sábado, 10 de maio de 2014

Um Dia na Vida

 1ª Versão
Por Aluno 18


Deitadas embaixo de uma bergamoteira observando o céu, o sol aquecia seus rostos e corpos. Ambas sentiam uma angústia sem saber por quê. Aquele poderia ter sido apenas mais um dia agradável de viver, mas foi muito mais do que isso, pois trouxera um aprendizado para o resto da vida.
Julia era mãe, avó, amiga, aquela que estava sempre disposta a ajudar qualquer um que batesse à sua porta precisando de ajuda. Era o tipo de pessoa que é preciso procurar muito para achar algum defeito. Cuidava dos machucados emocionais e físicos de sua neta insegura e triste. Tinha a paciência de deixá-la pentear seu cabelo enquanto assistia à novela da tarde e tirava um cochilo em sua poltrona da vovó, caminhava até o final de seu bairro para comprar doces à sua netinha, gostava de fartura à mesa e nunca negou um centavo sequer a ninguém porque já passou fome e muitas dificuldades em sua vida. Sempre que sua neta ia embora, lágrimas de saudade antecipada escorriam de seus olhos. Seria impossível de imaginar a vida sem um ser tão humano quanto Julia e ninguém gostaria de pensar que um dia ela partiria para sempre.
A saúde de Julia não era das melhores e, certo dia, ela adoeceu e precisou ir para o hospital. Mas ela vivia no hospital fazendo exames, ficando por lá durante um ou dois dias devido alguma complicação ocorrida; portanto, todos, inclusive sua neta, pensaram que desta vez não seria diferente, mas foi. Julia estava morrendo. Não foi algo percebido de imediato, a neta de Julia precisou de muita coragem para encarar que sua avó estava partindo deste mundo. E como seria possível encarar a situação?
Em um belo domingo, Julia acordou a neta para ir a Bento Gonçalves, na serra gaúcha. A energia dela era invejável, parecia uma criança animada carregando seus 75 anos de maneira alegre. Depois de muito se divertir durante cada minuto da viagem, sentou-se em um canto afastado de todos. Percebendo, a neta perguntou se ela gostaria de ir para fora do salão onde estavam. Apesar da expressão cansada e séria, Julia aceitou. Deitaram-se na grama, embaixo da árvore e observavam o céu. A neta, com medo, agarrou-se à avó. Apesar de ser um dia para alegrias, a neta tinha um aperto em seu peito e sentia-se tola por isso. "Eu sempre vou te amar, meu anjo", disse Julia. Apesar do calor do abraço, do sol quente, da grama macia, do aroma das bergamotas que estavam na árvore acima de suas cabeças, os olhos da neta ficaram ensopados de lágrimas que molharam o casaco da senhora Julia. Seria uma despedida? Seria apenas mais um momento de carinho demonstrado pela avó? A cabeça da neta girava e ela só conseguia pensar que gostaria de congelar aquele momento e vivê-lo para sempre.
Não parecia sua avó deitada naquela cama, em coma, de olhos fechados e não exalando todo o amor e compreensão que eram típicos dela. A revolta queria tomar contar de seu coração, mas a neta precisava reagir, encarar com firmeza a situação toda, pois seu pai, filho de Julia, precisava da força dela. Cada vez que o desespero tomava conta dela, recorria à lembrança da tarde em Bento Gonçalves. E sobreviveu assim por um mês, até que a notícia que ela tanto temia chegou: sua avó havia morrido.
Foi uma perda muito dura, a dor permanece até o momento e provavelmente durará para a vida inteira. Durante muito tempo, a neta de Julia não pensou naquele momento e em como ele foi importante para aprender sobre amor e a proporção desse sentimento tão belo sentido por sua avó. Um dia como aquele nunca mais se repetiria, pois sua avó já não pertencia mais ao mundo para fazer de um dia ruim algo bom. Depois de algum tempo, finalmente entendeu que a lembrança daquela espécie de despedida permanecerá e aquecerá seu coração quando sentir saudades da avó que já partira de perto dela.

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