Reescrita
Por Aluno 16
Por
volta de meus 5 anos de idade, havia na minha casa um livro ilustrado que era
fascinante. Lembro das ilustrações como se fosse hoje, folheava as páginas
diversas vezes e a capa era o mais intrigante: nela, havia um grupo de
adolescentes que lia o mesmo livro, o que causava uma espécie de imagem
infinita, pois o mesmo livro implica na mesma imagem, a qual vai diminuindo
infinitamente. Foi com esse livro que aprendi a ler e com a ajuda de minha mãe,
que percebeu minha necessidade de compreendê-lo. O livro, por sinal, era exatamente
para isso: ensinar crianças a ler. Não me recordo muito bem o nome, mas era
algo como: O ABC da Criança. Nele
apareciam as letras, as sílabas e algumas gravuras (geralmente de animais e
objetos que começavam com a letra que iniciava a página) que auxiliavam na
aprendizagem. A presença de minha mãe, quando ela me explicava como funcionava
o livro, é algo que nunca vai sair de minha memória e é nesse momento de minha
infância que percebo a necessidade de incentivo da família, como está dito no
fragmento de Rottava, a qual cita que a família não deve deixar somente para a
escola o papel de despertar, incentivar e motivar a leitura. (ROTTAVA, Lúcia.
Leitura: “A Importância de Leitura na
Construção do Conhecimento”, página 13).
Mais
velha, por volta de meus 10 anos, eu estava decidida que odiava ler. Isso
porque os livros que a escola pedia eram chatos e complicados; ler se tornava
um martírio todas as vezes que chegava a lista com as leituras obrigatórias do
trimestre. Lembro de ter lido A
Moreninha, O Cortiço e Dom Casmurro: detestei todos! Leitura difícil, sem
contexto e principalmente obrigatória.
Eu tinha que ler várias vezes o mesmo trecho para que pudesse compreendê-lo e
não tinha um contato direto com a literatura para formular uma crítica textual.
Isso porque
“... um dos muitos fatores
envolvidos na dificuldade que um principiante encontra para chegar a ler
fluentemente é que os textos que ele lê são muitas vezes difíceis demais para
ele ...” (PERINI, m.a.: “Tópicos discursivos e a legibilidade dos textos”,
1980)
Nesse
momento de minha vida, se alguém me perguntasse se eu gostava de ler, a resposta
seria a mais objetiva, direta e cortante: NÃO! A verdade é que os únicos
instrumentos que eu considerava como leituras eram os livros, sejam os da escola,
sejam os de história. Eu não sabia que ler o caderno Donna da Zero Hora de
domingo, era uma leitura. Eu não sabia que ler os blogs de fanfics,também
eram considerados leituras. Eu não sabia que assistir a um filme legendado, era
outra forma de leitura. Eu não sabia!
“Há, aparentemente, duas situações de leitura que
parecem não compor com este quadro: de um lado estão as leituras automáticas e
pragmáticas – aquelas que se impõem à pessoa no espaço social para fazer as
coisas da vida contemporânea numa sociedade normatizada, tais como deslocar-se,
cuidar de si, controlar contas, realizar pequenas tarefas, manter
relacionamento pessoal (bilhetes, cartas e e-mails e inserções em sites de
relacionamento); de outro lado, aparecem as leituras, por assim dizer,
obrigatórias, como as relativas às atividades profissionais e as de estudo.
Enfim, supõe-se que o gesto de ler seja voluntario, desobrigado, ainda que
“comprometido”, no sentido de que representa um investimento pessoal em algo
importante. Por isso mesmo, a autonomia e a escolha são aspectos bastante
valorizados. ” (BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: acepções, sentidos e
valor, p. 29).
Foram dois anos mais
tarde, no amigo secreto de natal da família, que me presentearam com um livro,
um livro grosso (na minha visão), de capa sem graça e desestimulador. Tudo que
eu pensava era: livro idiota, presente idiota, nunca vou lê-lo. Passados seis
meses e servindo de calço para a estante da TV, eu havia resolvido abrir o livro.
Não pense o leitor que era por vontade própria, a verdade é que as férias de
julho chegaram e o modem da internet estava estragado, portanto, o tédio
e a inércia eram meus novos amigos íntimos.
O
nome do livro era Crepúsculo, de Stephenie Meyer. Conforme eu o lia, ia
me interessando mais pelos personagens, pelo enredo e pelo cenário. Fui criando
imagens em minha mente e querendo saber cada vez mais daquela história. Quando
percebi, estava tão apaixonada, tão interessada por aquele livro que sentar à
mesa para comer era perda de tempo. Uma leitura tão fácil, um enredo tão
envolvente e é claro: extremamente voltada para o grupo pré-adolescente.
Segundo Rottava, a leitura deve provocar no leitor uma reação e isso permitirá
que sejam emitidas opiniões, pois aceitar ou recusar um tema ou um assunto é,
muitas vezes, o ponto de partida para a construção do conhecimento.
(ROTTAVA, Lúcia. Leitura: “A Importância da Leitura na Construção do
Conhecimento”, 2000).
Com
Crepúsculo pude evoluir minha leitura conforme minha idade; criei gosto pela
literatura brasileira e adquiri um senso crítico, pois já não era um martírio
as leituras obrigatórias da escola. Ainda não gosto de O Cortiço; no
entanto, Dom Casmurro e A Moreninha são livros que adoro reler, pois
agora essas obras são adequadas para minha idade e posso entender a visão do
autor da época. Obrigar crianças a ler esse tipo de leitura mais complexa, é
fruto de um ensino ditatorial, no qual todos devem conquistar um conhecimento
prévio, mesmo sem serem apresentados a ele. Por fim, permito-me ressaltar que
uma leitura como Crepúsculo, talvez mais curta, todavia com a mesma linguagem
fácil, dinâmica e voltada para o jovem, seja o ideal para a iniciação literária
na escola, pois assim o aluno é estimulado a conhecer novos caminhos e
histórias diferentes. Vale ressaltar que o hábito de ler deve ser iniciado na
infância pela família ou por pessoas próximas, para que a criança se sinta
estimulada e incentivada.
Referências
Bibliográficas:
BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura:
“Acepções, sentidos e valor. In: Nuances: estudos sobre educação”, 2012.
ROTTAVA, Lúcia. Leitura: “A Importância da
Leitura na Construção do Conhecimento”, 2000.
PERINI, m.a. Leitura:
“Tópicos discursivos e a legibilidade dos textos”, 1980.
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