quarta-feira, 14 de maio de 2014

Quem é o monstro

Reescrita
Por Aluno 16


            Eu e minha família somos loucos por cachorros desde sempre! Nós temos o costume de juntar todos que estão na rua, levar para casa, cuidar, dar banho e depois deixar o animalzinho pronto para adoção. Geralmente encontramos uma família que o ame e que o trate com muito afeto. Somos assim: não conseguimos ver ninguém sofrer e tentamos fazer nossa parte para a construção de um mundo melhor. Enquanto ainda não podemos transformar nossa casa em um albergue para pessoas, ajudamos os cães, pois estão mais ao nosso alcance. Vale dizer que sempre temos os "cães fixos", os quais ficam até o fim da vida em nossa casa.
            Naquele tempo, eu tinha duas cadelas fixas: uma Pit bull e uma Linguicinha (Dachshund). A Linguicinha tinha um nome deveras criativo: Violeta, já a Pit bull, nem tanto: Pitty. Como todos sabem, a raça da Pitty não é das mais amistosas e ainda que ela fosse muito amável com as pessoas, odiava os mesmos de sua espécie. Não podia conviver com os outros cães e é por isso que a deixávamos em um canil separado, pois além de sua ferocidade, ela era muito forte e podia acabar com os outros cachorros em minutos. A Violeta também não era das mais fáceis de se conviver, mas sua força não assustava ninguém, então ela podia ficar livremente pelo pátio.  Sempre tivemos muito cuidado para manter as duas longe uma da outra, logo que já vivenciamos um episódio de briga entre elas, a qual Violeta sentiu ciúmes de Pitty, pois meu irmão estava dando carinho e atenção à Pit Bull. O ciúmes da cadela fez com que a mesma voasse no tendão da outra, e ao sentir a dor, Pitty se virou e mordeu o pescoço de Violeta. Foram três longas semanas em função de veterinário, na tentativa de salvar a cadela. De início a veterinária achou que ela não iria mais andar,  porque a mordida foi tão forte que esfarelou alguns ossos do pescoço. No fim deu tudo certo, e Violeta voltou sã e salva, com um belo buraco da profundidade de um dedo no pescoço, mas viva e feliz! Depois desse dia, Pitty não pôde mais usufruir de suas horas em liberdade,  já que o perigo era constante.
            Certa vez, Violeta fugiu de casa, deu um belo passeio com algum viralata e voltou prenha! Foi um alvoroço lá em casa, nós não estávamos esperando a vinda de novos filhotes, mas... paciência! Aguardaríamos a hora do parto e prepararíamos cartazes para a doação da ninhada. Já aconteceu de resgatarmos cadelas prenhas ou receber ninhadas, sempre estávamos preparados. Portanto, nos meses de gestação, a cadela foi tratada como uma lady, dado que ela já estava um tanto velha para encarar um parto. Ganhava leite, muito carinho, comida de panela e tardes aconchegantes na sala, tinha até uma caminha azul celeste, feita de tricô pela minha vó e preparada especialmente para a chegada dos cachorrinhos; porém, temos uma regra restrita: nada de cachorros dentro de casa à noite, não importa a situação. Não costumávamos deixar os cães dentro de casa durante o dia também; não obstante, a gravidez era uma exceção e durante o dia ela podia ficar.
            Em uma noite de temporal, Violeta resolveu parir. Pariu na chuva e no frio da laje escorregadia da nossa casa, onde os filhotinhos podiam muito bem pegar uma pneumonia e falecer. Pitty, ao se deparar com a situação, instintivamente abriu a portinhola enferrujada do canil, pegou os filhotinhos e os levou para dentro de sua casinha de madeira que estava cheia de travesseiros velhos e sujos, mas quentinhos e acolhedores como carinho de mãe! A outra foi atrás e entrou junto a fim de amamentá-los e fazer todos procedimentos que uma mãe-cachorro faz. Como a casa estava muito apertada com os todos os filhotes e as cadelas lá dentro, a nossa Pit bull resolveu que quem devia sair do local e ficar na chuva era ela, e assim o fez. Pitty estava na laje gélida e Violeta dentro da casinha da Pitty, cuidando de seus filhotes. Quando amanheceu, foi essa a cena que vimos, nos demos conta do ocorrido e fizemos uma boa perícia do acontecimento para poder entendê-lo.

            Elas morreram depois de muito tempo após o ocorrido, Violeta faleceu com 18 anos e Pitty com 14, o cachorrinhos foram todos doados e não sei o fim deles. Essa história serve para que aprendamos a nos colocar no lugar dos outros e não pensar tanto no benefício próprio, talvez nem tenha ocorrido exatamente assim, mas o que meus olhos e meu cérebro captaram, no auge dos meus 12 anos, foi isso. Sempre conto o ocorrido com muito orgulho das minhas duas cadelas que, mesmo sendo inimigas mortais, conseguiram ultrapassar a barreira do orgulho e se ajudar no momento de dificuldade. Levo essa lição para a vida toda, porque muitas vezes agimos de forma tão egoísta e apenas por insolência. Como diria Seu Madruga do programa de TV "Chaves": As pessoas boas devem amar seus inimigos.

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