sábado, 20 de maio de 2017

Escrever e ler

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ALUNO 118


Recordar é viver, diz o ditado popular, mas existem momentos que a mente não consegue lembrar com a mesma facilidade: o nome de todos os colegas de classe, todas as cidades em que já se esteve, a refeição realizada no almoço da última terça-feira ou lembrar de quando ou como se começou a escrever. No meu caso, no entanto, a origem do ato de escrever não deve ter sido diferente ao de quase qualquer outra criança de classe média em Porto Alegre da década de noventa - copiando algumas letras e sílabas desconexas em um caderno enfeitado até formar a palavra que sinaliza meu nome.
            Mais ou menos na mesma época em que enfeitava cadernos, com adesivos e desenhos, fui apresentada a leitura. O primeiro livro que li foi apresentado pela minha irmã. Em um primeiro momento ela o lia para me fazer dormir e eu como uma boa criança de seis anos ouvia algumas poucas páginas e caia no sono. No entanto, por algum motivo (esquecido) depois do segundo ou terceiro capítulo ela havia decretado que não mais o leria para mim, e que se eu quisesse eu que o lesse sozinha. E assim, por uma necessidade pungente de saber o final da história dos Karas terminei de ler meu primeiro livro.
Ao longo dos anos, concomitante a minha crescente apreciação pelos diferentes estilos literários, minha escrita foi se desenvolvendo. De pequenos bilhetes infantis a textos completos e, de alguma forma, mais complexos fui exercitando diferentes tipos de escritas. Tentar escrever crônicas, poesias, artigos e livros foi durante muito tempo uma brincadeira, mas de alguma maneira a brincadeira se transformou em obrigação e, com o aumento das obrigações, foi perdendo o tom lúdico. A tentativa de escrever uma história sobre os personagens do cotidiano foi deixada de lado para dar espaço e tempo para as crônicas escritas a doze mãos ou para poesias musicadas sobre os fenômenos da física moderna. 
Desta forma vejo que comecei a escrever quando comecei a ler, ou será que li quando comecei a escrever? A fronteira entre esses dois fenômenos é indissociável para mim, pensar num sem pensar no outro é uma tarefa inviável. Enquanto um deixava minha mente livre para criar e brincar o outro me dava combustível para continuar imaginando e em determinados momentos esses papéis se invertiam e um virava brincadeira livre e o outro combustível.

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