Aluno 120
1 Versão
Quando eu tinha seis anos, escrevi a minha
primeira história. Foi na escola, talvez no primeiro ano. A professora tinha
pedido que fizéssemos um roteiro com informações de nossos personagens e do que
ocorreria ao longo da narrativa. Lembro-me de estar muito entusiasmada! Pensava
eu em escrever sobre um coelho, que pulava em flores gigantes para entregar ovos
às criancinhas na Páscoa. Não consegui, entretanto, pensar em um conflito – em
que problemas um coelho poderia se meter? Essa história, então, nunca chegou a
ser escrita, porém ficou na minha memória como a minha primeira ideia. Infelizmente, não consigo lembrar-me do que
definitivamente escrevi naquele dia.
O
tempo foi passando e as histórias foram sendo escritas. Gradativamente, fui
percebendo a minha afinidade pelas letras. Aos dez anos, eu tinha convicção de
que queria ser escritora. Comecei a participar de um fórum online, em que as
pessoas podiam enviar as suas narrativas e também ler a produção de outros
participantes. Animei-me, eu escrevia uns dez capítulos por dia (claro, de
poucos parágrafos cada um) e sentia-me famosa com meus fiéis leitores (apenas
dois) que esperavam ansiosamente pela continuação da minha história.
Foi
nesse fórum que comecei a entender como funciona uma narrativa. Recordo-me de
um dia, em que um dos meus leitores me disse para dar início ao enredo de uma
vez. Enredo, que palavra estranha!
Nunca havia ouvido falar. O Google foi o meu companheiro e me ajudou a entender
esse conceito. A partir desse momento, da descoberta dessa palavra, compreendi
que todas as minhas histórias eram péssimas. Em dez, vinte, trinta capítulos,
eu apenas falava das características dos meus personagens e dos cenários que os
rodeavam. Eu chegava a comentar sobre pequenos conflitos sim, mas nunca chegava
a desenvolvê-los. Eram narrativas sem conteúdo, apenas com descrição.
Daí
em diante, passei a entender melhor o processo da escrita. Pesquisei mais,
estudei mais. Progressivamente, meus textos foram se tornando mais complexos e
interessantes. Parei de publicá-los em fóruns por vergonha – achava eu que
seria muito criticada e que todos os odiariam – e comecei a mantê-los só para
mim. Ao meu ver, essa foi uma fase muito boa. As palavras eram as minhas amigas
e surgiam naturalmente. As histórias fluíam e as ideias brotavam como mágica.
Fosse digitando ou escrevendo à mão, tudo se conectava! Escrever era tão
simples e bom! Ah, como eu amava isso!
Então,
2016 chegou. Estava preparando-me para prestar o vestibular, quando,
subitamente, eu desaprendi a
escrever. Eu passava todos os fins de semana trancada no meu quarto, tentando
dar vida a alguma dissertação, mas pouquíssimas frases conseguiam sair de mim.
Simplesmente, as palavras resolveram não ser mais as minhas amigas. Elas
começaram a embaralhar a minha cabeça e a não fazer mais sentido. Escrever,
dessa forma, virou uma tortura. Eu tentava ser produtiva, mas logo começava a
me desesperar e a chorar. Rasgava todas as minhas folhas de redação e brigava
com todos à minha volta. Tive que admitir: eu tornei-me uma escritora
frustrada. Ah, quantas visitas ao psicólogo tudo isso me rendeu!
Com
tantas dificuldades, perdi o interesse em ser escritora. A paixão por escrever,
no entanto, ainda existe – ela só está mascarada pelo medo. Sei, porém, que
toda essa situação é efêmera. Aprendi muito durante a minha “trajetória
literária”, se é que posso chamá-la assim, e percebo que devo continuar
aprendendo. Agora, contudo, os desafios são diferentes. Dessa vez, o que devo
fazer é reaprender a escrever. Assim,
quem sabe um dia, eu e as palavras possamos nos entender novamente.
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