1ª Versão
Por Aluno 1
Minha
experiência com a leitura começou bem cedo, acredito que eu tinha mais ou menos
seis anos. Não era exatamente a ideia de leitura que tenho hoje, mas a
considero porque foi aquele início que, tempo depois despertaria a curiosidade
pelos livros.
Naquela
época, minha mãe, antes de dormir contava, para mim e minha irmã, uma história,
aquelas de princesas e finais felizes. Minha mãe sempre me incentivou a ter
interesse por histórias de qualquer gênero, assim, quando fosse grande demais
para ouvir histórias antes de dormir, poderia buscá-las em outro lugar. Esse
outro lugar seriam os livros.
Lembro
de uma noite em que estava no quarto dos meus pais com eles, os dois estavam
lendo e eu decidi que também queria ler. Peguei o primeiro livro que vi na
estante da minha mãe, para mim, que era pequena, aquele livro pareceu enorme. O
nome dele Crianças do Além de Chico
Xavier. Considero aquele o meu primeiro livro “grande”, embora hoje eu saiba
que ele não é tão grande assim.
Eu
não fazia ideia de que estava lendo um livro espírita, sequer sabia o que era
um livro espírita. Tampouco lembro o que meus pais me disseram sobre aquele
livro, se disseram alguma coisa. Só sei que, após terminar a leitura me senti
vitoriosa e queria ler mais livros.
Os
livros que li a seguir não consigo me recordar. Lembro que em determinado
momento tive que ler para a escola O
Fantástico Mistério de Feiurinha de Pedro Bandeira. Era um teatro, e eu o
li com tamanha voracidade que o terminei em um dia. Mais tarde, a história viria
a ser um filme estrelado pela Xuxa, não quis assisti-lo para não estragar a
ideia que eu tinha do livro.
Sinto
essa sensação com os dois livros, não quero relê-los e não quero ver o filme da
Xuxa, porque na minha cabeça tenho a ideia de terem sido maravilhosos. E se eu
lê-los outra vez, agora mais velha, provavelmente, vou achá-los toscos. Tenho
apenas flashbacks das histórias e, às
vezes, não sei mais se eles são realmente o que estava escrito ou se já começo
a imaginar algo que eu quero lembrar, mas que não existiu. Provavelmente, deve
ser os dois.
A
leitura que realizei naquele tempo e que me encantou, pode se incluir no
contexto de leitura como prática social, feita em determinado contexto, com
determinados interesses. Quando o leitor tem seus próprios propósitos ao se
dedicar para leitura, relacionados às experiências do leitor como sujeito
participante de uma cultura ou de um meio social (ROTTAVA, 2012). Aquelas
minhas leituras que me pareceram tão maravilhosas, hoje podem ser vistas com
outros olhos. Primeiro porque eu, como leitora, mudei meus interesses e,
também, o contexto social ao qual estou inserida.
Devo
ter lido mais alguns livros nesse meio tempo, mas não me recordo, o próximo
livro a despertar interesse pela leitura, foi um de Paulo Coelho, a pedido da
professora de português da escola. O mais incrível é que aquela foi a única
profissional da área que pediu para os alunos lerem Paulo Coelho. Eu acho que
estava na sexta série do Ensino Fundamental. Li três obras do autor e as
abandonei.
Hoje
ouço com muita frequência críticas ao autor, não reli os livros novamente para
saber se são assim tão ruins, mas a crítica me influenciou a pensar que sim,
Paulo Coelho é ruim. Contudo, ele tem um significado na minha trajetória com a
leitura, porque a partir de então comecei realmente a ter um convívio mais
frequente com os livros. Diferentemente dos outros dois livros citados, as
obras de Paulo Coelho quero reler, preciso fazê-lo agora com os olhos críticos
de alguém que já leu mais do que um livro espírita e teatro infanto-juvenil.
De
fato, a leitura aconteceu em minha vida desde muito cedo, lia as imagens que
via em livros infantis e nos desenhos animados, lia a cena de minha mãe estar contando
histórias para mim. Mas essas leituras perdem um pouco do valor na sociedade,
segundo Britto (2012) apenas leituras de livros e de conteúdos que estão além
daquelas que praticamos no dia a dia que são consideradas construtivas para um
leitor.
Eu
acredito que esse pensamento é totalmente desestimulante aos futuros leitores,
pois os faz crer que ler é apenas ler textos extensos e chatos. Aqui, retomamos
o conceito de leitura como prática social, pois, dessa forma, a criança
perceberá aos poucos, conforme toma maturidade, que tipo de leitura lhe agrada.
Essa prática deve ser considerada como uma escada, que se suba um degrau de
cada vez.
Confesso
que até entrar na graduação e trabalhar com esses conceitos não possuía noção
de estímulo à leitura. Na verdade, um leitor não se tornará um bom leitor se
ler por obrigação, a obrigatoriedade torna as coisas tediosas, mas sim, deve-se
mostrar a criança possibilidades de leitura, que ela escolherá de acordo com
suas vontades.
Olhando
por esse lado, percebo que meus pais fizeram isso comigo durante toda a minha
infância. Nunca me forçaram a ler nada que eu não tivesse interesse, aos poucos
comecei a imitá-los, por exemplo, meu pai costumava ler jornal, eu o via lendo
e isso despertou vontade de ler aquilo também. Minha mãe sempre gostou de
romances, eu a via lendo – achava, na verdade, os títulos desinteressantes –,
mas vê-la lendo, me fez despertar também interesse por romances, não os mesmos
que o dela, mas sim, outros títulos e outros autores.
Fui
criando meus próprios interesses através da minha livre escolha de leitura, e
assim fazendo-a cada vez mais frequente em minha vida. Até que então, ainda
nova demais para compreender, atingi um tipo de leitura que estava um pouco
fora do meu alcance de entendimento: parti para o primeiro livro de filosofia,
peguei-o na instante de meu pai.
Ora,
meu pai disse que aquele livro era bom, por que não acreditar? Nos primeiros
capítulos, parei. Ficou ali, na minha cabeceira, uns dois meses sem que o
tocasse, Zen e a arte da manutenção de
motocicletas de Robert M. Pirsig.
Passado um tempo, tive que enfrentar a fera. Recomecei a leitura, e dessa vez,
fui até o fim. Percebi, então, que ler vai além de um passatempo. Ler é,
sobretudo, adquirir conhecimentos e pensamento crítico. Até aquele momento, não
pensava em leitura como construção de pensamento crítico, e isso mudou
completamente a minha ideia de leitura e do que gostaria de ler.
O
sentimento que tive ao terminar de ler Zen
e a arte da manutenção de motocicletas foi de uma nova visão de vida: ser
mais curiosa e buscar entender as coisas, invés de negá-las por simplesmente
achar que são tediosas. Isso quem me ensinou não foi a leitura, mas sim o
livro. Era essa a mensagem que ele tinha no seu texto. E, ao terminar, entendi,
e o entendimento passou a tornar o livro interessante. Hoje olho para ele e
penso o quanto é bom tê-lo lido.
Depois
disso, passei a gostar mais de leituras que me tragam esse entendimento ao
final do que daquelas que não me trazem nada. Preciso de um esforço, é claro,
não é uma leitura fácil, mas quando fecho o livro, dou aquele suspiro e fico
saboreando o gostinho daquilo que li, procurando juntar os sentidos para
entender o que aquelas folhas tentaram me dizer. E, ao compreender,
experimentar a sensação de vitória: eu consegui!
Obviamente,
esse tipo de leitura não se tornou o único, contos e romances leves ainda se
fazem bastante presentes. Histórias de
Paris de Mario Benedetti são meus contos favoritos e olho para aquele
livro, fininho e leve na estante todos os dias, esperando ansiosamente para
relê-los e sim, encontrar sentido. Porque afinal, todo texto tem um sentido,
nem que seja apenas divertir.
REFERÊNCIAS
BRITTO,
Luiz P. L.; Leitura: acepções, sentido e valor In Nuances: estudos sobre
Educação; v. 21. n. 22; p. 18-22; 2012
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