Aluno 127
Reescrita
Quando
eu era criança e frequentava o Jardim A, fiz uma amiga muito especial, daquele
tipo de pessoa que fica marcada na memória. Julia, para sua idade
(aproximadamente 4 ou 5 anos), ao contrário de mim, já sabia ler, escrever e
contar histórias habilmente. Bom, basicamente, eu a admirava. Lembro-me de
alguns desses contos que ela contou-me, especialmente
de um:
No
intervalo de um dia de aula, sentados no pátio da escola, ela apontou para a
casca de um casulo vazio escondido entre folhagens de um arbusto rasteiro e
contou que lá dentro havia vivido uma
lagarta que, não conseguindo se transformar em borboleta, viveu o resto de sua
vida triste e solitaria. Para uma criança de 6 anos de idade, aquilo
perturbou-me de tal modo, que mal pude dormir à noite. Por que ela desistiu?
Por que ela não conseguiu? Simplesmente não podia aceitar aquele final. No dia
seguinte, aproximei-me de minha amiga e disse-lhe:
-Julia,
a lagarta não conseguiu a primeira vez pois tinha esquecido da tinta e, quando
reconstruiu o novo casulo, teve certeza de que seria uma borboleta da cor do
céu.
No
final do mesmo ano, já tendo dominado o alfabeto e aprendido a decifrar mais ou menos as palavras e seus códigos,
passei essa história para o papel em forma de carta e entreguei para Julia. Assim,
começamos uma longa troca de cartas com conteúdos diversos, desde contos a
pequenas escrtitas sobre o cotidiano, como: “hoje tomei café preto puro pela primeira vez, é
horrível, nunca tome”. Junto dela, descobri que escrever é esse paradigma, as
palavras quando amontoadas em significado expressam visões de mundo diferentes
e ditam a realidade. Experiência essa, que recordo com esmero.
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