sábado, 20 de maio de 2017

Era só uma máquina empoeirada, era só uma promessa. Não se tratam de sonhos, não mais.

Reescrita
ALuno 138


Ao chegar na escola, as palavras já haviam me sido apresentadas, sílabas já se ajuntavam formando mais além do meu próprio nome. No entanto havia uma inquietude avassaladora para que pudesse escrever minhas próprias histórias o quanto antes. Histórias essas, do tipo das que me eram contadas anteriormente pelos meus pais, do tipo que me incentivaram a leitura para iniciar a escrita.
Com o passar do tempo, escrever passou a ser algo de lazer, além de uma tarefa escolar. As palavras não ditas, guardadas para mim, aos poucos foram se achegando em  forma de poesia. Comecei a ler Mario Quintana quando estava na quinta série, me apaixonei pelos versos mesmo que mais da metade não pudesse compreender. Tentava repeti-los, contando minha vida para o papel, e mesmo que não fosse e nem chegava perto de ser uma poesia em si, eu expressava tudo que sentia em uma caligrafia terrivelmente mal feita.
Ler passou a ser um passatempo tranquilo e feliz, os recreios, em meio a livros, eram tão bons quanto em meio as brincadeiras. Além de que, eu morava em uma cidade pequena, e apesar do fato de que minha escola fosse uma das maiores daquele lugar, a biblioteca não passava de uma sala apertada com poucas estantes. E havia uma em particular a qual me agradava muito, onde uma máquina antiga e empoeirada se escondia, no entanto sempre que a encontrava, a bibliotecária me permitia usufruir de suas teclas apagadas. Quando cheguei a idade e frequentar o centro da cidade sozinha, tamanha a felicidade que fiquei quando pude pegar meu primeiro livro na biblioteca central. Que com toda certeza nem chega perto da central de São Leopoldo (onde moro atualmente), mas que para mim era uma imensidão de livros, a qual eu me sentia tentada a pegar todos para folhear e sentir o aroma de cada um. Muitos são os livros que li mais de uma vez, de tão boas que eram as histórias por eles contadas.
Hoje em dia ainda escrevo poemas sobre o que sinto, mesmo que não deva chama-los assim, afinal não o são. Mas não utilizo mais de teclas empoeiradas para torna-los mais bonitos. E a promessa que meu pai me fez quando iniciei a escreve-los ainda se mantém. Quando juntar cem poemas, poderei publicar um livro. Se contar todos que já fiz, já atingi a meta, se contar os que eu gostei, ou os que podem ser chamados de poemas, não tenho nem perto da metade. Se desisti? Sim e não. Poemas não são para mim, mas escrever continua sendo meu meio para que as coisas não ditas sejam livres.
Afinal, era só uma máquina antiga com teclas empoeiradas, eram só palavras soltas que as vezes rimavam. Era uma promessa que agregou a sonhos, mas que hoje não se tratam disso, pelo menos, não mais.

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