terça-feira, 24 de junho de 2014

Minha não-leitura filipe

Reescrita 
Por Aluno 11


“A família também não deve deixar somente para a escola o papel de despertar, incentivar e motivar a leitura.” (ROTTAVA, 2000, p. 13). Percebes a importância da família no papel de agente incentivador ao hábito de ler? Dou início a este memorial desta maneira, convidando-te a refletir sobre o papel da família com relação à leitura.
Lembro-me de achar bonito o hábito de leitura, e embora não saiba explicar exatamente o porquê desta impressão que tinha quando criança, sei que sempre que via alguém sentado em uma praça lendo um livro, revista ou até mesmo o velho jornal companheiro de todos os dias, observava e pensava o quão inteligente aquele leitor ou leitora poderia ser. Minha idade era algo entre 9 ou 10 anos e sabia ler e escrever, como se espera de uma criança de tal idade. Na maior parte das vezes na qual eu lia, as palavras eram identificadas por mim de forma isolada, e passando os olhos pelas largas folhas acinzentadas dos jornais, pelas coloridas folhas de revistas ou gibis, como se estivesse lendo e compreendendo alguma coisa, logo enjoava da brincadeira de ser leitor e ia brincar. Sendo assim, minha leitura era feita de palavra em palavra, isoladamente, não conseguindo atribuir um sentido lógico ao enunciado, e devido a isso ler não era interessante, já que o que tivera sido lido não fizera sentido. Segundo Rottava (1998), a leitura sofreu mudanças em seu conceito ao longo dos anos, e diferente da “decodificação de signos” da década de 70, agora a leitura é vista de forma completamente interativa, na qual o leitor estabelece um diálogo com autor, extraindo o máximo proveito na leitura, levando aspectos sociais do leitor em conta, e etc. Quanto a mim, quando criança e adolescente, faltava-me intimidade com as letras, sendo assim, minha leitura não passava de uma decodificação insignificante dos signos presentes no texto, extraindo o mínimo, ou nada do significado.
Minha família lia apenas aquilo que era necessário para “sobreviver” durante o dia, como anúncios, placas, rótulos, jornais e revistas, ou seja, não tinham o hábito da leitura por prazer. Assim os anos foram se passando e minha relação com a leitura era quase inexistente, desta maneira eu tinha dificuldades em ter fluência ao ler. É difícil explicar, mas mesmo não lendo eu adorava a ideia de ler um bom livro, mas o incentivo na escola era pouquíssimo. Porém, a deficiência do sistema de ensino não foi a única responsável pela minha falta de intimidade com a leitura, mas sim divide uma boa parcela desta responsabilidade com a falta de incentivo e exposição à literatura que minha família me proporcionou. Segundo Rottava “ler e escrever são particularmente indissociáveis” (2000, p. 14), logo, eu que mal sabia ler, também tinha dificuldades com a escrita em plena véspera de ensino médio.
Uma simples mudança de uma casa para outra mudou completamente a minha ralação com a leitura; passei a morar com meus avós. Meu avô, que por muitos anos ministrou aulas de português, me ensinava tudo o que ele podia sobre a língua e suas possibilidades de construção. Enquanto eu cursava o ensino médio, despertei minha paixão pela língua e pela leitura que estivera adormecida por muito, mas que graças à exposição ao hábito de ler pude tornar-me um daqueles leitores que eu me colocava a observar quando ainda criança.
Por fim, a leitura, dentre as suas inúmeras funções, veicula conhecimento e transforma a realidade de um leitor, mas é um hábito que deve ser incentivado, despertado por alguém. Não há dúvidas de que a escola tem o papel de expor os alunos a obras literárias e ser um agente ativo nesta construção, mas a família também tem um importante papel nesta formação. Se o interesse dos alunos pela leitura vier de berço, a escola apenas terá o papel de lapidar e edificar este apreço pela leitura, gerando uma formação mais eficaz e aprofundada em termos de conhecimento.
“[...] atribuir o fracasso como leitores à deficiência em leitura na formação anterior [ou à falta de incentivo familiar à leitura] é não acreditar que o processo de aprendizagem é contínuo [...]” (ROTTAVA, 2012, p. 176)
Aprendemos continuamente, e esta construção dar-se-á até o nosso último minuto de vida, portanto sempre há tempo para “aprender”, “descobrir” ou “redescobrir” as maravilhas que a leitura, e somente ela, pode nos proporcionar. O processo de construção de conhecimento e longo, infindável e árduo, porém prazeroso e único, portanto, dei-me a esse saudável vício que é a leitura, e desta forma sigo na construção do meu saber.


Referências:
ROTTAVA, Lúcia. A Leitura e a escrita na pesquisa e no ensino. Espaços da Escola, Editora. Unijui, ANO 4, nº 27, pág. 61-68, Jan. Mar., 1998.
ROTTAVA, Lúcia. A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento. Espaços da Escola, Editora. Unijui, ANO 9, nº 35, pág. 11-16, Jan. Mar., 2000.

ROTTAVA, Lúcia. A Leitura em Contexto Acadêmico: o Processo de Construção de Sentidos de Alunos do Primeiro Semestre do Curso de Letras. Santa Cruz do Sul, V. 37, n°.63, p. 160-179, Jul. Dez., 2012. 

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