O texto está estruturalmente no caminho certo, uma vez que vocês
intercalam sua base teórica com as experiências de leitura prévias ao memorial,
que é o mais essencial. Contudo, as autoras foram um pouco breve à introdução, onde
apresentaram ideias que podem ser mais bem exploradas: vocês têm a
possibilidade de, por exemplo, desenvolver a ideia do que é um bom leitor ou
explicar brevemente como se deu o treinamento para a aquisição de habilidades
concernentes à leitura. Essas são apenas algumas das inúmeras formas de
explorar as ideias do primeiro parágrafo – desenvolvê-las um pouco mais
detidamente pode, também, ajudar a situar o interlocutor.
Quando vocês tratam do processo de decodificação, associam a ele a ideia
de extração de sentidos. A decodificação, no entanto, é um processo menos
dinâmico que isso, pois ela é a mera interpretação dos códigos linguísticos –
letras, palavras, frases etc. –, mas não a atribuição ou a extração de sentidos
do texto. Em outras palavras, o leitor que está apto a decodificar não
necessariamente está apto a atribuir ou de extrair sentidos do texto, pois a
decodificação, como mencionado previamente, é mecânica. Para a produção de uma
segunda versão do memorial, portanto, é importante rever esses conceitos com um
pouco mais de cautela.
Seria interessante,
além disso, demonstrar por que a concepção de leitura bottom-up é causadora do
fracasso dos leitores. A ideia é simplesmente mencionada na produção textual e
por isso mesmo não se faz verossímil, o que configura um problema de concretude
e também de objetividade. Ademais, a breve alusão à distinção entre os
processos de extração e de atribuição de sentidos, no fim do segundo parágrafo,
abre espaço para que estas duas concepções sejam mais detalhadamente
explicadas. Essas são boas oportunidades para as autoras cruzarem seu
conhecimento teórico com suas experiências prévias àquele e, assim, enriquecer
o texto.
Ainda nesse sentido,
algo muito útil na produção de um texto é a leitura crítica deste pelo próprio
autor, procurando levantar perguntas no decorrer da leitura. Como exemplo, no
terceiro parágrafo há concepções resgatadas em outros autores (ex. a prevalência
do processo de decodificação na leitura prejudica o leitor), que, no entanto,
ganham um tratamento pouco objetivo na produção das autoras – o que se quer
dizer com essas paráfrases? É então que se faz fundamental o questionamento
dessas informações: de que forma a prevalência do processo de decodificação na
leitura prejudica o leitor, por exemplo? Percebam que a mera inclusão de uma
ideia, sem contextualizá-la no assunto ou sem dar a ela uma razão plausível
para que integre o texto, não é efetiva para convencer o interlocutor. Isso
dito, sugere-se às autoras que sejam mais claras em suas intenções ao escolher
e elencar determinadas concepções, correlacionando-as com o resto do texto.
Por último, é
importante rever alguns aspectos formais concernentes tanto à formatação – os
parágrafos devem ter o alinhamento justificado – quanto ao grau de formalidade
do discurso das autoras. Embora se apoie primordialmente em experiências
pessoais de quem o usa, o gênero textual em questão exige um tom menos
conversacional, isto é, ele é tradicionalmente mais formal. Assim, procurem
evitar o diálogo direto com o interlocutor (ex. ambas as alunas que aqui vos
falam) ou mesmo se reportar a outros autores ao longo do texto sem deles manter
um distanciamento – evitem, se possível, reportar-se à autora Lucia Rottava
como “a professora Rottava”, pois embora ela o seja, as referências devem ser
feitas a autores enquanto autores por excelência, ignorando suas demais
ocupações.
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