1ª
Versão
Por Aluno 12
As
memórias voam como notas feitas a lápis nos cantos das páginas de um livro
sendo apressadamente folheado; e em tais notas pode ser lida a minha história, rabiscada
por entre frases impressas e margens em branco dos livros que, dentre os muitos
que li, marcaram de alguma forma minha vida ou influenciaram a forma como vejo
o mundo. É curioso notar que, em sua maioria, as obras que me despertaram
interresse ao longo de minha vida como leitora estão de certa forma
relacionadas em seus conteúdos.
Tomo
por exemplo os livros infantis que lia quando as margens de meus livros ainda
tinham poucas memórias, logo que aprendi a decodificar textos – uma das
definições possíveis de leitura (ROTTAVA 2000). A temática que até hoje me
interessa, de mistério e terror, já estava presente em alguns dos livros que
tentava ler sozinha – uns eram contos assustadores escritos para crianças sobre
fantasmas tristes, fadas que sequestravam jovens e górgonas da mitologia grega;
outros, suspenses que traziam joguinhos de lógica para que se pudesse descobrir
o desfecho do livro, muitos dos quais eu podia ler, mas não compreendia o
sentido por trás do enredo e seus enigmas. Nesses momentos pedia o auxílio de
meus pais, que me estimulavam a refletir sobre o significado do que havia lido
e então preenchiam as lacunas que eu, em tenra idade, ainda não compreendia –
conceitos, às vezes apresentados de forma suave nas histórias infantis sobre
perda e morte, sofrimento, e o uso de lógica para superar adversidades.
Quando
pequena, tive muita influência dos meus pais para desenvolver um gosto pela
leitura, o que pode ter sido um dos fatores que me tornou tão ávida por buscar
sentido profundo em tudo que leio e
chegar as raízes dos textos: por que isso foi escrito desta maneira? Que
intenções, aprendizados, isso esconde nas entrelinhas? Porém também tive outras
motivações para a leitura; percebo que os textos que acabaram por se tornar
importantes para mim chegaram apenas mais tarde, quando eu já tinha doze ou
treze anos.
Esses livros mais significativos sempre me
foram indicados por amigos, ou eram sugestões minhas para eles, e no geral,
eram obras de ficção infanto-juvenil de temas sobrenaturais. Os vampiros, os
lobisomens e os fantasmas acompanhavam a mim e aos meus colegas durante os
recreios do sétimo e oitavo anos do Ensino Fundamental; uma conversa levava à
outra, um amigo levava a um livro, e um livro levava a outro. Inúmeras foram as
vezes que também um livro levou a um amigo – fator que contribuía para que
juntos seguíssemos em frente na leitura das sagas Harry Potter, A Mediadora e
Crepúsculo, romances que considerávamos grandes, na época. Nem todas essas
obras possuem enredos que ainda hoje me sejam atrativos, mas neles reside o
fator social, tal como visto em Rottava 2000, que deu à essas leituras um
sentido; uma razão, nesse caso sentimental, para serem lidas.
A
temática do sobrenatural na literatura continuou atraente para mim, e fui
buscá-la em outras fontes, dessa vez aproximando-me dos clássicos. Edgar Allan
Poe virou uma companhia de noites chuvosas e trovejantes; O Retrato de Dorian
Gray virou uma paixão tão grande que estive a centímetros – metafóricamente –
de literalmente emoldurá-lo e pendurá-lo na parede. Adaptações de Frankenstein
e Drácula deitavam na cabeceira ao meu lado à noite enquanto eu sonhava com as
versões originais, e ao descobrir Noite na Taverna, passei a dar mais atençãos
aos contos, como os de Maupassant e W.W. Jacobs (é claro, além de conferir os
textos que Álvares de Azevedo cita em suas – muitas – epígrafes).
É
possível perceber que as obras de ficção que opto por ler demonstram um crescente
grau de complexidade, ainda que no geral possam ter temas parecidos. Esse
crescimento reflete o desenvolvimento dos conhecimentos linguístico, textual e
de mundo (KLEIMAN, 1995) que possuo me permitindo maior aprofundamento nos
sentidos, tanto objetivos (como de que forma um livro pode refletir a sociedade
ou época em que foi escrito), quanto nos subjetivos (metáforas, sentimentos
expressos) das obras que leio. Quanto mais enevoada me parece uma história,
mais me infiltro nela, como uma traça abrindo seu caminho por entre as páginas,
e procuro outras leituras que as complementem. Sempre o fiz, mas hoje, no
ensino superior cursando Letras, o faço de forma acadêmica e como futura
profissão.
Referências
ROTTAVA,
Lucia; A importância da leitura na construção do conhecimento In Espaços da Escola; ano9 n.35, p. 11-16, 2000
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