1ª
Versão
Por Aluno 26
Certa
tarde, na aula de Leitura e Produção Textual, surgiu um debate acerca de como a
leitura é apresentada para os alunos nas escolas desde as séries iniciais até o
Ensino Médio. Nós, alunos, discutimos sobre a atual polêmica causada pela
autora Patrícia Secco, por anunciar a publicação de uma edição simplificada do
conto O Alienista, de Machado de Assis. Há muitas controvérsias sobre esse
assunto e, assim como tem muitas pessoas a favor, outras várias são contra a
adaptação da obra machadiana para uma linguagem mais acessível ao público
“iletrado”, por assim dizer. Alegam que o texto irá perder a originalidade e a
essência.
Comecei a pensar
sobre como foi que fiquei conhecendo esse autor de tão grandes obras que foi
Machado e me lembrei perfeitamente: eu estava na sétima série do Ensino
Fundamental, com 13 anos. Naquele ano, a professora de Literatura adotou como
projeto de leitura, o livro “O Menino e o Bruxo”, de Moacyr Scliar, que conta a
história de Joaquim Maria: um jovem mulato e gago que encontra um tal Bruxo do
Cosme Velho, quem o incentiva a escrever histórias. Joaquim Maria, ainda por
cima, se enamora de uma menina: Capitu. Claro que na época eu não sabia o
significado de nada disso e, muito menos, quem era Capitu.
Um ano depois, já na
oitava série, os alunos deveriam ler Dom Casmurro para a elaboração de um
trabalho. Assim o fiz e nunca detestei tanto um livro em toda minha vida. Finalmente
havia descoberto de onde surgira a tão falada Capitu, mas a linguagem elaborada
e as sentenças complexas me impediam de compreender a história. Entretanto, no
segundo ano do Ensino Médio, resolvi romper essa barreira contra Machado de
Assis que a escola havia me imposto. Li e reli Dom Casmurro e, logo após,
Memórias Póstumas de Brás Cubas e Helena. Dessa vez, o texto de Machado não me
pareceu um inimigo como da outra vez, porque eu já havia alcançado certa
maturidade para poder entendê-lo, e dessa forma, os escritos desse grande homem
se tornaram meus companheiros para a vida toda.
Assim que lembrei
esses acontecidos, fiquei fazendo considerações sobre a polêmica de adaptação
da obra machadiana. Dizemos que ler está ligado à construção de sentidos
(Rottava, 2000, p. 14) e, para isso, é essencial que tenhamos um conhecimento
prévio da leitura, que envolve, também, um conhecimento linguístico (o qual
está implícito em todos os falantes), um conhecimento textual que nos faz ter
noção sobre o assunto que é tratado no texto e um conhecimento “de mundo”, que
é o conhecimento adquirido informalmente por nosso convívio social (Rottava,
apud Kleiman, 1995). Entretanto, mesmo sabendo da importância de se ter um
conhecimento prévio, apresentamos textos originais de Machado de Assis para
nossos alunos de 13, 14 anos de idade e queremos exigir que eles os
compreendam. Porém, se eles não sabem nada sobre o autor, o contexto, o porquê
de estarem lendo tal coisa, ou se leram somente O Menino e o Bruxo sem saber do
que se tratava, a leitura se tornará inviável.
Sendo assim, podemos
entrar no mérito de fazer-nos aquela pergunta pertinente: “Para quem estou
escrevendo? A quem desejo despertar interesse?”, e lembrar-nos de que a leitura
se torna um tanto melhor quando apresenta conteúdos que já temos certo
conhecimento e que a apropriação da língua culta para um nível de língua mais
próximo do leitor iniciante (Rottava, 2000, p.15) não tira a essência de texto
algum. Acredito que mostrar adaptações
das obras clássicas, adaptações essas que transformam os textos maçantes em
leituras agradáveis para as crianças ou qualquer leitor iniciante, é uma ótima
forma de introduzir a literatura a elas e demonstrar que, não somente pessoas
letradas podem ler Machado de Assis (ou qualquer outro autor), mas que todas as
pessoas podem ter acesso a qualquer tipo de leitura.
Referências
ROTTAVA, L. A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento. Espaços da
Escola, Ijuí, Editora UNIJUÍ, a. 9, n. 35, jan-mar. 2000, p.11-16.
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