sábado, 20 de maio de 2017

Persistência

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Aluno 142


Gostaria de começar este parágrafo dando indícios de que a minha história com a escrita sempre foi muito natural e criativa. Talvez isso tornasse meu texto mais atraente. Mas terei que desapontá-lo. Eu aprendi a escrever porque fui obrigada. Não me deram opção ou estímulo, me deram um lápis. E é exatamente nesse ponto que tudo começa, porque a grande questão é o que se vê no lápis.                                                                    Pode-se olhar pare esse objeto de duas maneiras. A primeira é de forma utilitária e comum: como um instrumento capaz de fazer anotações. Mas a segunda, é um tanto fantasiosa e, portanto, a minha favorita: como uma possibilidade. Lembro-me da sensação de juntar as sílabas cuidadosamente e formar as palavras, as frases, e finalmente entender porque o Cebolhinha era tão “englaçado”. Eu não entendia nada de intertextualidade ou relação entre leitor e escritor, mas achava um máximo alguém me fazer rir, queria fazer o mesmo. E foi assim que eu comecei a escrever.
Aos sete (e aos dezessete) anos, escolhi a leitora mais parcial de todos os tempos para testar os meus escritos: minha mãe. Eu escrevia (escrevo) cartinhas de amor em papéis e guardanapos. As reações eram (são) sempre sorrisos, beijos e abraços. Realmente, eu conseguia despertar sensações através de palavras. Depois, na adolescência, as declarações cederam espaço às confissões. Descobri que poderia me esconder atrás do lápis. Uma virtude da covardia talvez seja o medo de mentir. “Mãe, eu beijei um menino. Foi horrível. Me perdoa, nunca mais vou fazer isso na minha vida.” ,  “Mãe, rasguei o bolso da minha mochila de propósito para ganhar uma nova. Eu mereço ficar com essa mochila rosa da Penélope pra sempre. Te amo muito.” É só jogar o bilhete em cima da cama, correr, e esperar cerca de dez minutos para se deliciar com o gosto da  verdade.                                                                                                                             Foi no ensino fundamental,  que a escrita tornou-se uma maneira de ascender na complexa sociedade escolar. Todas as professoras adoravam meus textos e liam para a turma como exemplo, os colegas aplaudiam e falavam “nossa, como você é demais”. Por fora, eu fingia a modéstia muito bem, e disfarçava o trabalho: “capaz, gente, é só um texto”, e por dentro nascia um grande monstrinho chamado orgulho. Mas como felicidade de estudante dura pouco, o ensino médio chegou com seus textos cheios de regras. Queria ser diferente dos meus colegas. Que graça tem escrever exatamente do mesmo jeito? Como alguém poderia sorrir lendo trinta e cinco textos iguais? Lutei por um bom tempo até que me rendi as trinta linhas, aos quatro parágrafos, aos tópicos frasais e blá blá blá. E aquele lápis que era meu amigo, meu protetor, meu pezinho para subir na vida, se tornou um instrumento de anotação.                                                 E escrever esse texto, é uma nova possibilidade de resgatar aquela essência de despertar algo em alguém. Contento-me até com o desgosto ou com um suspiro carregado de “temos muito trabalho pela frente com essa guria”. Mas me dê pelo menos uma chance de provar que eu tenho jeito. Prometo me adequar às regras sempre que necessário, ao número de linhas e a todas as normas sem reclamar muito. E não me prolongar tanto só para fazer um jogo de palavras, vez ou outra, para não desapontar meu velho amigo lápis. 

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