Reescrita
aluno 175
Escrever é um ato que
imortaliza acontecimentos, pelo menos na memória, e deve ser por isso que minha
mãe dedicou boa parte de sua gravidez para escreve um diário em meu nome: um
pequeno caderno com a capa bordada em branco e rosa, mais do que isso um baú
que guarda minhas façanhas, meus medos e até minhas expectativas sem eu nem ter
nascido, tudo isso era registrado diariamente sem esquecer os mínimos detalhes,
como presentes ganhados, barulhos produzidos ou enjôos causados.
Hoje, analisando a ideia da minha mãe, de escrever no meu lugar, e pensando sobre minhas experiências com a escrita, percebo que elas veem, literalmente, desde o útero materno, afinal minha mãe começou esse hábito, escrevendo singelamente meu cotidiano dentro de sua barriga, na expectativa de sentir cada memória com seus tons, cheiros e gostos.
Hoje, analisando a ideia da minha mãe, de escrever no meu lugar, e pensando sobre minhas experiências com a escrita, percebo que elas veem, literalmente, desde o útero materno, afinal minha mãe começou esse hábito, escrevendo singelamente meu cotidiano dentro de sua barriga, na expectativa de sentir cada memória com seus tons, cheiros e gostos.
Depois do meu nascimento,
o diário não teve mais suas páginas preenchidas por um bom tempo, pois acredito
que era muito trabalho cuidar de mim e, além disso, registrar esse cuidado, no
entanto, quando entrei na escola e aprendi as primeiras letras, palavras e
frases minha mãe achou que já era hora de eu começar a fazer meus próprios
registros, a partir daí ela me entregou o diário e disse que eu poderia
escrever o que quisesse e ademais poderia deixar que pessoas importantes para
mim escrevessem recados também, assim sendo meu diário não saia da minha
mochila, mostrava para todos na escola os registros feitos por minha mãe em meu
nome, orgulhosa por sua idéia, pedia que escrevessem algo para mim, desde os
colegas até as professoras, e ao final de cada recado escrevia um texto
expressando o que sentia lendo-o.
A partir desse meu
hábito, despertado por minha mãe, eu consigo perceber que eu comecei a escrever
para não esquecer experiências e sentimentos, porém abandonei meu pequeno
diário e por conseqüência as lembranças que ele me proporcionava cada vez que
eu o abria para escrever e acabava relendo seus registros antigos, escrevi cada
vez menos até que parei de fazê-lo, já no ensino médio, por um desânimo sem
motivos específicos, apenas deixei o hábito de lado priorizando os estudos, que
ficavam mais desafiadores, as amizades e até os “namoradinhos”, como dizia
minha mãe nessa época, por isso passei um bom período sem registros de
memórias, de modo que muitas coisas que sentia nesse período não me veem mais a
cabeça, mas algo novo aconteceu quando entrei no curso pré vestibular, depois
de terminar o ensino médio: li um poema postado em uma rede social por meu
professor de literatura, por mim tão admirado, ele fez de maneira muito simples
um registro sobre o seu dia em forma de poesia, aquela leitura chamou a minha
atenção de maneira que resolvi tentar fazer o mesmo, até porque eu já sabia que
estava esquecendo muitas coisas que sentia, fatos felizes e até os tristes por
não ter mais revisitado e continuado meu velho diário, por isso comecei um
diário novo: um diário de poemas. Procurei por um bloco guardado em alguma uma
gaveta e fiz dele meu novo caderno de registros, abri a primeira página e ali
comecei novamente a manutenção de minhas memórias, sua capa não é bordada em
branco e rosa, mas tem nela registrado meu poema preferido: versos íntimos de
Augusto dos Anjos, o capricho não é o mesmo que minha mãe matinha, já que meu
novo diário tem muitos rabiscos, todavia gosto deles por fazerem parte do que
está sendo registrado, enfim o formato não é o mesmo do velho diário de minha
mãe, mas o objetivo dela ainda se mantém em mim: reler os registros, evocar e
sentir cada memória com seus tons, cheiros e gostos para não perder o melhor do
que já se passou.
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