sábado, 20 de maio de 2017

Como comecei a escrever

Aluno 120
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Quando eu tinha seis anos, escrevi a minha primeira história. Foi na escola, talvez no primeiro ano. A professora tinha pedido que fizéssemos um roteiro com informações de nossos personagens e do que ocorreria ao longo da narrativa. Lembro-me de estar muito entusiasmada! Pensava eu em escrever sobre um coelho, que pulava em flores gigantes para entregar ovos às criancinhas na Páscoa. Não consegui, entretanto, pensar em um conflito – em que problemas um coelho poderia se meter? Essa história, então, nunca chegou a ser escrita, porém ficou na minha memória como a minha primeira ideia. Infelizmente, não consigo lembrar-me do que definitivamente escrevi naquele dia.
            O tempo foi passando e as histórias foram sendo escritas. Gradativamente, fui percebendo a minha afinidade pelas letras. Aos dez anos, eu tinha convicção de que queria ser escritora. Comecei a participar de um fórum online, em que as pessoas podiam enviar as suas narrativas e também ler a produção de outros participantes. Animei-me, eu escrevia uns dez capítulos por dia (claro, de poucos parágrafos cada um) e sentia-me famosa com meus fiéis leitores (apenas dois) que esperavam ansiosamente pela continuação da minha história.
            Foi nesse fórum que comecei a entender como funciona uma narrativa. Recordo-me de um dia, em que um dos meus leitores me disse para dar início ao enredo de uma vez. Enredo, que palavra estranha! Nunca havia ouvido falar. O Google foi o meu companheiro e me ajudou a entender esse conceito. A partir desse momento, da descoberta dessa palavra, compreendi que todas as minhas histórias eram péssimas. Em dez, vinte, trinta capítulos, eu apenas falava das características dos meus personagens e dos cenários que os rodeavam. Eu chegava a comentar sobre pequenos conflitos sim, mas nunca chegava a desenvolvê-los. Eram narrativas sem conteúdo, apenas com descrição.
            Daí em diante, passei a entender melhor o processo da escrita. Pesquisei mais, estudei mais. Progressivamente, meus textos foram se tornando mais complexos e interessantes. Parei de publicá-los em fóruns por vergonha – achava eu que seria muito criticada e que todos os odiariam – e comecei a mantê-los só para mim. Ao meu ver, essa foi uma fase muito boa. As palavras eram as minhas amigas e surgiam naturalmente. As histórias fluíam e as ideias brotavam como mágica. Fosse digitando ou escrevendo à mão, tudo se conectava! Escrever era tão simples e bom! Ah, como eu amava isso!
            Então, 2016 chegou. Estava preparando-me para prestar o vestibular, quando, subitamente, eu desaprendi a escrever. Eu passava todos os fins de semana trancada no meu quarto, tentando dar vida a alguma dissertação, mas pouquíssimas frases conseguiam sair de mim. Simplesmente, as palavras resolveram não ser mais as minhas amigas. Elas começaram a embaralhar a minha cabeça e a não fazer mais sentido. Escrever, dessa forma, virou uma tortura. Eu tentava ser produtiva, mas logo começava a me desesperar e a chorar. Rasgava todas as minhas folhas de redação e brigava com todos à minha volta. Tive que admitir: eu tornei-me uma escritora frustrada. Ah, quantas visitas ao psicólogo tudo isso me rendeu!
            Com tantas dificuldades, perdi o interesse em ser escritora. A paixão por escrever, no entanto, ainda existe – ela só está mascarada pelo medo. Sei, porém, que toda essa situação é efêmera. Aprendi muito durante a minha “trajetória literária”, se é que posso chamá-la assim, e percebo que devo continuar aprendendo. Agora, contudo, os desafios são diferentes. Dessa vez, o que devo fazer é reaprender a escrever. Assim, quem sabe um dia, eu e as palavras possamos nos entender novamente. 

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