1ª
Versão
Por Aluno 37
A pilha
de louça suja - um obstáculo intransponível à abertura da água na pia,
eventualmente, dado o fato de que ela nunca para de crescer. Analisando este detalhe com uma admirável
consciência do seu dever, além de somar que seu odor tornar-se-á desagradável,
sua visagem aterrorizante e a louça limpa escassa, ou – na pior das hipóteses –
inexistente, uma pessoa decidida chegaria à conclusão que sua limpeza é algo
necessário à saúde pública. Ainda assim, além de não ser um trabalho para
fracos, nossa fé não pode mover estas montanhas – ninguém além dos de vontade
inabalável toma sob as costas tal empresa odisseica.
Resguardando
sua coragem até o ponto do enfrentamento, o indivíduo aproxima-se dela,
cauteloso – mede seu tamanho, compara-o com suas forças e tempo disponíveis.
Protege-se então com seu avental acolchoado, põe grilhões nos cabelos selvagens
quando estes desejam auxiliar o oponente, arma-se de esponja de ou espuma ou de
aço, detergente e água escaldante – e, quando de tato sensível, reforça suas
mãos com luvas protetoras. Certificando-se que o escorredor aguentará o peso à
ele confiado, põe-se aquele ousado ao
seu trabalho.
Primeiramente,
classifica ele os utensílios de acordo com a gravidade da sujeira –
quase-limpos-mas-não-reutilizáveis, não tão limpos, e os mais sujos do que
limpos. Purga suas manchas e dejetos teimosos sempre do mais próximo de seu
ideal de limpeza ao extremo oposto – com sua água desligada, antes que
extermine um inimigo para enfrentar outro, mais cruel e que não desaparecerá à
base de sabão e esfregões (por mais que desejemos), que nos atormenta ao final
de todos os meses. Joga os corpos já sem vida naquela vala comum erroneamente
chamada de balcão da cozinha, enquanto esperam seu agudo olhar de inspetor do
necrotério para aprová-los ou reprová-los na estrada rumo ao seu descanso final
– o ralo da pia. Os que ainda encontram-se naquele estado semivivo, passam pelo
processo novamente – tantas vezes quantas forem necessárias. Agredida assim
(porém não injustamente) nossa porcelana, é após banhada na purificadora água
da torneira – tomemos por analogia o rio Lete da mitologia clássica, donde os
espíritos bebiam da água do esquecimento, e renasciam ao transpor sua margem.
Este
processo, visto não ser de pouca complexidade, pode sugerir aos não-tão-ousados
determinados atalhos – existirão sempre máquinas de lavar louça, trabalhadores
versáteis e corajosos que expõe-se diariamente ao que muitos não toleram
(vulgarmente chamados de diaristas),
e, nos mais graves dos casos, o cesto de lixo ou a janela. Ainda há os dotados
de dons teatrais; sob o astuto ardil de emoções fortes, encurtam eficientemente
seu trabalho ao entregar a louça ou à porta, ou à parede.
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