ALUNO 128
REESCRITA
Quando
eu estava na terceira série, escrevi minha primeira, e única, história. Narrei
as aventuras de Pedrinho, um menino que encontra uma caixa na rua com dois cães
ainda pequeninos dentro. O garoto resolve adotá-los e já nos primeiros dias
após a adoção ele percebe que seus cães são mágicos e que podem rasgar as meias
ainda na gaveta e derrubar do telhado os gatos que lhes provocavam. Escrevi uma
história bastante longa para Pedrinho. Tão longa que levei cerca de dez minutos
para lê-la para meus colegas – tempo suficiente para colocar a turma inteira
para dormir, incluindo a professora.
Obviamente,
aquele não foi o meu melhor texto, mas nele existe algo que minhas escritas não
possuem mais – aliás, algo que a escrita da maior parte das pessoas não possui
mais: a inocência e o despropósito da produção textual infantil. Eu não escrevi
a história de Pedrinho com a intenção de impressionar alguém ou mesmo de
demonstrar qualquer aptidão como escritora. A minha imaginação era livre, e era
meu dever deixá-la fluir e se perder no contexto.
É
possível que, enquanto amadurecemos e adquirimos novas “ferramentas de
comunicação”, também acabamos por perder - se não tivermos cuidado - certa capacidade de expressarmos qualquer tipo
de sentimento com facilidade. Aprecio quando ouço as histórias de escritores
mais experientes, mas fico absolutamente encantada ao ouvir as narrativas de
uma criança. É como entrar em um universo há muito perdido, pintado em tons
vibrantes e facilmente sentido, intuído.
Creio
que, em razão dessa liberdade imaginativa, Pedrinho foi o mais bem-sucedido dos
meus personagens. E é por sentir falta dela que acredito ter escrito apenas uma
vez. Somente terei recomeçado a escrever quando me expressar com a facilidade
de uma criança e com a prática de um adulto.
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