Reescrita
Por Aluno 11
“A
família também não deve deixar somente para a escola o papel de despertar,
incentivar e motivar a leitura.” (ROTTAVA, 2000, p. 13). Percebes a importância
da família no papel de agente incentivador ao hábito de ler? Dou início a este
memorial desta maneira, convidando-te a refletir sobre o papel da família com
relação à leitura.
Lembro-me
de achar bonito o hábito de leitura, e embora não saiba explicar exatamente o
porquê desta impressão que tinha quando criança, sei que sempre que via alguém
sentado em uma praça lendo um livro, revista ou até mesmo o velho jornal
companheiro de todos os dias, observava e pensava o quão inteligente aquele
leitor ou leitora poderia ser. Minha idade era algo entre 9 ou 10 anos e sabia
ler e escrever, como se espera de uma criança de tal idade. Na maior parte das
vezes na qual eu lia, as palavras eram identificadas por mim de forma isolada,
e passando os olhos pelas largas folhas acinzentadas dos jornais, pelas
coloridas folhas de revistas ou gibis, como se estivesse lendo e compreendendo
alguma coisa, logo enjoava da brincadeira de ser leitor e ia brincar. Sendo
assim, minha leitura era feita de palavra em palavra, isoladamente, não
conseguindo atribuir um sentido lógico ao enunciado, e devido a isso ler não
era interessante, já que o que tivera sido lido não fizera sentido. Segundo
Rottava (1998), a leitura sofreu mudanças em seu conceito ao longo dos anos, e
diferente da “decodificação de signos” da década de 70, agora a leitura é vista
de forma completamente interativa, na qual o leitor estabelece um diálogo com
autor, extraindo o máximo proveito na leitura, levando aspectos sociais do
leitor em conta, e etc. Quanto a mim, quando criança e adolescente, faltava-me
intimidade com as letras, sendo assim, minha leitura não passava de uma
decodificação insignificante dos signos presentes no texto, extraindo o mínimo,
ou nada do significado.
Minha
família lia apenas aquilo que era necessário para “sobreviver” durante o dia,
como anúncios, placas, rótulos, jornais e revistas, ou seja, não tinham o
hábito da leitura por prazer. Assim os anos foram se passando e minha relação
com a leitura era quase inexistente, desta maneira eu tinha dificuldades em ter
fluência ao ler. É difícil explicar, mas mesmo não lendo eu adorava a ideia de
ler um bom livro, mas o incentivo na escola era pouquíssimo. Porém, a
deficiência do sistema de ensino não foi a única responsável pela minha falta
de intimidade com a leitura, mas sim divide uma boa parcela desta
responsabilidade com a falta de incentivo e exposição à literatura que minha
família me proporcionou. Segundo Rottava “ler e escrever são particularmente
indissociáveis” (2000, p. 14), logo, eu que mal sabia ler, também tinha
dificuldades com a escrita em plena véspera de ensino médio.
Uma
simples mudança de uma casa para outra mudou completamente a minha ralação com a
leitura; passei a morar com meus avós. Meu avô, que por muitos anos ministrou
aulas de português, me ensinava tudo o que ele podia sobre a língua e suas
possibilidades de construção. Enquanto eu cursava o ensino médio, despertei
minha paixão pela língua e pela leitura que estivera adormecida por muito, mas
que graças à exposição ao hábito de ler pude tornar-me um daqueles leitores que
eu me colocava a observar quando ainda criança.
Por
fim, a leitura, dentre as suas inúmeras funções, veicula conhecimento e
transforma a realidade de um leitor, mas é um hábito que deve ser incentivado,
despertado por alguém. Não há dúvidas de que a escola tem o papel de expor os
alunos a obras literárias e ser um agente ativo nesta construção, mas a família
também tem um importante papel nesta formação. Se o interesse dos alunos pela
leitura vier de berço, a escola apenas terá o papel de lapidar e edificar este
apreço pela leitura, gerando uma formação mais eficaz e aprofundada em termos
de conhecimento.
“[...] atribuir o
fracasso como leitores à deficiência em leitura na formação anterior [ou à
falta de incentivo familiar à leitura] é não acreditar que o processo de
aprendizagem é contínuo [...]” (ROTTAVA, 2012, p. 176)
Aprendemos
continuamente, e esta construção dar-se-á até o nosso último minuto de vida,
portanto sempre há tempo para “aprender”, “descobrir” ou “redescobrir” as
maravilhas que a leitura, e somente ela, pode nos proporcionar. O processo de
construção de conhecimento e longo, infindável e árduo, porém prazeroso e
único, portanto, dei-me a esse saudável vício que é a leitura, e desta forma
sigo na construção do meu saber.
Referências:
ROTTAVA, Lúcia. A Leitura e
a escrita na pesquisa e no ensino. Espaços da Escola, Editora. Unijui, ANO
4, nº 27, pág. 61-68, Jan. Mar., 1998.
ROTTAVA, Lúcia. A
Importância da Leitura na Construção do Conhecimento. Espaços da Escola,
Editora. Unijui, ANO 9, nº 35, pág. 11-16, Jan. Mar., 2000.
ROTTAVA,
Lúcia. A Leitura em Contexto Acadêmico:
o Processo de Construção de Sentidos de Alunos do Primeiro Semestre do Curso de
Letras. Santa Cruz do Sul, V. 37, n°.63, p. 160-179, Jul. Dez., 2012.
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