quinta-feira, 26 de junho de 2014

Escolhendo a Profissão – ou Sobre a Satisfação de Ser Escolhida por Ela

1ª Versão
Por Aluno 44


Sempre me disseram que ano de vestibular é um estágio de autoconhecimento e muita dedicação.  Não pelo ano em si, mas pela escolha da futura especialização. É um período de muitas horas perdidas de sono, tensão, estudo e, principalmente, reflexão. Já o meu ano foi um pouco diferente, em 2013 (ano em que fiz cursinho pré-vestibular) a licenciatura me escolheu e, mais do que isso, me acolheu de maneira tão calorosa que não pude recusá-la.
Com 15 anos comecei o meu interesse por cinema. Não sei dizer com precisão como isto aconteceu, mas lá estava eu entregue a sétima arte. Passava dias inteiros assistindo filmes, pesquisava resenhas, detalhes sobre as produções, curiosidades e até estudava a teoria cinematográfica. Tornei-me uma espécie de Isabelle (personagem de The Dreamers) com citações de grandes filmes, discussões sobre diretores e uma lista interminável de filmes pra assistir. Foi enturmada neste meio que descobri o Jornalismo Cultural e foi amor a primeira vista! A profissão consiste, basicamente, em fazer resenhas e divulgações de obras cinematográficas, livros, discos, enfim, produtos de arte. Eu já tinha milhares de planos pra minha profissão, inclusive um grande objetivo, que era trabalhar para a revista Cult. Comprei livros sobre o tema, assistia vídeos de profissionais comentando sua rotina, queria saber tudo sobre isto que me parecia tão certo pra mim.
O tempo foi passando, o amor pelo cinema continuava lá, mas já dava mais espaço pra minha amante mais antiga. Aquela que independente do atual relacionamento sempre esteve esperando pra ser acolhida. A às vezes é mais deixada de lado, mas em outras épocas tem uma participação mais ferrenha nas minhas horas de prazer: a literatura. Eu estava em seus braços novamente e completamente entregue a ela. Agora, então, eu já tinha dois temas de interesse para tratar em minhas resenhas e o jornalismo continuou me atraindo.
Formada no ensino médio e em um cursinho pré-vestibular, comecei a estudar muito para entrar no curso que tanto queria: jornalismo. Eram horas de estudo, cerca de 6 horas por dia, tirando o tempo de aula. Acordar às 7 horas, tomar café, me arrumar, tudo isso até as 7h30, ir pra aula, assistir todas as aulas, voltar pra casa, almoçar e estudar até a noite. Essa foi a minha rotina até junho, quando comecei a cansar e me questionar.
Comecei pensando se tudo aquilo era realmente necessário e, depois, se era o que eu realmente queria. Ao mesmo tempo que olhava a aula de três professores que me encantavam muito: Gabriel Torres (literatura), Marcos Marchy (história) e, principalmente, Edir Vieira (história). Eu ficava encantada com a facilidade de passar tanto conhecimento e, mais do que isso, com o amor que passavam durante as aulas.
Em maio fui em meu primeiro ato. Chovia muito e tinham cerca de 7 mil pessoas na rua. Este foi o primeiro de tantos naquela “primavera de junho”, como chamam os historiadores. Junto com os protestos, o interesse pela política e pela sociologia se fez em mim. Pesquisas, artigos e livros me acompanhavam na construção de um pensamento politizado. E dentro destes estudos a palavra “educação” aparecia com frequência como forte guerreira contra as desigualdades sociais – se colocada de maneira a beneficiar esta causa.
Em julho, depois de muito pensar, aconteceu o  inevitável, a idéia de ser educadora me abraçou de maneira tão firme que não quis mais soltá-la. Ela tinha me escolhido e eu, aceitado com o maior sorriso no rosto esta escolha. Mas faltava responder uma pergunta: com que área educacional eu trabalharia? Veio então, mais uma longa jornada de pensamento.
História ou Letras? Qual teria mais a ver comigo? Isso levou mais um mês. Por agosto, depois de muito pesquisar sobre as duas áreas decidi. A História sempre me interessou por explicar tantos problemas que hoje existem, por me ajudar a entender o pensamento atual e, com isso, desconstruir alguns preconceitos e equívocos que eu mesma cometo. Mas e a literatura, não faz parte de tudo isso? Os livros que eu li me ajudaram na minha formação como pessoa. Jorge Amado me ensinando sociologia, Mia Couto me ensinando sobre o sofrimento do povo africano, Gabriel Garcia Marquez me mostrando como é possível amar um livro. De uma maneira ou de outra, a literatura faz parte da construção de pensamento coletivo ou individual, faz parte da formação de valores de uma sociedade. Foi entendendo isso que optei pela Letras. Como resistir as letras que me acompanharam ao longo da minha caminhada?


Tomada à decisão, consegui voltar a estudar e o resultado do estudo se deu no dia 19 de janeiro de 2014. O resultado da decisão se dá diariamente com esse encanto que sinto por este curso e por ministrar uma aula. Hoje não tenho dúvidas que aquelas reflexões me levaram a fazer a acolher a profissão certa. Sempre digo que a licenciatura me escolheu pois, de certa maneira, sempre fui professora, mesmo sem saber. Só faltava algo acontecer para eu refletir e me conhecer um pouquinho mais.

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