terça-feira, 21 de junho de 2016

Aluno 86
Reescrita


Ser mãe sempre foi uma vontade que nunca escondi de ninguém, porém nunca desejei ou imaginei que isso acontecesse antes de me formar na faculdade. Jamais iniciaria essa sentença com “infelizmente...”, mas de fato estou vivenciando tal experiência muito antes do planejado. Ao contrário do que alguns podem estar pensando, não, não gerei uma criança no meu ventre e sim no meu coração. Sim, essa expressão é extremamente clichê, mas não consigo encontrar palavras melhores que descrevam tal acontecimento tão marcante em minha breve existência.
            Manuela veio ao mundo no dia primeiro de março de 2014 através do meu irmão e sua ex-companheira. Primeira sobrinha minha e de irmã, primeira neta dos meus pais, nem preciso dizer o quanto foi esperada por todos. Mas não foi bem aí que nossas vidas mudaram da água pro vinho. Foi no auge dos três meses e meio que aquela coisinha tão pequena que há muito tempo já reservava seu lugarzinho especial dentro de cada um de nós, foi entregue aos meus pais. Obviamente eles não hesitaram em trazê-la para casa na noite do dia vinte e três de junho de 2014.
            Ao mesmo tempo em que o processo de guarda foi iniciado, nasceram duas novas mães, eu e minha irmã, uma “vó-mãe” e um “vô-pai”. Depois daquele baque inicial na rotina de uma família de adultos e a guarda oficialmente no nome dos meus pais, comecei a perceber a importância que eu tinha no desenvolvimento do caráter e na vida daquela criança. Agora eu era tia, meio irmã, meio mãe, tudo isso ao mesmo tempo, afinal tínhamos um bebê se espelhando cada dia mais nas nossas atitudes diárias, como por exemplo, os hábitos alimentares.
            Obviamente no início demoramos um pouco até todos nos adaptarmos à nova composição familiar que estávamos vivendo. Com meu pai trabalhando fora o dia todo, minha irmã, à tarde, e eu fazendo cursinho pela manhã, revezávamos os cuidados que um bebê requer, contemplando os horários e rotina de trabalho e estudos dos quatro. Uma simples ida ao supermercado, agora era um evento, que necessitava de todo um planejamento, que envolvia as condições climáticas e principalmente as condições de sono e humor da Manuela. Minha mãe, que antes era envolvida com todos os tipos e grupos de artesanato da cidade, passava e ainda passa a maior parte do tempo com ela, o que cultivou um nítido laço entre as duas até hoje. Com visitas programadas na casa da mãe, e o retorno do meu irmão pra nossa casa, nos preocupamos em desde cedo esclarecer para a Manu o papel de cada um na vida dela. Ela sabe que tem pai e mãe, mas é criada pelo vô, pela vó e pelas “teteis” como ela aprendeu a chamar e ainda chama as tias. Mesmo já sabendo pronunciar a palavra “titia”, é “tetei chegou! tetei chegou!” que eu escuto quando ainda estou abrindo o portão de casa. 
            Foi com o passar dos meses que tive a certeza de que eu havia mudado para sempre, uma vez que minha vida agora é regida em torno do bebê, como costumamos chama-la quando não usamos o nome, pois é isso que ela sempre será pra nós: um bebê. Ao mesmo tempo em que temos de educa-la, gostaria de ser integralmente a tia que leva pra passear, que dá “ate” (chocolate) escondido antes do almoço, que encobre as artes, pois mais importante do que todo o suporte que procuramos dar pra ela, é saber dosar quando é hora de transpor um limite e quando é hora de obedecê-lo.  Vivo dizendo à minha mãe que ela nunca se esqueça de “ser vó” de vez em quando. Aos seus 2 anos e um mês de vida, a vontade que tenho é de me deixar levar pelas descaradas artimanhas que a Manu inventa pra não comer toda a comida, ou escapar pra rua em dia de chuva, se molhar e correr com o Orlando, meu cachorro. E muitas vezes me deixo levar mesmo! Foram em alguns destes momentos que mais nos divertimos, ouvimos “xingão” da vó e rimos escondidas depois.
            Quanto mais o tempo passa e vejo a Manuela crescendo, aprendendo e ensinando coisas pra mim também todos os dias, entendo que tudo acontece na hora certa em que deveria acontecer. Seja pra unir uma família que andava meio separada, ou trazer mais cor e vida para o dia a dia, uma vez que casa com criança se torna uma grande caixa de brinquedos de vários tipos, cores, tamanhos e funções diferentes. Quando descobri que seria tia, não tinha ideia da quantidade de mudanças e ensinamentos que o fato dela morar com a gente traria para minha vida. Ver meus pais chegando com a Manu no bebê-conforto naquela noite fria de inverno em 2014 foi apenas o primeiro susto de vários outros que viriam, como por exemplo, a vez em que ela se afogou com cereal (ela nunca mais comeu cereal depois disso). Ter me tornado meio mãe antes da hora, me faz viver experiências incríveis diariamente, como uma simples comemoração depois de contar até 10. 

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