sexta-feira, 27 de junho de 2014

A leitura e eu

Reescrita
Por Aluno 7



De minha infância trago boas lembranças de minha mãe contando-me histórias; eu deitada ao seu lado na cama, ansiosa para participar de mais uma aventura do “Sr. Coelho”. Minha participação na construção do cenário e na criação dos personagens era bastante ativa, pois era sempre questionada a cada novo acontecimento e estimulada a construir minha própria versão da história, permitindo um encantamento instantâneo e a busca por ser cada vez mais criativa.
Com o ingresso na 1ª série do ensino fundamental, deu-se o início de minha alfabetização; um misto de medo e empolgação pois aprender a ler e escrever parecia algo muito complexo, e ao mesmo tempo possibilitaria a compreensão de coisas até então inatingíveis, como os livros. Após a alfabetização tive a curiosidade e vontade de testar minhas capacidades, muitas vezes a própria escola nos estimula a isso, querendo entender cada palavra escrita em qualquer que fosse o lugar, como em bulas de remédio, anúncios de jornal ou revistas mesmo sem entender o significado das palavras. Essa leitura não passava de uma mera junção de sílabas, como exemplifica o autor: “a escola alfabetiza acreditando estar expondo os alunos à pratica da leitura, na verdade o que está fazendo é ‘treinando-os’ a simplesmente decodificarem um material escrito” (ROTTAVA, 2000, p. 13).
Com o passar do tempo, comecei meu interesse por livros; no início eram histórias infantis e a maior parte deles possuíam gravuras que tornavam a prática mais agradável e estimulavam a criatividade e fantasia. Muitos deles, eram indicações da escola e assim me aventurei pela primeira vez a ler em outro idioma, o espanhol, o que na época não me pareceu muito divertido pois eu não dominava a língua e o livro quase não possuía gravuras para facilitar o entendimento. Em casa, tinha acesso a algumas revistas que minha mãe gostava de ler, mas meu principal interesse era por uma coleção de livros do meu pai, eram pequenos e possuíam a capa dura na cor vermelha, tão bonitos! Um dia, decidi me aventurar a ler um livro “grande”, para mim ele possuía muitas páginas e era um desafio, mal sabia que iria parar no curso de letras e passar praticamente todo o tempo livre lendo. “Arlequim, servidor de dois amos” foi o primeiro livro que li por interesse, seduzida pela capa e a vontade de testar minhas habilidades. Por se tratar de uma peça de teatro, composta apenas por diálogos, a leitura foi bastante confusa e difícil até para compreender os nomes dos personagens corretamente. Apesar de não entender completamente o enredo, li até o fim e fiquei orgulhosa de meu feito na época. Ler apenas por distração não me acrescentou nenhum conhecimento, tanto que nem recordo do enredo do livro, apenas de sua capa. Como aborda o autor:
“O simples hábito de ler descomprometido, sem a reflexão aguda do sentido das coisas, numa condição em que a pessoa é levada pelas circunstâncias e motivada por interesses pragmáticos (como seria ler para tornar-se mais competitivo ou ler para divertir-se e esquecer) se caracteriza como uma situação de alienação. O que é alienado é automatizado, é feito mecanicamente, sem consciência dos processos de significação e, portanto, sem capacidade de ampliação de horizontes de vida” (BRITTO, 2012, p. 30)   
Os livros didáticos também me causavam fascinação, com sua incrível possibilidade de compreender tantas coisas em apenas algumas páginas. As relações políticas explicadas no livro de história provocavam em mim um sentimento parecido com as construções mirabolantes das aventuras do “Sr. Coelho”, mas dessa vez minha imaginação era preenchida com personagens reais e cenários que apesar de eu nunca ter visitado eram de fácil assimilação, seja pelo que era visto na televisão ou nas aulas de geografia. Ainda que leituras obrigatórias, por serem relacionadas ao estudo, dedicava-me realmente em tirar proveito da leitura e não apenas “passar os olhos”, pois ela contribuía para o meu crescimento pessoal e agregava valores ao meu conhecimento de mundo, tão importantes para que hoje eu consiga compreender melhor as leituras que faço durante meu curso, como os clássicos gregos e romanos.
 Por ser jovem e ter muito conhecimento a acumular ainda, as vezes me perco em alguns textos que atualmente sou obrigada a encarar. A falta do domínio de determinados assuntos e até de outro idioma dificulta e muito a compreensão de conceitos importantes para minha formação acadêmica, como diz autora: “Há um ‘querer dizer’ do texto-base, de seu autor, e há um ‘querer dizer’ do leitor que podem ainda não estar em sintonia com um tema em virtude da prática social de leituras por parte dos sujeitos, no momento inicial de sua formação” (ROTTAVA, 2012, p. 174). De certa forma, isso me obriga a buscar explicações, exemplos e diferentes ideologias a fim de construir um conhecimento no assunto não adquirido previamente e ampliação do meu conhecimento de mundo também, conseguindo assim a compreensão daquilo que leio, abordado pela autora: “A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto” (KLEIMAN, 1995, p. 13).




Referências
BRITTO, L.P. Nuances: estudos sobre educação. v. 21, n. 22, p. 18-32, jan. /abr. 2012.
KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 4ª ed. Campinas: Pontes, 1995.
ROTTAVA, Lucia. A importância da leitura na construção do conhecimento. Espaços da escola. Editora Injuí. ano 9. n 35, p. 11-16, jan./mar. 2000.
ROTTAVA, Lucia. A leitura em contexto acadêmico: o processo de construção de sentidos de alunos no primeiro semestre do curso de letras. Signo. Santa Cruz do Sul, v. 37 n.63, p. 160-179, jul-dez. 2012.



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