Reescrita
ALuno 138
Ao
chegar na escola, as palavras já haviam me sido apresentadas, sílabas já se
ajuntavam formando mais além do meu próprio nome. No entanto havia uma
inquietude avassaladora para que pudesse escrever minhas próprias histórias o
quanto antes. Histórias essas, do tipo das que me eram contadas anteriormente
pelos meus pais, do tipo que me incentivaram a leitura para iniciar a escrita.
Com
o passar do tempo, escrever passou a ser algo de lazer, além de uma tarefa
escolar. As palavras não ditas, guardadas para mim, aos poucos foram se
achegando em forma de poesia. Comecei a
ler Mario Quintana quando estava na quinta série, me apaixonei pelos versos
mesmo que mais da metade não pudesse compreender. Tentava repeti-los, contando
minha vida para o papel, e mesmo que não fosse e nem chegava perto de ser uma
poesia em si, eu expressava tudo que sentia em uma caligrafia terrivelmente mal
feita.
Ler
passou a ser um passatempo tranquilo e feliz, os recreios, em meio a livros,
eram tão bons quanto em meio as brincadeiras. Além de que, eu morava em uma
cidade pequena, e apesar do fato de que minha escola fosse uma das maiores
daquele lugar, a biblioteca não passava de uma sala apertada com poucas
estantes. E havia uma em particular a qual me agradava muito, onde uma máquina
antiga e empoeirada se escondia, no entanto sempre que a encontrava, a
bibliotecária me permitia usufruir de suas teclas apagadas. Quando cheguei a
idade e frequentar o centro da cidade sozinha, tamanha a felicidade que fiquei
quando pude pegar meu primeiro livro na biblioteca central. Que com toda
certeza nem chega perto da central de São Leopoldo (onde moro atualmente), mas
que para mim era uma imensidão de livros, a qual eu me sentia tentada a pegar
todos para folhear e sentir o aroma de cada um. Muitos são os livros que li
mais de uma vez, de tão boas que eram as histórias por eles contadas.
Hoje
em dia ainda escrevo poemas sobre o que sinto, mesmo que não deva chama-los
assim, afinal não o são. Mas não utilizo mais de teclas empoeiradas para
torna-los mais bonitos. E a promessa que meu pai me fez quando iniciei a
escreve-los ainda se mantém. Quando juntar cem poemas, poderei publicar um livro.
Se contar todos que já fiz, já atingi a meta, se contar os que eu gostei, ou os
que podem ser chamados de poemas, não tenho nem perto da metade. Se desisti?
Sim e não. Poemas não são para mim, mas escrever continua sendo meu meio para
que as coisas não ditas sejam livres.
Afinal,
era só uma máquina antiga com teclas empoeiradas, eram só palavras soltas que
as vezes rimavam. Era uma promessa que agregou a sonhos, mas que hoje não se
tratam disso, pelo menos, não mais.
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