Aluno 132
Reescrita
Todo
temos um nome, ou melhor, todos somos um nome, seja o que nossos pais
escolheram para nós, seja aquele que adotamos em meio aos nossos amigos. Eu
também tenho um nome, um dos grandes, com 9 longas letras que se esticam e
formam um som que as pessoas teimam em enfeitar: Madelaine, porém meu nome não
possui nada de muito complexo na hora da fala. Ele não é composto de uma letra
a com acento agudo, muito menos de um e americanizado, ele é falado como se
escreve, e estava aí o meu problema infantil.
Falar
meu nome para os outros nunca fora algo de grande empenho, justamente por ser o
meu nome, porém o ato de o escrever tomou grandes horas de minha alfabetização.
Todas as vezes que eu sentava em minha pequena cadeira rosa que fazia par com a
minha também pequena mesa rosa, pensava no porquê do meu nome ser tão
grandioso, afinal a maioria de meus colegas de creche possuíam nomes comuns,
simples, fáceis e rápidos de serem escritos.
Lembro
das atividades que desenvolvíamos em sala de aula, tínhamos que ligar os pontos
com pequenas linhas que formavam o contorno das letras dos nossos nomes. Esse
tipo de tarefa, para mim, apesar de ser muito trabalhosa, já estava formando
meu primeiro contato com as letras, e assim, com as palavras. Todos os
pontilhados preenchidos eram caminhos sendo criados em direção a minha paixão
pela escrita que com o tempo só aumentaria e me deixaria mais inebriada com o
poder de transmitir pensamentos com escritos.
Refletia
de forma infantil em como meu nome afetaria minha vida de “gente grande”, se eu
seria uma pessoa importante como aquelas que apareciam no jornal de notícias da
televisão. Conclui que uma pessoa com um nome tão complicado de ser escrito
deveria ter um grande futuro, e foi então que a minha motivação já não era mais
simplesmente aprender a escrever, mas sim fazer daquela palavra um significado
real daquilo que eu esperava para mim mesma.
E
como eu esperava... esperava crescer, ter vários amigos, ser comunicativa. Mas
nada disso se concretizou da maneira que eu havia imaginado quando criança.
Cresci, realmente, até porque isso é algo inevitável no percurso natural da
vida, mas não tanto quanto gostaria, fiquei “abatumada”, como diz meu pai.
Amigos até tenho alguns, uns poucos, 5 no máximo. Se sou comunicativa, bom, aí
depende muito de como me expresso: em relação a fala oral, grandes discursos,
exposição em público, não, sou uma negação, prefiro me esconder dentro do banheiro
do que ter que dialogar com um grande grupo de pessoas. Sou engasgada demais,
enrolada demais, tímida demais. Porém, se olhado por outro viés, sou
completamente diferente, e é aí que a minha relação com as palavras atingiu a
grandiosidade que eu esperava para mim na infância.
Quando
pude expressar minhas opiniões em forma de texto fui tão grande quanto Hamlet
em sua vingança na peça de Shakespeare, fui tão imponente quanto um poema de
Drummond, mas também fui tão simples e direta quanto os versos de Quintana.
Quando pude pegar em uma caneta, demonstrei realmente a grandeza do futuro que
esperava para mim, não apareci nos jornais de notícias da televisão, mas caminhei
entre as palavras, dancei em meio às letras, saltitei de um parágrafo para o
outro e transmiti tudo aquilo que eu acreditava ser, tudo aquilo que parecia
ser digno do nome que carrego. Hoje a força das 9 letras é muito bem
representada por meus escritos.
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