Aluno 65
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Foi difícil entrar na faculdade, mas está mais ainda mais difícil permanecer. Não estou reclamando, mas quero dormir oito horas por dia como todo mundo. Eu sei. Avisaram-me que ao entrar no curso de letras eu viraria um ‘’zumbi’’. Confesso que não acreditei. Mas agora, ao sair da aula de leitura e produção textual, vejo que levei um ‘’choque de realidade’’. Eu já sabia que teria que revisar para as duas provas que tenho amanhã. Mas não imaginava que iria receber mais uma tarefa. Um texto. Meu deus. Um texto. E a que horas eu durmo as minhas oito horas de sono?
Ontem, quarta-feira, eu planejei o dia de hora antes de dormir: iria chegar em casa – mais ou menos às cinco – iria comer algo, tomar banho, revisar para as provas e, então, iria dormir às 22:00. Finalmente eu iria dormir oito horas. Quanta alegria. Mas agora, em um passe de magica, isso mudou. Menos o meu sono. Ele continua o mesmo. Ou maior.
Vejo-me, então, - sentada no corredor, esperando a próxima aula – planejando o dia, outra vez, mesmo ele já tendo iniciado. Eu quero ir bem nas provas e entregar o texto. Mas, acima disso, quero dormir as minhas oito horas. Mas é quase obvio que não dará certo. Tento, portanto, achar uma maneira. Talvez deixar de lado uma horinha de sono e dormir apenas sete. Não. Isso não. Ou então eu estudo só para uma prova. Não. Depois, certamente, eu iria me arrepender. Penso em desistir das minhas oito horas. Não. Muito menos isso. Droga! Desisto!
Não, calma! Eu vou conseguir. Tem que haver um jeito de eu fazer tudo o que tenho para fazer e ainda dormir oito horas. Tem que haver. Eu posso comer mais rápido. Ou tomar banho mais rápido. Ou se eu fosse uma pessoa de sorte a prova seria adiada. Mas dai já é sorte demais.
Vou para a próxima aula. O pensamento continua o mesmo. Dormir oito horas. Eu olho para o quarto, olho para o caderno, olho para a professora. Pareço estar interessada pela aula. Meu corpo e meus gestos involuntários estão ali, mas a minha cabeça está lembrando da minha cama que, até ontem, eu tinha certeza de que iria usá-la oito horas, em plena quinta-feira. As horas passam e nada de eu achar uma solução. Sou teimosa. Não vou desistir.
A aula segue. A professora corrige os exercícios. Nos dá uns ‘’puxões de orelha’’. Quando, de repente, ouço, no fundo da sala, uma voz:
- A prova é semana que vem.
Meu deus. Minhas oito horas de sono voltaram.
Tudo parece estar resolvido. Eu já me vejo indo bem na prova que restou e fazendo o texto com calma. Minha mente, portanto, além de voltar à aula, está aliviada. E eu feliz. Não precisarei achar uma maneira de fazer tudo e ainda conseguir dormir. Vou cumprir o que havia planejado. Quanta alegria!
Mas meu Deus. Quase enlouqueci pensando na mesma coisa o dia inteiro, quando uma simples frase resolveu o meu dilema. Olhando agora para tudo o que eu pensei, vejo o quão dramática sou. Já é quinta-feira. Amanhã, com certeza, eu iria conseguir dormir oito horas. Mas o fato é: não queria esperar até amanhã. Eu já tinha esperado muito pela quinta-feira. Eu poderia, também, ter dormido cedo nos outros dias. Porém, estava ocupada demais sendo zumbi. Restou apenas o dia de hoje e eu já estava convicta de que iria conseguir. Bom, vou conseguir. Graças a Deus.
Finalmente a aula chega ao fim. Todos saem rapidamente. A professora, como de costume, nos dá adues, nos lembra da próxima aula e, obviamente, de estudar. Tudo muito clichê. Quase ninguém, até mesmo eu, escuta.
-Tchau queridos!
- Não esqueçam, estudem.
- A prova é amanhã.
Droga! Dessa vez eu escutei!
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