Aluno 86
Reescrita
Ser
mãe sempre foi uma vontade que nunca escondi de ninguém, porém nunca desejei ou
imaginei que isso acontecesse antes de me formar na faculdade. Jamais iniciaria
essa sentença com “infelizmente...”, mas de fato estou vivenciando tal
experiência muito antes do planejado. Ao contrário do que alguns podem estar
pensando, não, não gerei uma criança no meu ventre e sim no meu coração. Sim,
essa expressão é extremamente clichê, mas não consigo encontrar palavras
melhores que descrevam tal acontecimento tão marcante em minha breve
existência.
Manuela veio ao mundo no dia
primeiro de março de 2014 através do meu irmão e sua ex-companheira. Primeira
sobrinha minha e de irmã, primeira neta dos meus pais, nem preciso dizer o
quanto foi esperada por todos. Mas não foi bem aí que nossas vidas mudaram da
água pro vinho. Foi no auge dos três meses e meio que aquela coisinha tão
pequena que há muito tempo já reservava seu lugarzinho especial dentro de cada
um de nós, foi entregue aos meus pais. Obviamente eles não hesitaram em
trazê-la para casa na noite do dia vinte e três de junho de 2014.
Ao mesmo tempo em que o processo de
guarda foi iniciado, nasceram duas novas mães, eu e minha irmã, uma “vó-mãe” e
um “vô-pai”. Depois daquele baque inicial na rotina de uma família de adultos e
a guarda oficialmente no nome dos meus pais, comecei a perceber a importância
que eu tinha no desenvolvimento do caráter e na vida daquela criança. Agora eu
era tia, meio irmã, meio mãe, tudo isso ao mesmo tempo, afinal tínhamos um bebê
se espelhando cada dia mais nas nossas atitudes diárias, como por exemplo, os
hábitos alimentares.
Obviamente no início demoramos um
pouco até todos nos adaptarmos à nova composição familiar que estávamos
vivendo. Com meu pai trabalhando fora o dia todo, minha irmã, à tarde, e eu
fazendo cursinho pela manhã, revezávamos os cuidados que um bebê requer,
contemplando os horários e rotina de trabalho e estudos dos quatro. Uma simples
ida ao supermercado, agora era um evento, que necessitava de todo um
planejamento, que envolvia as condições climáticas e principalmente as
condições de sono e humor da Manuela. Minha mãe, que antes era envolvida com
todos os tipos e grupos de artesanato da cidade, passava e ainda passa a maior
parte do tempo com ela, o que cultivou um nítido laço entre as duas até hoje.
Com visitas programadas na casa da mãe, e o retorno do meu irmão pra nossa
casa, nos preocupamos em desde cedo esclarecer para a Manu o papel de cada um
na vida dela. Ela sabe que tem pai e mãe, mas é criada pelo vô, pela vó e pelas
“teteis” como ela aprendeu a chamar e ainda chama as tias. Mesmo já sabendo
pronunciar a palavra “titia”, é “tetei chegou! tetei chegou!” que eu escuto
quando ainda estou abrindo o portão de casa.
Foi com o passar dos meses que tive
a certeza de que eu havia mudado para sempre, uma vez que minha vida agora é
regida em torno do bebê, como costumamos chama-la quando não usamos o nome,
pois é isso que ela sempre será pra nós: um bebê. Ao mesmo tempo em que temos
de educa-la, gostaria de ser integralmente a tia que leva pra passear, que dá
“ate” (chocolate) escondido antes do almoço, que encobre as artes, pois mais
importante do que todo o suporte que procuramos dar pra ela, é saber dosar
quando é hora de transpor um limite e quando é hora de obedecê-lo. Vivo dizendo à minha mãe que ela nunca se
esqueça de “ser vó” de vez em quando. Aos seus 2 anos e um mês de vida, a
vontade que tenho é de me deixar levar pelas descaradas artimanhas que a Manu
inventa pra não comer toda a comida, ou escapar pra rua em dia de chuva, se
molhar e correr com o Orlando, meu cachorro. E muitas vezes me deixo levar mesmo!
Foram em alguns destes momentos que mais nos divertimos, ouvimos “xingão” da vó
e rimos escondidas depois.
Quanto mais o tempo passa e vejo a
Manuela crescendo, aprendendo e ensinando coisas pra mim também todos os dias,
entendo que tudo acontece na hora certa em que deveria acontecer. Seja pra unir
uma família que andava meio separada, ou trazer mais cor e vida para o dia a
dia, uma vez que casa com criança se torna uma grande caixa de brinquedos de
vários tipos, cores, tamanhos e funções diferentes. Quando descobri que seria
tia, não tinha ideia da quantidade de mudanças e ensinamentos que o fato dela
morar com a gente traria para minha vida. Ver meus pais chegando com a Manu no
bebê-conforto naquela noite fria de inverno em 2014 foi apenas o primeiro susto
de vários outros que viriam, como por exemplo, a vez em que ela se afogou com
cereal (ela nunca mais comeu cereal depois disso). Ter me tornado meio mãe
antes da hora, me faz viver experiências incríveis diariamente, como uma
simples comemoração depois de contar até 10.
Nenhum comentário:
Postar um comentário