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Aluno 122
Comecei a escrever porque comecei
a ler: um foi consequência do outro, como a transição natural de engatinhar
para andar, ou de somar e subtrair números para então aprender a multiplica-los
e dividi-los. Li tudo o que as bibliotecas tinham a me oferecer: primeiro os
gibis da Turma da Mônica, em seguida a vasta coleção do Sítio do Picapau
Amarelo, chegando finalmente aos livros mais maduros e aos grandes clássicos da
literatura.
Com a leitura, começou a crescer
em mim a vontade de criar minhas próprias histórias, meus próprios mundos, meus
próprios personagens, primeiro por pura experimentação, depois por diversão e
futuramente por meta pessoal. Queria que nascesse de mim um Cebolinha com
planos infalíveis, uma Emília mandona e desdenhosa ou até uma Capitu de olhos
de cigana oblíqua e dissimulada. De início, minhas produções se resumiam a
contos de fada parodiados, escritos em folhas de caderno e reservados apenas
aos olhos de minha mãe; aos poucos, passei para as crônicas e para o
computador, buscando a aprovação de professores e outros leitores.
Assim, minha escrita alimentou-se
de minha leitura; deu-se certo processo “antropofágico”, como seria para Oswald
de Andrade. Minha produção absorvia as de outros, extraindo delas defeitos e
qualidades, cruzando referências e encontrando inspiração para criar
construções textuais inteiramente novas. Como era para Caio Fernando Abreu,
escrever, para mim, tornou-se algo como “colocar um dedo na garganta” depois de
uma farta refeição literária. Minha principal motivação – de profissão, de vida
– passou a ser o ato de peneirar esse vômito e transforma-lo em algo bom,
concreto, único. Passei a querer que minha escrita despertasse nos outros o
mesmo que a leitura despertava em mim, que transmitisse uma mensagem, que,
afinal, fizesse diferença. E, do mesmo modo que a leitura, minha escrita se
revelou um caminho sem volta, seguindo infinito e sinuoso por entre as letras.
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