sábado, 20 de maio de 2017

Como comecei a escrever

Reescrita
Aluno 120



Meu pai e minha mãe detestam escrever. Os meus irmãos, mais ainda! Nenhum deles consegue chegar perto de livros - talvez por medo, talvez por preguiça, não sei. Tudo que é de alguma forma literário não os anima. E é claro que, que devido a essas características da minha família, eu nunca fui (e nunca seria!) incentivada a escrever e a entrar no mundo das Letras. Porém, com apenas dez anos, eu já tinha convicção de que seria escritora quando crescesse. Algo de diferente havia acontecido comigo na minha infância para eu ser assim - minhas melhores amigas convenceram-me a começar a escrever.
Eu mal me lembro do meu avô, mas consigo lembrar-me de sua pequena biblioteca, que foi onde tudo começou. Agradava-me ficar olhando seus livros velhos, com capas duras e com títulos escritos em letras grandes e douradas. Eu achava tudo aquilo muito bonito - era tão gostoso de admirar! De tanto contemplar aqueles livros, resolvi começar a abri-los, pois, quem sabe, eu poderia encontrar outras formas de beleza no seu interior.
Descobri, então, que os livros de meu avô eram constituídos de palavras muito complexas e estranhas. Algumas me faziam rir, como bulbo, choupana e etcetera. Eu gostava de copiar no meu caderno da escola essas palavras, que para mim eram exóticas, e começar a escrever pequenas frases com elas, como a seguinte: Joca morava numa choupana, onde plantava diversas espécies de flores bulbosas, como tulipas, lírios, etcetera.
Mal eu sabia que as palavras estavam me seduzindo. Extasiava-me ao saber que elas tornavam possível a explicação de qualquer coisa! Afinal, existe palavra para tudo nesse mundo - para melancolia, para cólera e para amargura. Assim, senti o meu universo de possibilidades se expandindo - tendo o poder das palavras e a capacidade de explicar tudo, que realidades eu não poderia inventar?
Com isso, deixei de escrever frases aleatórias para começar a escrever histórias mais elaboradas. Dessa vez, meu personagem Joca não morava em uma choupana, mas sim na China, ou até mesmo em um castelo medieval. Além disso, ele tinha uma namorada, com quem discutia constantemente.
Devido à tamanha ternura que eu tive pelas palavras, resolvi estreitar a minha relação com elas, tornando-as as minhas amigas íntimas. Elas conversavam comigo e faziam eu entender melhor a mim mesma. Passei a escrever também diários, o que só foi possível em razão da credibilidade que dei às palavras. Sabia que elas conseguiriam dar conta dos meus sentimentos.
Não sou igual à minha família. Diferente deles, deixei-me conquistar pelas palavras. Acreditei no poder delas; e elas, em agradecimento, fizeram-me sorrir. Graças à amizade que construímos, comecei a escrever. E não pretendo parar.

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