Reescrita
Por Aluno 22
Por Aluno 22
Poucas coisas em minha vida
foram tão difíceis como aprender a ler e mesmo me considerando uma criança
inteligente, pelo fato de aprender tudo muito rápido, aparentava haver entre
mim e a leitura um bloqueio, que não era reduzido em nada pelos métodos de
ensino escolar. Embora se eu não possuísse dificuldade de aprendizado, pois
como já havia dito era precoce em praticamente todo o resto como, por exemplo,
na matemática onde aos seis anos dominava o uso da tabuada e me arriscava em
operações com frações. E se o sistema de ensino obtinha sucesso com as outras
crianças, afinal minha turma possuía trinta e três alunos e somente eu ainda
não havia aprendido a ler, apesar de transcorrido metade do ano letivo, sendo assim
continuava no ar uma questão sem resposta, o porquê da minha dificuldade de
aprendizagem.
Logo minha mãe foi chamada a escola em que eu
estudava, naquele ano, para ser avisada sobre esse assunto e minha mãe para não
ver seu filho repetir a primeira série, vestiu sua roupa de super-mulher e
abraçou a missão de me fazer ler. Porém se alguém está pensando que os métodos
de ensino de minha mãe se baseavam em amor e carinho, estão completamente
enganados, foi a base de muitos puxões de orelha, petelecos e gritos que ela
tentou me ensinar. E seu método se apoiava no processo em que agora irei
descrever. Ela inicialmente pronunciava a palavra que deveria ser repetida por
mim, pausadamente dando ênfase a todas as sílabas. Logo depois, falava as letras
que continham em cada sílaba, posteriormente, dizendo o som que a junção dessas
letras produzia na sílaba e por fim ela repetia a palavra normalmente e
apontava no texto a mesmo vocábulo e pedia para que eu lesse.
Era incrível sua dedicação, mais interessante
ainda era o tédio que aquilo me causava, que por diversas vezes, me exigia um
enorme esforço para não dormir, o que não podia de jeito algum acontecer, pois
havia a necessidade que eu decorasse a minha fala, para que o aprendizado se concretizasse.
Com isso como podem perceber, o método de minha mãe tinha se demonstrado tão
ineficaz quanto o de minha professora, pois, assim que ela acabava eu já havia
decorado o que ela queria e apenas o fazia, às vezes até gaguejava, no intuito
de dar uma veracidade maior ao aprendizado, e este até ali era inexistente por
sinal. Portanto ao final de todo aquele processo eu não havia aprendido nada,
mas minha mãe se mostrava feliz, pois seu filho havia decifrado um texto e foi
o que eu aprendi durante boa parte daquele ano em casa e na escola a decifrar
letras, frases, textos e livros.
Isso se tornaria recorrente durante quase todo meu contato com a leitura,
por que cada vez que acabava uma leitura poucos professores me perguntavam o
que eu havia absorvido daquilo, sendo essa absorção o supra-sumo de qualquer aprendizado.
E hoje por estar cursando letras em uma das melhores universidades do país após
ler alguns textos, da professora Lucia Rottava, em que é abordado o conceito de
leitura em sua amplitude não apenas como decodificação de sintagmas, e todos os
fatores que contribuem para uma boa leitura como: conhecimento prévio do
leitor, interesse sobre o assunto, linguagem compatível com o leitor, nível de
intimidade que o leitor possui com assunto, entre outros.
E assim podendo notar que
fui vítima de um sistema de ensino sucateado que perdura até os dias de hoje,
no qual se cria, ano após ano, uma nova leva de semi-analfabetos, pelo fato das
instituições de ensino diminuir o ato da leitura, a um simples procedimento de
reconhecimento e reprodução de fonemas. Uma vez que, não é explicado ao aluno a
funcionabilidade da leitura e sua importância, mencionando o prazer que a
leitura pode trazer a vida das pessoas, e por ter sido cobaia, deste sistema
educacional, posso afirmar, que nada disso foi explicado a mim na época, apenas
me impuseram a aprendizagem da leitura como uma obrigação acadêmica e social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário