Reescrita
Aluno 120
Meu pai e minha mãe detestam escrever. Os
meus irmãos, mais ainda! Nenhum deles consegue chegar perto de livros - talvez
por medo, talvez por preguiça, não sei. Tudo que é de alguma forma literário não os anima. E é claro que,
que devido a essas características da minha família, eu nunca fui (e nunca
seria!) incentivada a escrever e a entrar no mundo das Letras. Porém, com
apenas dez anos, eu já tinha convicção de que seria escritora quando crescesse.
Algo de diferente havia acontecido comigo na minha infância para eu ser assim -
minhas melhores amigas convenceram-me a começar a escrever.
Eu mal me lembro do meu avô, mas consigo
lembrar-me de sua pequena biblioteca, que foi onde tudo começou. Agradava-me
ficar olhando seus livros velhos, com capas duras e com títulos escritos em
letras grandes e douradas. Eu achava tudo aquilo muito bonito - era tão gostoso
de admirar! De tanto contemplar aqueles livros, resolvi começar a abri-los,
pois, quem sabe, eu poderia encontrar outras formas de beleza no seu interior.
Descobri, então, que os livros de meu avô
eram constituídos de palavras muito complexas e estranhas. Algumas me faziam
rir, como bulbo, choupana e etcetera. Eu
gostava de copiar no meu caderno da escola essas palavras, que para mim eram
exóticas, e começar a escrever pequenas frases com elas, como a seguinte: Joca
morava numa choupana, onde plantava diversas espécies de flores bulbosas, como
tulipas, lírios, etcetera.
Mal eu sabia que as palavras estavam me
seduzindo. Extasiava-me ao saber que elas tornavam possível a explicação de
qualquer coisa! Afinal, existe palavra para tudo nesse mundo - para melancolia, para cólera e para amargura.
Assim, senti o meu universo de possibilidades se expandindo - tendo o poder das
palavras e a capacidade de explicar tudo, que realidades eu não poderia
inventar?
Com isso, deixei de escrever frases
aleatórias para começar a escrever histórias mais elaboradas. Dessa vez, meu personagem
Joca não morava em uma choupana, mas sim na China, ou até mesmo em um castelo
medieval. Além disso, ele tinha uma namorada, com quem discutia constantemente.
Devido à tamanha ternura que eu tive pelas
palavras, resolvi estreitar a minha relação com elas, tornando-as as minhas
amigas íntimas. Elas conversavam comigo e faziam eu entender melhor a mim
mesma. Passei a escrever também diários, o que só foi possível em razão da
credibilidade que dei às palavras. Sabia que elas conseguiriam dar conta dos
meus sentimentos.
Não sou igual à minha família. Diferente
deles, deixei-me conquistar pelas palavras. Acreditei no poder delas; e elas,
em agradecimento, fizeram-me sorrir. Graças à amizade que construímos, comecei
a escrever. E não pretendo parar.
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