sábado, 20 de maio de 2017

Como comecei a escrever

Aluno 127
Reescrita



Quando eu era criança e frequentava o Jardim A, fiz uma amiga muito especial, daquele tipo de pessoa que fica marcada na memória. Julia, para sua idade (aproximadamente 4 ou 5 anos), ao contrário de mim, já sabia ler, escrever e contar histórias habilmente. Bom, basicamente, eu a admirava. Lembro-me de alguns desses contos que ela contou-me,  especialmente de um:
No intervalo de um dia de aula, sentados no pátio da escola, ela apontou para a casca de um casulo vazio escondido entre folhagens de um arbusto rasteiro e contou  que lá dentro havia vivido uma lagarta que, não conseguindo se transformar em borboleta, viveu o resto de sua vida triste e solitaria. Para uma criança de 6 anos de idade, aquilo perturbou-me de tal modo, que mal pude dormir à noite. Por que ela desistiu? Por que ela não conseguiu? Simplesmente não podia aceitar aquele final. No dia seguinte, aproximei-me de minha amiga e disse-lhe:
-Julia, a lagarta não conseguiu a primeira vez pois tinha esquecido da tinta e, quando reconstruiu o novo casulo, teve certeza de que seria uma borboleta da cor do céu.
No final do mesmo ano, já tendo dominado o alfabeto e aprendido a decifrar  mais ou menos as palavras e seus códigos, passei essa história para o papel em forma de carta e entreguei para Julia. Assim, começamos uma longa troca de cartas com conteúdos diversos, desde contos a pequenas escrtitas sobre o cotidiano, como: “hoje  tomei café preto puro pela primeira vez, é horrível, nunca tome”. Junto dela, descobri que escrever é esse paradigma, as palavras quando amontoadas em significado expressam visões de mundo diferentes e ditam a realidade. Experiência essa, que recordo com esmero. 

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