Reescrita
Por Aluno 6 e Aluno 31
O mundo acadêmico exige muito mais de o simples
assistir de aulas a fim de conquistar o diploma. É neste ambiente que nós,
Clarissa e Nalim, nos sentimos estar diante ao espelho ao nos defrontar com
nossos próprios conceitos de vida. Tal como folhas flutuantes, fomos conduzidas
nas águas de nossas experiências a rever idéias, sentimentos, reformulando, repensando,
ou ainda, criando novas concepções. Neste sentido, o curso de graduação em
Letras, ao qual satisfatoriamente pertencemos desde o início do ano, provoca em
nossas mentes uma avalanche de questionamentos e confrontos com nossa própria
identidade como alunas. A disciplina de Leitura e Produção Textual exige que
revivamos e revivemos nossas experiências de aprendizagem tanto no ambiente
escolar quanto o externo a ele para que, então, através de um memorial, possamos
compreender nossos conhecimentos a fim de desempenhar o papel de educadores
capazes de ficar presente nas memórias de seus discípulos tal pegada na areia
molhada. Neste contexto, recriamos /reinventamos, através de nossas memórias,
as experiências tidas com a leitura.
Fizemos uma análise conjunta a fim
de encontrar alguma familiaridade que deixasse lado a lado as bases das nossas
construções como leitoras críticas. Análise interessante, pois foi a primeira
vez que resgatamos lembranças adormecidas, presente, embora não atuante, sobre
como aprendemos a ler e quais foram os acontecimentos ou pessoas com as quais
nos deparamos e que de alguma forma deixaram suas marcas em nossas mentes, como
cicatrizes, que nos mostraram um mundo novo repleto de possibilidades e
aprendizagens. Curiosamente, percebemos que na nascente de nossas origens como
leitoras, a escola não teve um papel significativo impondo-se como protagonista
do saber. Ela deveria ter sido como uma mão estendida indicando e orientando
nossa sede pelo saber, mas contrariamente a esta posição sua presença foi
velada, limitada as didáticas das antigas cartilhas.
- Em minha educação básica, por
volta do início da década de 90, pouco havia de incentivo à prática da leitura
com as crianças. Não havia, por exemplo, biblioteca na minha escola e, tão
pouco, as professoras possibilitavam o contato das crianças com livros infantis.
Digo, Nalim, que fiquei como lápis sem ponta pela falta que fez este importante
contato com os livros.
- Veja Clarissa, lembrança
semelhante é a minha, pois percebi que durante meus anos escolares não obtive
incentivo dos professores e colegas ou da instituição como um todo. Os
trabalhos relacionados à leitura reduziam-se a apenas ler livros isolados da
escola em nosso quartos sem compartilhar as informações apresentadas por eles. Posteriormente,
perfilados nas classes das salas de aula, respondíamos algumas questões tais
como: quais eram os personagens principais, o que ocorria no decorrer do
livro. Ou seja, o objetivo da leitura
era apenas resumir em termos linguísticos sem que fosse dada atenção ao
conteúdo o texto servia apenas como base para do estudo gramatical Rottava
(1998) nos trás clara esta ideia ao apresentar seu artigo como fundamento
teórico sobre o assunto. Nele, ela expõe que “... ler é extrair sentidos pelo
leitor como decodificação de elementos linguísticos contidos no texto.” (p. 2).
Não havia preocupação com a interligação
leitor - texto tão pouco se visava à leitura do contexto direcionada a um
objetivo ou mesmo pelo simples prazer de ler. Causa-me surpresa esta
controvérsia no ensino uma vez que é exatamente a escola quem tem a função de
expandir os horizontes do educando; ao mesmo tempo, sinto tristeza como criança
que perdeu um brinquedo ao constatar que a visão da educação estava, portanto,
voltada para a alfabetização e não para o letramento, conforme descreve a mesma
autora em artigo de 2000. Não se pensava em leitura como produtora de saberes,
como possibilidade de conhecimento e interligação do mundo exterior ao interior
para formar o indivíduo. O interesse do ensino era voltado a decodificar
palavras nos textos ou a sobreviver no mundo letrado com o mínimo de entendimento,
como oferecer ao sedento simplesmente meio copo de água. Atualmente, ignoro o porquê da falta de preocupação
com o prazer capaz de fazer rir os lábios puireis diante da descoberta das
histórias proporcionados pela leitura, ideia reforçada por Rottava (op.cit.).
Ao reviver o ambiente familiar da
infância em nossas mentes, percebemos que foi o apoio e incentivo dos pais onde
que realmente nos oportunizaram ter contato com a leitura produtiva que
concretizou com cimento nossas bases de conhecimento. Prazerosamente, crescemos
em meio aos livros que preenchiam cada espaço das estantes e armários
existentes tanto na casa de uma como da outra. Infelizmente, diferente é a
realidade da grande maioria dos brasileiros, que acreditam, assim como a Terra
é redonda, que a escola é a única responsável pelo incentivo a esta prática.
Melhor dizendo, “... a família precisa ter presente à ideia de que a leitura
perpassa todas as ações e tarefas realizadas dentro de casa...” (ROTTAVA, 2000,
p.3)
- Desventurada me senti quando percebi
Nalim, que o toque suave e o cheiro doce das páginas dos livros não foram o
bastante para a leitora que futuramente acordaria desperta por este príncipe
das letras, e lavada ao viciante universo das palavras. Em minha parca
experiência de vida, até aquele momento, ler era exaustivo uma vez que exigia
concentração (atributo não dominados na criança e adolescente de então), mesmo
com todo o incentivo dados por minha mãe que, incansavelmente, lia todas as
noites histórias infantis. Foi após minha formação no ensino fundamental como
técnica química que me inseri com afinco no mundo das letras. Esta inserção foi
motivada por vontade própria, já que durante o referido curso também não foi
dada por parte da escola devida atenção quanto à importância da leitura, nem
mesmo no sentido de orientar os estudantes quanto à leitura técnica, tão
necessária para a formação deles como profissionais da área. Certamente, o
aprendizado de como ler e tratar com conceitos técnicos teriam permitido maior
reflexão e aprofundamento por parte dos estudantes sobre o assunto, auxiliando
na produção de seus conhecimentos pensamentos trazidos por Rottava em texto de
2000.
- Afirmo que comigo sucedeu o
oposto, minha devoção aos livros é desde a tenra infância. Creio que tenham sidos
os livros dados por meus pais que me levaram a querer desvendar o tesouro
escondido em suas páginas. No início da minha relação com os livros, meus
mestres liam as histórias para mim, semelhante a tua experiência, Clarissa.
Depois de domar as palavras, assim como faz o escritor ao manusear sua pena, passei
a exercer o papel duplo de leitora e ouvinte.
Certamente foram as idas e vindas à biblioteca, guiadas pela minha avó
que tão delicadamente segurava minhas mãos às suas, e a imensa admiração que
tinha /tenho pelo meu avô marujo habilidoso que conduzia a leitura de várias
obras concomitantemente- que fatalmente fez meus olhos brilharem diante dos
livros me fazendo seguir sempre em sua direção. A sabedoria de budista que meu
avô adquiriu com as leituras me incitou a curiosidade e a vontade de ser seu
reflexo no espelho. Assim, me engajei ainda mais no habito de ter sempre uma
boa obra em mãos.
Deixamos para trás, esquecidas na
poeira dos passos as dificuldades escolares quanto ao ensino precário da leitura
que constatamos ter vivido em nossa formação e passamos a pertencer ao grupo de
leitoras ativas. A corrente que liga os ensinamentos dos livros as nossas
experiências de mundo é que nos permite continuar crescendo, ganhando altura
com a sobreposição do que aprendemos melhorar como pessoas e estudantes
eternas, direcionadas ao infinito dos saberes. Tal compilamento de sabedorias
nos permite perceber maior sentido nos textos e interagir com a sociedade, ou
como diz Rottava (2000) contribuir com nossas práticas sociais heterogêneas por
depender do meio em que nos encontramos inseridas. A construção de sentidos é,
sobretudo a construção do indivíduo que lê, reflete que traz para a vida
prática os conhecimentos oportunizados pelas leituras.
- Digo-lhe Nalim, até o presente
trabalho não tinha percebido o quanto a leitura, no sentido de leitura crítica
de quem reflete e trás para a vida cotidiana o que está nos livros, norteou
minha vida pessoal tanto como produtora de conhecimento quanto como
possibilidade de liberdade criativa. Isso se confirma inclusive
profissionalmente, pois percorri um caminho de muito estudo e dedicação até
alcançar uma vaga no curso de Letras da UFRGS. Em virtude da vivência acadêmica,
estou tendo a oportunidade de produzir textos melhore elaborados estrutural e
linguisticamente. A união daquele com leitura estão contribuindo no meu
crescimento acadêmico e pessoal. Tal união pode ser entendida como tarefa
indissociável,
“ler e escrever são particularmente
indissociáveis, pois podem ser vistos como evento social, no qual os leitores,
do mesmo modo como os escritores, compartilham pensamentos e idéias e,
particularmente objetivos afins que os constituem também produtores de
conhecimento.” (ROTTAVA, 2000, p.4)
- Compartilho contigo, Clarissa a idéia
de crescimento pessoal e profissional em formação proporcionado pelas leituras
tanto as de cunho teórico quanto as lúdicas. Ambas são responsáveis pelo
vocabulário mais amplo e enriquecido como tesouro do rei que tenho constado em
minhas práticas sociais. Creio que a construção de uma sociedade mais integrada
é resultado do processo de prática e treino de leitura, cujo objetivo é
encontrar no fim do arco-íris o tesouro prometido: o conhecimento.
BIBLIOGRAFIA
ROTTAVA, Lúcia. A Leitura e a
escrita na pesquisa e no ensino. Espaços da Escola, Editora. Unijui, ANO 4,
nº 27, pág. 61-68, Jan. Mar., 1998.
ROTTAVA, Lúcia. A Importância
da Leitura na Construção do Conhecimento. Espaços da Escola, Editora.
Unijui, ANO 9 , nº 35, pág. 11-16, Jan.
Mar., 2000.
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