Reescrita
Por Aluno 16
Eu e minha família somos loucos por
cachorros desde sempre! Nós temos o costume de juntar todos que estão na rua,
levar para casa, cuidar, dar banho e depois deixar o animalzinho pronto para adoção.
Geralmente encontramos uma família que o ame e que o trate com muito afeto.
Somos assim: não conseguimos ver ninguém sofrer e tentamos fazer nossa parte
para a construção de um mundo melhor. Enquanto ainda não podemos transformar
nossa casa em um albergue para pessoas, ajudamos os cães, pois estão mais ao
nosso alcance. Vale dizer que sempre temos os "cães fixos", os
quais ficam até o fim da vida em nossa casa.
Naquele tempo, eu tinha duas cadelas
fixas: uma Pit bull e uma Linguicinha (Dachshund). A Linguicinha
tinha um nome deveras criativo: Violeta, já a Pit bull, nem tanto: Pitty. Como
todos sabem, a raça da Pitty não é das mais amistosas e ainda que ela fosse
muito amável com as pessoas, odiava os mesmos de sua espécie. Não podia
conviver com os outros cães e é por isso que a deixávamos em um canil separado,
pois além de sua ferocidade, ela era muito forte e podia acabar com os outros
cachorros em minutos. A Violeta também não era das mais fáceis de se conviver,
mas sua força não assustava ninguém, então ela podia ficar livremente pelo
pátio. Sempre tivemos muito cuidado para
manter as duas longe uma da outra, logo que já vivenciamos um episódio de briga
entre elas, a qual Violeta sentiu ciúmes de Pitty, pois meu irmão estava dando
carinho e atenção à Pit Bull. O ciúmes da cadela fez com que a mesma voasse no
tendão da outra, e ao sentir a dor, Pitty se virou e mordeu o pescoço de
Violeta. Foram três longas semanas em função de veterinário, na tentativa de
salvar a cadela. De início a veterinária achou que ela não iria mais
andar, porque a mordida foi tão forte
que esfarelou alguns ossos do pescoço. No fim deu tudo certo, e Violeta voltou
sã e salva, com um belo buraco da profundidade de um dedo no pescoço, mas viva
e feliz! Depois desse dia, Pitty não pôde mais usufruir de suas horas em
liberdade, já que o perigo era
constante.
Certa vez, Violeta fugiu de casa,
deu um belo passeio com algum viralata e voltou prenha! Foi um alvoroço lá em
casa, nós não estávamos esperando a vinda de novos filhotes, mas... paciência!
Aguardaríamos a hora do parto e prepararíamos cartazes para a doação da
ninhada. Já aconteceu de resgatarmos cadelas prenhas ou receber ninhadas,
sempre estávamos preparados. Portanto, nos meses de gestação, a cadela foi
tratada como uma lady, dado que ela já estava um tanto velha para encarar um
parto. Ganhava leite, muito carinho, comida de panela e tardes aconchegantes na
sala, tinha até uma caminha azul celeste, feita de tricô pela minha vó e
preparada especialmente para a chegada dos cachorrinhos; porém, temos uma regra
restrita: nada de cachorros dentro de casa à noite, não importa a situação. Não
costumávamos deixar os cães dentro de casa durante o dia também; não obstante,
a gravidez era uma exceção e durante o dia ela podia ficar.
Em uma noite de temporal, Violeta
resolveu parir. Pariu na chuva e no frio da laje escorregadia da nossa casa,
onde os filhotinhos podiam muito bem pegar uma pneumonia e falecer. Pitty, ao
se deparar com a situação, instintivamente abriu a portinhola enferrujada do
canil, pegou os filhotinhos e os levou para dentro de sua casinha de madeira
que estava cheia de travesseiros velhos e sujos, mas quentinhos e acolhedores
como carinho de mãe! A outra foi atrás e entrou junto a fim de amamentá-los e
fazer todos procedimentos que uma mãe-cachorro faz. Como a casa estava muito
apertada com os todos os filhotes e as cadelas lá dentro, a nossa Pit bull
resolveu que quem devia sair do local e ficar na chuva era ela, e assim o fez.
Pitty estava na laje gélida e Violeta dentro da casinha da Pitty, cuidando de
seus filhotes. Quando amanheceu, foi essa a cena que vimos, nos demos conta do
ocorrido e fizemos uma boa perícia do acontecimento para poder entendê-lo.
Elas morreram depois de muito tempo
após o ocorrido, Violeta faleceu com 18 anos e Pitty com 14, o cachorrinhos
foram todos doados e não sei o fim deles. Essa história serve para que
aprendamos a nos colocar no lugar dos outros e não pensar tanto no benefício
próprio, talvez nem tenha ocorrido exatamente assim, mas o que meus olhos e meu
cérebro captaram, no auge dos meus 12 anos, foi isso. Sempre conto o ocorrido
com muito orgulho das minhas duas cadelas que, mesmo sendo inimigas mortais,
conseguiram ultrapassar a barreira do orgulho e se ajudar no momento de dificuldade.
Levo essa lição para a vida toda, porque muitas vezes agimos de forma tão
egoísta e apenas por insolência. Como diria Seu Madruga do programa de
TV "Chaves": As pessoas boas devem amar seus inimigos.
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