quinta-feira, 26 de junho de 2014

Minha Trajetória Literária

Reescrita
Por Aluno 44


“Numa casinha branca, lá sítio do Pica-Pau Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos” dizia minha mãe, lendo “Reinações de Narizinho” de Monteiro Lobato. Lembro-me com exatidão da cena: eu estava deitada na minha pequena cama que ficava dentro do meu quartinho com paredes rosa. A visão só alcançava minha mãe – que se encontrava sentada ao meu lado, um abajur floral e o teto com diversas estrelinhas brilhantes coladas. Minha idade? Cerca de sete ou oito anos.
Esta é a memória mais antiga que tenho do meu contato com a leitura, mas segundo minha mãe, não foi o início. Apaixonei-me pela primeira vez com cinco anos e o livro se chamava “A Bolinha que Não Rolava” do autor Marô Barbieri. Tenho vagas lembranças daquela capa preta, o título escrito em letras simples e coloridas e com uma bolinha vermelha triste. Eu andava com o livro pra cima e pra baixo, repetindo as frases e admirando as figuras. Minha mãe lia com frequência e, pelo que ela relata, eu repetia as palavras, apontando e tentando me afeiçoar àquelas palavras.
Minha primeira leitura em casa foi “A Arca de Noé” de Vinicius de Moraes. Era o momento da leitura, cerca de sete horas da noite, depois da janta. Eu e minha mãe sentávamos no sofá da sala juntas, sem muito barulho dentro de casa e ela lia uma história pra mim. Neste dia, segundo o que me conta, eu mesma abri uma página do livrinho e li duas palavrinhas.
Em seu texto, Rottava (2000) coloca que é importantíssimo, para o desenvolvimento da criança, que os pais participem deste processo do desenvolvimento do hábito de leitura. A autora diz que a escola é importante para mas que os pais também devem estar conscientes de seu papel. Neste sentido, nada tenho a reclamar de meus pais que participaram ativamente me incentivando a ler, comprando livros e ressaltando a importância da leitura.
Junto com o aprendizado da leitura, veio o gosto pela mesma. Mais do que ler as palavras presentes no papel, passei a desenvolver o costume de comprar livros e conviver com a literatura. Ouvir histórias já não tinha o mesmo gosto do que contato com elas.  Sentia uma necessidade de enxergar e absorver as palavras presentes no papel.
No mesmo texto citado acima, Rottava explica a diferença entre ser alfabetizado e ser letrado. A autora comenta que alfabetização significa aprender a ler e a escrever e, letramento diz respeito à condição de quem não apenas sabe ler e escrever mas cultiva o hábito de ambas as ações. Creio que este processo de alfabetização (que, no meu caso, foi ensinada por meus pais e pela escola) se transformar em letramento (graças aos meus pais) se deu relativamente cedo. No momento em que comecei a ler, passei a desenvolver o gosto pela leitura.
Com cerca de dez anos me apaixonei de novo, desta vez, pela poesia. Seu nome era “Ou Isto ou Aquilo” e a autora é a Cecília Meirelles. Também foi aquele amor avassalador. Lidar com aquelas palavras desalinhadas no papel e que, aparentemente, não fazem muito sentido entre si. Ah, como eu adorava pensar na bailarina que “Não conhece nem dó nem ré/Mas sabe ficar na ponta do pé.”
Já no segundo ano do ensino médio, para um trabalho da escola, tive contato com “A Hora da Estrela” da Clarice Lispector. Os aspectos psicológicos eram bem interessantes, mas nada que me deixasse sem fôlego por conta da falta de entendimento. Angela Kleiman chega a citar em um de seus textos que “a pouca familiaridade com o assunto pode causar incompreensão.” (KLEIMAN, 1995, p. 20). Quando uma professora propôs a discussão em aula, comentando alguns aspectos que passaram despercebidos por mim,  que me deparei com o encantamento por obras mais psicológicas. Foi um livro decisivo no abandono de uma literatura juvenil e na vontade de ler obras que, mesmo sendo mais complicadas, abririam espaço para análises mais profundas.
Hoje não sei se a minha percepção como leitora desta obra seria a mesma. Talvez não me despertasse tanto interesse pois meu gosto literário se volta mais para o foco social e não tanto psicológico. No entanto, Kleiman coloca que:
A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto (KLEIMAN, 1995, p. 13)
A leitura se tornou pra mim um dos maiores prazeres. Com ela, aprendi a me tele transportar a outros locais, sentir outras emoções e conhecer outras percepções. Rottava (2000) diz que ler, acima de tudo, está ligado a construção de sentidos e que este sentido é, na verdade, a construção de uma mensagem. Termino dizendo que as obras que li durante a vida, influenciaram diretamente na construção do meu pensamento atual. Como exemplo, cito alguns autores latino-americanos como Pablo Neruda e Jorge Amado que com suas respectivas obras me auxiliaram na construção de um sentimento de identidade com esta parte do mundo chamada América Latina.




Referências Bibliográficas
ROTTAVA, Lucia; A Importância da Leitura na Construção de Conhecimento In Espaço da Escola; n. 35; p. 11-16; 2000
ROTTAVA, Lucia; A leitura em contexto acadêmico: o processo de construção de sentidos de alunos do primeiro semestre do curso de letras In Signo; v. 37 n.63, p. 160-179, 2012.
KLEIMAN, Angela; Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. 4ª. Ed. Campinas, SP: Pontes, 1995, p. 13.

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