1ª
Versão
Por Aluno 7
De minha
infância trago boas lembranças de minha mãe contando-me histórias, eu deitada
ao seu lado na cama e ansiosa para participar de mais uma aventura do “Sr.
Coelho”. Minha participação na construção do cenário e na criação dos
personagens era bastante ativa, pois eu era sempre questionada a cada novo
acontecimento e estimulada a construir minha própria versão da história,
permitindo um encantamento instantâneo e a busca por ser cada vez mais
criativa.
Com o
ingresso na 1ª série do ensino fundamental deu-se o início de minha
alfabetização, um misto de medo e empolgação pois aprender a ler e escrever
parecia algo muito complexo e ao mesmo tempo possibilitaria a compreensão de
coisas até então inatingíveis, como os livros. Após a alfabetização temos a
curiosidade e vontade de treinar nossas capacidades, muitas vezes a própria
escola nos estimula a isso, querendo entender cada palavra escrita em qualquer
que fosse o lugar, como em bulas de remédio, anúncios de jornal ou revistas
mesmo sem entender o significado das palavras. Essa leitura não passava de uma
mera junção de sílaba “a escola alfabetiza acreditando estar expondo os alunos
à pratica da leitura, na verdade o que está fazendo é ‘treinando-os’ a
simplesmente decodificarem um material escrito” (ROTTAVA, 2000, 13).
Com o passar
do tempo comecei meu interesse por livros, no início eram histórias infantis e
a maior parte deles possuíam gravuras que tornavam a pratica mais agradável e
estimulavam a criatividade e fantasia, muitos deles eram indicações da escola e
assim me aventurei pela primeira vez a ler em outro idioma, o espanhol, o que
na época não me pareceu muito divertido pois eu não dominava a língua e ele
quase não possuía gravuras para facilitar o entendimento. Em casa eu tinha
acesso a algumas revistas que minha mãe gostava de ler, mas meu maior interesse
era por uma coleção de livros do meu pai, eram pequenos e possuíam a capa dura
na cor vermelha, tão bonitos. Um dia decidi me aventurar a ler um livro
“grande”, para mim ele possuía muitas páginas e era um desafio, mal sabia eu
que iria parar no curso de letras e passar praticamente todo o tempo livre
lendo. “Arlequim, servidor de dois amos” foi o primeiro livro que li por
interesse, seduzida pela capa e a vontade de testar minhas habilidades. Por se tratar
de uma peça de teatro, composta apenas por diálogos, a leitura foi bastante
confusa e difícil até de compreender os nomes dos personagens corretamente.
Apesar de não entender completamente o enredo li até o fim e fiquei orgulhosa
de meu feito na época. Ler apenas por distração não me acrescentou nenhum
conhecimento, tanto que nem recordo do enredo do livro, apenas de sua capa
“O simples hábito de ler
descomprometido, sem a reflexão aguda do sentido das coisas, numa condição em
que a pessoa é levada pelas circunstâncias e motivada por interesses
pragmáticos (como seria ler para tornar-se mais competitivo ou ler para
divertir-se e esquecer) se caracteriza como uma situação de alienação. O que é
alienado é automatizado, é feito mecanicamente, sem consciência dos processos
de significação e, portanto, sem capacidade de ampliação de horizontes de vida”
(BRITTO, 2012, 30)
Os livros
didáticos também me causavam fascinação, a possibilidade de compreender tanta
coisa em apenas algumas páginas, como as relações políticas explicadas no livro
de história, deixavam-me entusiasmada para estudar. Ainda que leituras
obrigatórias, por serem relacionadas ao estudo, eu me dedicava realmente em
tirar proveito da leitura e não apenas “passar os olhos”, pois ela contribuía
para o meu crescimento pessoal e agregava valores ao meu conhecimento de mundo,
tão importantes para que hoje eu consiga compreender melhor as leituras que
faço durante meu curso, como os clássicos gregos e romanos.
Por ser jovem e ter muito conhecimento a
acumular ainda, as vezes me perco em determinados textos que atualmente sou
obrigada a encarar. A falta do domínio de determinados assuntos e até de outro
idioma dificulta e muito a compreensão de determinados conceitos importantes
para minha formação acadêmica, “Há um ‘querer dizer’ do texto-base, de seu
autor, e há um ‘querer dizer’ do leitor que podem ainda não estar em sintonia
com um tema em virtude da prática social de leituras por parte dos sujeitos, no
momento inicial de sua formação” (ROTTAVA, 2012, 174). De certa forma isso me
obriga a ir atrás de explicações, exemplos e diferentes ideologias a fim de
construir um conhecimento no assunto não adquirido previamente e ampliação do
meu conhecimento de mundo também, conseguindo assim a compreensão daquilo que
leio. “A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela
utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o
que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua
vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o
conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor
consegue construir o sentido do texto” (KLEIMAN, 1995, 13).
Referências
BRITTO, L.P. Nuances: estudos sobre educação. v. 21,
n. 22, p. 18-32, jan. /abr. 2012.
KLEIMAN,
Angela. Texto e leitor: aspectos
cognitivos da leitura. 4ª ed. Campinas: Pontes, 1995.
ROTTAVA,
Lucia. A importância da leitura na
construção do conhecimento. Espaços da escola. Editora Injuí. ano 9. n 35,
p. 11-16, jan./mar. 2000.
ROTTAVA,
Lucia. A leitura em contexto acadêmico: o
processo de construção de sentidos de alunos no primeiro semestre do curso de
letras. Signo. Santa Cruz do Sul, v. 37 n.63, p. 160-179, jul-dez. 2012.
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