceu a empolgação que eu esperava. Com frequência senti-me "deslocada" durante as aulas, incapaz de prestar a devida atenção aos assuntos tratados. Descobri ter perdido o amor pela literatura, que cultivei desde a infância, e o breve affair com a Linguística minguou rapidamente. O gosto pela língua estrangeira ainda existe, bem como o interesse no estudo de temas relacionados à educação, mas por si só não são suficientes para impulsionar os próximos quatro anos.
Penso que uma profissão mais solitária seja a melhor escolha, ainda que não tenha certeza de qual rumo seguir. Parte de mim lamenta abandonar o curso, e sabe que o carinho que recebi de colegas e professores deixará saudades. A outra parte, porém, está contente com a ideia de trilhar novos caminhos, feliz em saber que existem estudantes apaixonados, dispostos a transformar em realidade o sonho que um dia compartilhei.

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