1 Versão
ALUNO 118
Recordar é
viver, diz o ditado popular, mas existem momentos que a mente não consegue
lembrar com a mesma facilidade: o nome de todos os colegas de classe, todas as
cidades em que já se esteve, a refeição realizada no almoço da última
terça-feira ou lembrar de quando ou como se começou a escrever. No meu caso, no
entanto, a origem do ato de escrever não deve ter sido diferente ao de quase
qualquer outra criança de classe média em Porto Alegre da década de noventa -
copiando algumas letras e sílabas desconexas em um caderno enfeitado até formar
a palavra que sinaliza meu nome.
Mais
ou menos na mesma época em que enfeitava cadernos, com adesivos e desenhos, fui
apresentada a leitura. O primeiro livro que li foi apresentado pela minha irmã.
Em um primeiro momento ela o lia para me fazer dormir e eu como uma boa criança
de seis anos ouvia algumas poucas páginas e caia no sono. No entanto, por algum
motivo (esquecido) depois do segundo ou terceiro capítulo ela havia decretado
que não mais o leria para mim, e que se eu quisesse eu que o lesse sozinha. E
assim, por uma necessidade pungente de saber o final da história dos Karas
terminei de ler meu primeiro livro.
Ao longo dos
anos, concomitante a minha crescente apreciação pelos diferentes estilos
literários, minha escrita foi se desenvolvendo. De pequenos bilhetes infantis a
textos completos e, de alguma forma, mais complexos fui exercitando diferentes
tipos de escritas. Tentar escrever crônicas, poesias, artigos e livros foi
durante muito tempo uma brincadeira, mas de alguma maneira a brincadeira se
transformou em obrigação e, com o aumento das obrigações, foi perdendo o tom
lúdico. A tentativa de escrever uma história sobre os personagens do cotidiano
foi deixada de lado para dar espaço e tempo para as crônicas escritas a doze
mãos ou para poesias musicadas sobre os fenômenos da física moderna.
Desta forma
vejo que comecei a escrever quando comecei a ler, ou será que li quando comecei
a escrever? A fronteira entre esses dois fenômenos é indissociável para mim,
pensar num sem pensar no outro é uma tarefa inviável. Enquanto um deixava minha
mente livre para criar e brincar o outro me dava combustível para continuar
imaginando e em determinados momentos esses papéis se invertiam e um virava
brincadeira livre e o outro combustível.
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