quinta-feira, 4 de junho de 2015

A derradeira mensagem

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Aluno 62


Estava eufórica. Nunca havia bebido antes porque tinha medo que meus pais descobrissem. O que, afinal, seria de mim, caso eles descobrissem? A vergonha da família, definitivamente. Engoli meu medo junto com o vinho barato. No primeiro gole, não senti nada além de um amargor em minha boca – que era um tanto quanto desagradável. Obriguei meu paladar a acostumar-se com o gosto. “Como é que as pessoas conseguem gostar disso?”, pensei.  
O tempo passava cada vez mais depressa e eu decidi, então, tomar um gole “de respeito”, como diziam os amigos que estavam à minha volta. Assim, foi-se praticamente metade da garrafa. Senti, então, o efeito do álcool, popularmente conhecido como porre. Olhei ao redor do parque em que estávamos e passei a ver tudo duplicado: uma árvore transformou-se em duas, cada um dos meus três amigos transformou-se em dois e eu estava duplamente confusa.
“Meu deus, o que tá acontecendo?!”
Ouço o celular tocar. Meu pai. De alguma forma desconhecida e milagrosa, fico sóbria e atendo.
“Sim, pai, tudo ótimo, daqui a pouco volto pra casa.”
Desligo. Tudo volta a duplicar, exceto meu medo, que sumiu completamente – talvez, ele tenha sido dissolvido pelo álcool. O importante é que, depois disso, tudo parecia possível, pelo menos naquele momento. A única coisa impossível era levantar; felizmente, após 3 tentativas fracassadas, consigo. Ok, agora sim, tudo é possível, exceto que... perdi a noção do tempo. A noite se aproximava, ao contrário da minha sobriedade, que estava cada vez mais longe do meu alcance. O medo volta fulminante e, misturado com o álcool, transformou-se em desespero, ou, melhor dizendo: pânico.
“Meu pai vai me matar. Meu pai vai me matar. Meu pai vai me matar!”
Eu imaginava a cena, aliás, imaginava múltiplas cenas. Há inúmeras formas pelas quais isso poderia ser feito, e cada uma delas passava na minha cabeça como um flash.
“É hoje, é hoje... eu quase não vivi!”
O celular toca. Meu pai. Dessa vez, uma mensagem:
“Filha, não vou estar em casa quando tu chegar. Bjs pai”
Sobrevivi ao meu primeiro porre.

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