segunda-feira, 30 de junho de 2014

Parecer_Aluno 21

            Você está no caminho certo, pois traz algumas experiências específicas com a prática da leitura, relatando sobre alguns dos livros que leu e comentando-os de forma a explicitar o prazer que sentiu ao lê-los. Entretanto, o que é fundamental aqui é que a autora faça reflexões acerca da prática da leitura em si, e não necessariamente das histórias que leu – você pode, é claro, manter as sensações provocadas pelos livros que cita no texto, mas desde que isso permita que seu interlocutor faça uma ideia da sua identidade enquanto leitora. Este é o objetivo do memorial: discorrer sobre o trajeto literário que percorreu, abordando nele suas concepções do que é a prática da leitura – baseando-se, também, nos textos teóricos trabalhados em aula – e permitindo, assim, que seu interlocutor faça uma ideia do seu perfil de leitora.
            Como sugestão para a escrita, você pode usar desses episódios que relatou no texto para, talvez, trabalhar a ideia de ler em uma língua estrangeira (como o português, que foi o caso dessas leituras que fez). Procure, além disso, trazer alguns conceitos dos textos que foram trabalhados em sala de aula, inserindo-os em meio às experiências sobre as quais fala no memorial. Eles são importantes e a auxiliarão na hora de tratar do processo de leitura em si, que deve ser descrito por você no memorial.
            Procure, por fim, reavaliar o uso de interjeições (“Que saco!”, por exemplo) em gêneros textuais como o memorial, que, apesar de ser um gênero não tão restrito, exige um pouco mais de formalidade. Reveja algumas passagens em que há inadequações gramaticais, tais como “Essas protagonistas corajosas e curiosas, livres para seguir os sonhos deles que levaram eles a viajar pelo várias partes do mundo, me inspiravam”; perceba que os pronomes “deles” e “eles”, ambos no gênero masculino, retomam “essas protagonistas”, que está no gênero feminino. Assim, há um problema de concordância de gênero, que precisa ser corrigido na reescrita. Esses são só alguns exemplos de trechos que precisam ser revisados gramaticalmente.


Leitura dos viajantes' ou 'Como eu me apaixonei para a Lisboa

1ª Versão
Por Aluno 21



Eu nunca estava pensando sobre os países da língua portuguesa antes. Mas me lembro que, bem no ensino fundamental um colega meu foi para a Austrália por causa do pai dele precisando trabalhar nesse país no outro lado do mundo. De um dia para o outro eu encontrei aquele sentimento dentro de mim querendo viajar também. Eu não queria entender: porque o meu pai não pode trabalhar na Austrália? Que saco!
            Os anos passavam e eu li romances, entre eles também 'O médico' e 'A papisa Joana', livros mais volumosos porque as viagens deles precisaram mais espaço. Essas protagonistas corajosas e curiosas, livres para seguir os sonhos deles que levaram eles a viajar pelo várias partes do mundo, me inspiravam. Ao outro lado ambas protagonistas, tanto 'O médico' como 'A papisa Joana' foram exemplos de bons humanos, médicos, no primeiro livro já o título fala sobre a profissão dele, no segundo Joana se mostra essa capazidade mais tarde, quando ela está no mosteiro.
            Eu amava essas protagonistas, sempre lutando para o bom, sempre tendo uma vida aventurosa e interessante. A minha vida continuava no dia-a-dia de uma cidade pequena. Nas aulas de alemão eu gostei escrever composições, as vezes com frases tão longas que nenhuma outra pessoa além de mim pode mais entender o sentido delas. Que pena! Porque eles não sabiam entender o que eu queria contar?, eu me perguntei irritada e não querendo corrigir nada. Essas foram as minhas palavras e perfeito assim!, eu pensei para mim, bem arrogante na perspectiva de hoje.
            Mais alguns anos depois uma amiga minha me dou um livro se chamou 'Trem nocturno para Lisboa'. Eu li o livro e encontrei mais um protagonista viajando, seguindo os sentimentos deles, essa vez um professor interessado num livro de uma mulher que ele salvou da tentativa de suicídio. Sem pensar, e isso não estava a maneira dele nos outros casos da vida, ele pulou num trem para Lisboa e seguiu as pistas de um médico trabalhando no tempo da ditatura e fazendo parte da Resistência. O autor do 'Trem noturno para Lisboa' fala sobre esse lugar, Lisboa, e uma imaginação cresceu na minha cabeça: as casas pequenas e velhas ladrilhadas com azuleijos, as ruas apertadas e escuras porque o sol não mais consegue fazer luz nelas, as navegadores descobrindo o mundo inteiro com as naves deles, sobre quais, para falar verdade, eu só sabia mais tarde nas aulas de ciência da cultura português na universidade.
            Mas uma outra coisa aconteceu lendo esse livro tratando de Lisboa. Eu, sem conhecer essa cidade, sabia que eu queria viajar para Portugal um dia, mais precisamente Lisboa. E assim, com uma litura que teria sido qualquer outra eu me apaixonei por uma cidade. Uma cidade com uma história dos navegadores, homens livres, viajantes querendo descobrir novidades. Com uma língua, para qual eu nunca antes chamei atenção. E alguns anos depois, ou seja, hoje apenas chamo atenção.
            Por isso, se quiser dizer, esse livro foi a primeira lembrança do mundo português, seguida de um império de lembranças hoje em dia. E por causa dela importante para o meu caminho seguinte da vida.


Leitura em Português

Reescrita
Por Aluno 21


Chegando em Porto Alegre a minha experiência com a leitura na língua portuguesa se restringiu a conhecimentos básicos. As primeiras 'leituras', ou seja, as primeiras introduções na língua, no dia a dia, foram com as placas na rua e no preenchimento de documentos necessários para me inscrever na universidade. Esse conhecimento, bem no início, pode ser chamado de conhecimento do mundo, um novo mundo. Esse conhecimento me capacitou me orientar nesta cidade com a língua estrangeira.
            Logo, de acordo com as experiências em sala de aula, o meu conhecimento dos assuntos especiais precisou se desenvolver. Quais foram os assuntos dessa aula? Ou, sobre o que a falaríamos nesta cadeira durante todo o semestre? Mostrou-se que para estudar em um país estrangeiro, sair de casa não só significou fazer o que eu planejei para o dia, mas também sobreviver em qualquer situação no campo de batalha de uma língua estrangeira. E isso, prezados senhores, precisou muito esforço que eu não esperava ter uma dimensão tão grande. As pessoas te ajudarão de qualquer maneira, porém, um conhecimento enciclopédico profundo te ajudará mais. Nunca tu estás mais em dívida para o seu próprio país como no estrangeiro lutando com a língua nova. E ainda mais, se mostra um conhecimento para os estrangeiros na sua própria terra natal. Língua não é só um instrumento para apenas trocar informações, não, ela existe também para construir um sentimento de pertencimento e possibilita a capacidade de se expressar.
            Começando com leitura dos textos acadêmicos, se distinguiu em breve que o conhecimento lógico não é influenciado muito pela língua estrangeira. Os pontos importantes parecem bem marcados em qualquer língua. No entanto, o que tem sido um problema até o dia de hoje é o conhecimento textual, quer dizer, o conhecimento das estruturas de frases, o uso do vocabulário correto na situação respectiva, os detalhes da gramática estrangeira.

            O processo ou a prática de leitura em Português (ou qualquer outra língua estrangeira) não se apresenta como uma tarefa fácil se não existe a vontade de realmente conhecer os detalhes da língua, como a sua estrutura própria e as suas peculiaridades especiais. Para mim, confrontado com tanto textos acadêmicos, na aula de 'Literatura e produção textual', como literários, nas aulas de 'Tradução do alemão' e 'Versão do alemão', o conhecimento do Português se está mostrando num processo, por um lado, devagar, por outro, subconsciente. Isso significa que o conhecimento completo do idioma estrangeiro poderia ser bem mais desenvolvido do que se admite no dia-a-dia. 

domingo, 29 de junho de 2014

Comentário por Aluno 6 e Aluno 31


Vocês demonstram ter conhecimento teórico sobre o tema em questão ao fazerem citações de autores. Entretanto, esta presença teórica predomina em demasia no texto deixando-o genérico e não ficando muito claras as experiências que vocês tiveram com a leitura. Tanto no primeiro texto quanto na reescrita, sentiu-se falta do relato dessas experiências para que, assim, o memorial atingisse seu objetivo. Relatar fatos pessoais também contribuiria para que o leitor pudesse ter mais concretude e orientação dentro dos que está sendo tratado, pois os exemplos ilustrariam os conceitos teóricos apresentados no texto.  . No terceiro parágrafo o excesso de referências deixa o carregado de informações e confuso já que as explicações das citações são curtas. Alguns conceitos referidos causam a impressão de estarem desconexos, como ““A leitura e a escrita na pesquisa e no ensino”, temos um esclarecimento maior de como é esse processo...”. Neste trecho extraído da primeira versão apenas é mencionado que teremos um esclarecimento, mas ele não aprece claramente no texto Talvez se fosse dado atenção a um conceito por vez em parágrafos separados ficariam menos confusas as informações e a intenção delas ali estarem inseridas.
Outra questão a ser observada é quanto ao uso da língua. A frase, presente tanto na 1ª versão quanto na reescrita, “Ao decorrer dos anos...” poderia ser escrita de outra maneira: No decorrer dos anos... ou “Ao decorrem os anos...”.
 A utilização da pontuação no primeiro parágrafo da reescrita gera bastante confusão ao leitor como em “...o leitor precisa decodificar as palavras e associá-las com seus significados, a principio parece...” sendo que após a palavra significados um ponto final seria melhor empregado. No segundo texto vocês apresentam de forma mais clara o entendimento que tiveram da teoria que, na primeira versão estava contraditória, por exemplo, ao tratar de que ler é decodificar e também mencionar que é atribuir sentido. Vocês conseguiram demonstrar que entenderam a teoria, o que fica claro no trecho: “remete a ideia de que ler, é, extração de sentidos em relação ao processo de decodificação dos elementos que estão contidos no texto, ou seja, não se atribui sentidos, apenas busca compreender o que já esta pré-determinado como sentido certo do texto. A reescrita possibilitou enxergar os laços que amarram as suas experiências aos fatos teórico que abordam, no caso, a dificuldade de compreensão de sentido contido nos textos lidos.

No último parágrafo da reescrita aparece à seguinte frase: "Por esse motivo, tratamos neste texto de uma experiência vivenciada por muitas pessoas, no se refere à compreensão de leitura."que nos fez ficar confusas quanto ao propósito do texto, pois o este seria a criação de um memorial o qual deveria apresentar  as experiência de leitura das autoras. O exceto do segundo parágrafo desse mesmo texto que diz: "tivemos como experiência o processo de decodificação que nos permitiu...", incita-nos a pergunta se vocês estão falando de vocês autoras, ou de muitas pessoas?


Clique aqui para ver a reescrita dos textos comentados.

Parecer_Aluno 12

                Seu texto ficou muito bom. Simples e com conteúdo, objetivo – inclusive na linguagem – e rico em imagens para o leitor. A construção de seu memorial é visível com o acompanhamento e reflexão que você faz sobre suas memórias, relacionando-as e conectando-as com os referenciais teóricos previamente solicitados. Sua unidade temática é bem apresentada e mantida em primeiro plano ao longo de todo o texto, mantendo assim o leitor em sintonia com seu escrito. O passar do tempo através das memórias decorre de modo suave, e a leitura flui mesmo com a grande quantidade das mais distintas informações que você apresenta em sua produção textual. 

               As observações a corrigir são puramente estruturais: revise seu texto. Leia, releia, confira seu texto. Ficou um tanto quanto perceptível que você não checou o que você escreveu após terminar, pois errinhos de espaço e pontuação – que, acredito eu, uma moça que lê tanto não cometeria se não por acidente – em um texto tão bem escrito são um tanto quanto decepcionantes. Busque também as normas da ABNT para conferir citações e bibliografia. Esses detalhes foram o que impediram seu texto de ganhar um “excelente”.

Memórias e fantasmas

Reescrita
Por Aluno 12



                   As memórias voam como notas feitas a lápis nos cantos das páginas de um livro sendo apressadamente folheado; e em tais notas pode ser lida a minha história, rabiscada por entre frases impressas e margens em branco dos livros que, dentre os muitos que li, marcaram, de alguma forma, minha vida ou influenciaram a maneira como vejo o mundo. É curioso notar que, em sua maioria, as obras que me despertaram interesse ao longo de minha vida como leitora estão de algum jeito relacionadas em seus conteúdos.
                   Tomo por exemplo os livros infantis que lia quando ainda estava aprendendo a juntar as letras para formar palavras e tirar delas um sentido, e apenas começava a decodificar textos – uma das definições possíveis de leitura (ROTTAVA, 2000). A temática que até hoje me interessa, de mistério e terror, já estava presente em alguns dos livros que tentava ler sozinha. Alguns eram contos assustadores escritos para crianças sobre fantasmas tristes, fadas que sequestravam jovens e górgonas da mitologia grega, e outros, suspenses que traziam joguinhos de lógica para que se pudesse descobrir o desfecho do livro, muitos dos quais eu podia ler, mas não compreendia o sentido por trás do enredo e seus enigmas. Nesses momentos pedia o auxílio de meus pais, que me estimulavam a refletir sobre o significado do que havia lido e então preenchiam as lacunas que eu, em tenra idade, ainda não compreendia – conceitos, às vezes apresentados de forma suave nas histórias infantis sobre perda e morte, sofrimento, e o uso de lógica para superar adversidades.
                   Quando pequena, tive muita influência dos meus pais para desenvolver um gosto pela leitura, o que pode ter sido um dos fatores que me tornou tão ávida por buscar sentido profundo em tudo que leio e chegar as raízes dos textos: por que isso foi escrito desta maneira? Que intenções, que aprendizados isso esconde nas entrelinhas? Porém, percebo que os textos que acabaram por se tornar importantes para mim chegaram apenas mais tarde, quando eu já tinha doze ou treze anos. Já mais velha, compartilhar livros com meus amigos passou a ser uma outra forte motivação para ler.
                   Esses livros mais significativos sempre me foram indicados por amigos, ou eram sugestões minhas para eles, e no geral eram obras de ficção infanto-juvenil com temas sobrenaturais. Os vampiros, os lobisomens e os fantasmas acompanhavam a mim e aos meus colegas durante os recreios do sétimo e oitavo anos do Ensino Fundamental; uma conversa levava à outra, um amigo levava a um livro, e um livro levava a outro. Inúmeras foram as vezes que também um livro levou a um amigo – fator que contribuía para que juntos seguíssemos em frente na leitura das sagas Harry Potter, A Mediadora e Crepúsculo, romances que considerávamos grandes, na época e que foram muito significativos para mim. Nem todas essas obras possuem enredos que ainda hoje me sejam atrativos, mas neles reside o fator social, tal como visto em Rottava (2000), que deu à essas leituras um sentido, uma razão sentimental para serem lidas.
                   A temática do sobrenatural na literatura continuou atraente para mim e fui buscá-la em outras fontes, dessa vez aproximando-me dos clássicos. Edgar Allan Poe virou uma companhia de noites chuvosas e trovejantes; O Retrato de Dorian Gray virou uma paixão tão grande que estive a centímetros – metafóricamente – de literalmente emoldurá-lo e pendurá-lo na parede. Adaptações de Frankenstein e Drácula deitavam na cabeceira ao meu lado à noite enquanto eu sonhava com as versões originais, e ao descobrir Noite na Taverna, passei a dar mais atençãos aos contos, como os de Maupassant e W. W. Jacobs (é claro, além de conferir os textos que Álvares de Azevedo cita em suas – muitas – epígrafes).
                   É possível perceber que as obras de ficção que optei por ler demonstram um crescente grau de complexidade, ainda que no geral possam ter temas parecidos. Esse crescimento reflete o desenvolvimento dos conhecimentos linguístico, textual e de mundo (KLEIMAN, 1995) que possuo, me permitindo maior aprofundamento nos sentidos, tanto objetivos (como de que forma um livro pode refletir a sociedade ou época em que foi escrito), quanto nos subjetivos (metáforas, sentimentos expressos etc.) das obras que leio. Quanto mais enevoada me parece uma história, mais me infiltro nela, como uma traça abrindo seu caminho por entre as páginas, e procuro outras leituras que as complementem. Sempre o fiz, mas hoje, no ensino superior cursando Letras, o faço de forma acadêmica e como futura profissão.




Referências
ROTTAVA, Lucia. A importância da leitura na construção do conhecimento. Espaços da Escola, Ijuí, v. 35, p.11-16, Janeiro/Março 2000.

KLEIMANN, Angela. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. 4. ed. Campinas: Sp:pontes, 1995. 74 p.

Memórias e fantasmas

  1ª Versão
Por Aluno 12


                  As memórias voam como notas feitas a lápis nos cantos das páginas de um livro sendo apressadamente folheado; e em tais notas pode ser lida a minha história, rabiscada por entre frases impressas e margens em branco dos livros que, dentre os muitos que li, marcaram de alguma forma minha vida ou influenciaram a forma como vejo o mundo. É curioso notar que, em sua maioria, as obras que me despertaram interresse ao longo de minha vida como leitora estão de certa forma relacionadas em seus conteúdos.
                  Tomo por exemplo os livros infantis que lia quando as margens de meus livros ainda tinham poucas memórias, logo que aprendi a decodificar textos – uma das definições possíveis de leitura (ROTTAVA 2000). A temática que até hoje me interessa, de mistério e terror, já estava presente em alguns dos livros que tentava ler sozinha – uns eram contos assustadores escritos para crianças sobre fantasmas tristes, fadas que sequestravam jovens e górgonas da mitologia grega; outros, suspenses que traziam joguinhos de lógica para que se pudesse descobrir o desfecho do livro, muitos dos quais eu podia ler, mas não compreendia o sentido por trás do enredo e seus enigmas. Nesses momentos pedia o auxílio de meus pais, que me estimulavam a refletir sobre o significado do que havia lido e então preenchiam as lacunas que eu, em tenra idade, ainda não compreendia – conceitos, às vezes apresentados de forma suave nas histórias infantis sobre perda e morte, sofrimento, e o uso de lógica para superar adversidades.
                        Quando pequena, tive muita influência dos meus pais para desenvolver um gosto pela leitura, o que pode ter sido um dos fatores que me tornou tão ávida por buscar sentido  profundo em tudo que leio e chegar as raízes dos textos: por que isso foi escrito desta maneira? Que intenções, aprendizados, isso esconde nas entrelinhas? Porém também tive outras motivações para a leitura; percebo que os textos que acabaram por se tornar importantes para mim chegaram apenas mais tarde, quando eu já tinha doze ou treze anos.
                  Esses livros mais significativos sempre me foram indicados por amigos, ou eram sugestões minhas para eles, e no geral, eram obras de ficção infanto-juvenil de temas sobrenaturais. Os vampiros, os lobisomens e os fantasmas acompanhavam a mim e aos meus colegas durante os recreios do sétimo e oitavo anos do Ensino Fundamental; uma conversa levava à outra, um amigo levava a um livro, e um livro levava a outro. Inúmeras foram as vezes que também um livro levou a um amigo – fator que contribuía para que juntos seguíssemos em frente na leitura das sagas Harry Potter, A Mediadora e Crepúsculo, romances que considerávamos grandes, na época. Nem todas essas obras possuem enredos que ainda hoje me sejam atrativos, mas neles reside o fator social, tal como visto em Rottava 2000, que deu à essas leituras um sentido; uma razão, nesse caso sentimental, para serem lidas.
                    A temática do sobrenatural na literatura continuou atraente para mim, e fui buscá-la em outras fontes, dessa vez aproximando-me dos clássicos. Edgar Allan Poe virou uma companhia de noites chuvosas e trovejantes; O Retrato de Dorian Gray virou uma paixão tão grande que estive a centímetros – metafóricamente – de literalmente emoldurá-lo e pendurá-lo na parede. Adaptações de Frankenstein e Drácula deitavam na cabeceira ao meu lado à noite enquanto eu sonhava com as versões originais, e ao descobrir Noite na Taverna, passei a dar mais atençãos aos contos, como os de Maupassant e W.W. Jacobs (é claro, além de conferir os textos que Álvares de Azevedo cita em suas – muitas – epígrafes).
                    É possível perceber que as obras de ficção que opto por ler demonstram um crescente grau de complexidade, ainda que no geral possam ter temas parecidos. Esse crescimento reflete o desenvolvimento dos conhecimentos linguístico, textual e de mundo (KLEIMAN, 1995) que possuo me permitindo maior aprofundamento nos sentidos, tanto objetivos (como de que forma um livro pode refletir a sociedade ou época em que foi escrito), quanto nos subjetivos (metáforas, sentimentos expressos) das obras que leio. Quanto mais enevoada me parece uma história, mais me infiltro nela, como uma traça abrindo seu caminho por entre as páginas, e procuro outras leituras que as complementem. Sempre o fiz, mas hoje, no ensino superior cursando Letras, o faço de forma acadêmica e como futura profissão.
  



Referências
ROTTAVA, Lucia; A importância da leitura na construção do conhecimento In Espaços da Escola;  ano9 n.35, p. 11-16, 2000


Kleiman, Angela;  TEXTO E LEITOR: aspectos cognitivos da leitura. 4ª edição. Campinas, SP:Pontes, 1995

Leitura: Do colorido prazer à necessidade

Reescrita
Por  Aluno 43


            Quando criança, eu não vi a tarefa escolar de aprender as letrinhas e os seus sons como enfadonha ou entediante, ou algo que poderia parecer repetitivo por parte das professoras. Pelo contrário: quis poder entender o mais rápido possível aquele código aparentemente indecifrável que meus pais compreendiam; ansiei por aprender a ler. Assim, encarei as letras e as palavras como amigas a serem conquistadas, de modo que não fossem apenas desenhos. Lembro de responder empolgadamente à professora da pré-escola o som que cada letrinha fazia; eu estava impaciente para finalmente decifrar aqueles símbolos que pareciam mágicos!
            Segundo Britto (2012), as ações básicas de ler são a decifração do escrito e a compreensão do conteúdo do texto. Aos cinco anos, eu estava começando a tornar-me apta para realizar essas ações: finalmente eu entendera a lógica das letras e conseguia decodificá-las (isto é, entender os sons produzidos por aqueles signos, e consequentemente, seu significado). Quando as tais letras do alfabeto ganharam sentido para mim, o mundo ficou mais doce e colorido: passei a escrever num diário cor-de-rosa e podia ler os livros que a professora lia para turma. Meu preferido era um de poesia: A Casa Sonolenta, de Audrey Wood, que contava a história de uma casa onde todos dormiam até serem atrapalhados por uma pulguinha. O ambiente mágico da leitura havia tomado forma para mim, isto é, ele agora era alcançável, e eu podia explorar aquele universo das palavras. “Aí vou eu!”.
            A partir daí, foi fácil para que eu criasse gosto por ler. Rottava (2000) afirma que a leitura como prática social “é uma leitura que envolve o propósito de que ler é utilizar-se da linguagem para determinado objetivo, bem como para alguém e em certas circunstâncias” (pg 14). Meu objetivo inicial de leitora era o prazer e a descoberta, como antes falei, e isso trouxe facilidade ao começo da minha caminhada na leitura, pois não me importava em ter que ler. O incentivo dado neste quesito pelas professoras era entrelaçado a uma obrigação por elas imposta, mas eu não percebia isto. “Vocês têm que retirar um livro na biblioteca, toda semana!” podia parecer, às vezes, uma ordem desnecessária a mente de uma criança, mas geralmente era por mim encarada com deleite: imagine ter centenas de livros a sua disposição, prontos para serem explorados, com suas histórias esperando para serem vividas; que mal havia em ser “obrigada” a escolher um? Afinal, a biblioteca do colégio era um lugar multicolor, preenchida por almofadas vermelhas e azuis aconchegantes, prateleiras cheias de maravilhosos livros esperando para serem desfrutados e criancinhas que percorriam o ambiente de aprendizagem com muita animação. Era o paraíso na Terra.
            Minhas pequenas mãozinhas de menina e meus olhos curiosos selecionavam os livros e, assim, fui encarando diversas leituras infantis, passando a conhecer alguns gêneros textuais, suas estruturas e formas de discurso a mim apresentados. Isso foi acrescentando saber ao meu conhecimento textual, que faz parte do conhecimento prévio sobre o qual Kleiman (1995) fala. Se antes eu estava habituada a historinhas cheias de animais fofos, como Ninoca, uma ratinha que vivia numa casa de dobraduras, ou Os Pingos, ratos coloridos que residiam numa floresta, agora eu havia entrado num novo terreno. A coleção Salve-se Quem Puder não tinha as cores fosforescentes das leituras pré-escolares, e sim apresentava tons mais sombreados: era composta por livros de mistério com diversos enigmas a serem resolvidos, o que fazia com que o leitor estivesse extremamente atento a cada página e imagem. Mas era um perigo rápido e ilusionista que eu podia “fechar” (num fechar do livro) a qualquer momento, e então correr para reabraçar a poesia, que continuou a me encantar: A Caixa Mágica de Surpresa, coletânea de poemas de Elias José, por exemplo, brincava com divertidos elementos como piratas, animais, objetos, uma vovó e até um arco-íris. Ah, o belo mundo multicolor ainda estava ali!  
            Conforme avancei no Ensino Fundamental, me afastei do campo infantil e fui iniciada, através da escola e de amigos, na literatura infanto-juvenil. Tons-pastéis de problemas reais começaram a invadir meu mundo leitor, pois agora os livros refletiam meus conflitos de pré-adolescente, e eu me espelhava nas protagonistas das aventuras para resolvê-los. Eram textos divertidos: Judy Moody, de Megan McDonald, por exemplo, contava a história de uma menina da terceira série um pouco rebelde e deslocada. Também li O Diário da Princesa, de Meg Cabot, que dizia respeito a uma garota norte-americana comum que, de um dia para o outro, descobria ser uma princesa. Ainda me apaixonei por A Princesinha, de Frances Burnett, livro sobre uma menina abastada que acaba perdendo o pai e toda sua riqueza. Muitos outros títulos também regaram essa minha fase. Estas leituras estavam, sem que eu percebesse, ensinando-me a respeito dos recursos textuais, como a ironia de Judy Moody, a presença de um duplo texto em O Diário da Princesa (onde, no meio do livro, havia rabiscos matemáticos da protagonista Mia) e outras características narrativas.
            A partir da sexta série, também, minha professora de português optou por fazer trabalhos com as turmas abordando diferentes gêneros textuais: poesias, publicidades, poemas visuais, receitas, crônicas, notícias, cartas, diários e entre outros. Percebo hoje o quanto isso contribui para que eu tivesse maior facilidade na leitura nos diferentes contextos do dia-a-dia. Como afirmou Kleiman (1995): “Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto mais sua exposição a todo o tipo de texto, mais fácil será sua compreensão, [...] pois o conhecimento das estruturas textuais e de todo tipo de discurso determinará, em grande medida, suas expectativas em relação aos textos” (pg 20). Minha mente, hoje, pode lidar com certa facilidade com diversos tipos de estrutura.
            Por fim, chegando quase ao Ensino Médio, debrucei-me na leitura de Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia, Dom Casmurro e outras obras. Foi a partir do primeiro ano que passei a buscar obras de maior conteúdo histórico. Minha curiosidade, então, voltou-se para as questões culturais do mundo, e não somente para a busca pela identificação com um personagem ou o entendimento das palavras; percebi que gente de toda parte do planeta tinha seus próprios conflitos. Li livros sobre cultura muçulmana (Prisioneira em Teerã; O Caçador de Pipas; O Livreiro de Cabul), nazismo (Olga; O Refúgio Secreto) e ainda sobre cultura oriental. Estava cada vez mais engajada naquilo que Kleiman fala sobre “fazer da leitura uma atividade caracterizada pelo engajamento e uso do conhecimento, em vez de uma mera recepção passiva” (pg 26). Meu senso tornou-se cada vez mais crítico, e cada nova bagagem de conhecimento que eu adquiria servia para dialogar com as anteriores.
            Meus objetivos de leitura foram, em sua maioria, modificando-se durante o Ensino Médio: a leitura passou a ser dirigida à aprovação em testes escolares. Minha interação com o texto tornou-se mais perceptível. Segundo Rottava (1998), é justamente essa interação que dá sentido a ele. Precisei lidar cada vez mais com textos informativos, devido aos estudos relacionados ao vestibular e pesquisas do colégio; tinha que selecionar partes do texto e literalmente discuti-las em minha cabeça. Quanto às leituras obrigatórias de Literatura e Português, necessitei estar cada vez mais ciente da trama, dos aspectos lingüísticos e abordagem histórica dos livros, pois todos estes pontos caíam em provas. O terceiro ano do Ensino Médio parecia tão chato literariamente falando que muito do que dizia respeito à leitura tornara-se preto e branco, sem prazer e atrativos, ou cinza e sem graça como uma placa de chumbo.  
            Atualmente, no entanto, enquanto estou cursando a graduação de Letras, a leitura tem se reapresentado a mim como quem pede desculpas. Sim, é verdade que ela não é mais tão colorida ou idealizada como antes, e que se tornou uma necessidade – ler (não somente decifrar os signos, mas também compreender o conteúdo textual) é essencial na grande parte do âmbito profissional, e, para quem cursa uma graduação, é instrumento indispensável para o aprendizado, com tanto material escrito a ser pesquisado e estudado –, mas acredito que ela ainda seja uma maneira de saciar a curiosidade e de exploração do cosmos. Posso até ser obrigada a ler Odisséia para realizar uma prova, por exemplo, mas o faço com bastante prazer, pois ela me apresenta o universo grego de mitologia e é um dos componentes mais importantes da literatura.  Neste meu novo mundo quase adulto de leitura, obrigação e prazer se misturam e mesclam, unindo o arco-íris de cores ao preto e branco.
Sei que a minha mente, em algum lugar remoto dentro de si, ainda acredita nas palavras do poema tão amado em minha infância, Caixa Mágica de Surpresa, de Elias José: “Um livro / é uma beleza, / É caixa mágica / só de surpresa. / Um livro / parece mudo, / mas nele a gente / descobre tudo. / Um livro / tem asas / longas e leves / que, de repente, / levam a gente / longe, longe.”














REFERÊNCIAS

 ROTTAVA, Lucia. A Leitura e a Escrita na Pesquisa e no Ensino. In: Espaços da Escola, Editora Unijuí, Ijuí, ano 4, n. 27, p.61-68, janeiro/março, 1998.
 ROTTAVA, Lucia. Importância da Leitura na Construção do Conhecimento. Espaços da Escola, Editora Unijuí, Ijuí, n. 35, ano 9, p.11-16, janeiro/março, 2000.
KLEIMAN, Angela. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. 4. ed. Campinas - Sp: Pontes Editores, 1995.

BRITTO, Luiz Percival Leme. Leitura: Acepções, Sentidos e Valor. Nuances: estudos sobre Educação. Ano XVIII, v. 21, n. 22, p. 18-32, jan./abr. 2012.

Leitura: Do colorido prazer à necessidade

1ª Versão
Por Aluno 43


            Quando criança, eu não vi a tarefa escolar de aprender as letrinhas e os seus sons como enfadonha ou entediante, ou algo que poderia parecer repetitivo por parte das professoras. Pelo contrário: quis poder entender o mais rápido possível aquele código aparentemente indecifrável que meus pais compreendiam; ansiei por aprender a ler. Deste modo, encarei as letras e as palavras como amigas a serem conquistadas, de modo que não fossem apenas desenhos. Lembro de responder empolgadamente à professora da pré-escola o som que cada letrinha fazia; eu estava impaciente para finalmente decifrar aqueles símbolos que pareciam mágicos!
            Segundo Britto (2012), as ações básicas de ler são a decifração do escrito e a compreensão do conteúdo do texto. Aos cinco anos, eu estava começando a tornar-me apta para realizar essas ações: finalmente eu entendera a lógica das letras e conseguia decodificá-las (isto é, entender os sons produzidos por aqueles signos, e consequentemente, seu significado). Quando as tais letras do alfabeto ganharam sentido para mim, o mundo ficou mais doce: passei a escrever num diário cor-de-rosa e podia ler os livros que a professora lia para turma. Meu preferido era um de poesia: A Casa Sonolenta, de Audrey Wood, que contava a história de uma casa onde todos dormiam até serem atrapalhados por uma pulguinha.
            A partir daí, foi fácil para que eu criasse gosto por ler. Rottava (2000) afirma que a leitura como prática social “é uma leitura que envolve o propósito de que ler é utilizar-se da linguagem para determinado objetivo, bem como para alguém e em certas circunstâncias”. Meu objetivo inicial de leitora era o prazer e a descoberta, como antes falei, e isso trouxe facilidade ao começo da minha caminhada na leitura, pois não me importava em ter que ler. O incentivo dado neste quesito pelas professoras era entrelaçado a uma obrigação por elas imposta, mas eu não percebia isto. “Vocês têm que retirar um livro na biblioteca, toda semana!” podia parecer, às vezes, uma ordem desnecessária a mente de uma criança, mas geralmente era por mim encarada com deleite. A biblioteca do colégio era um lugar colorido, com almofadas aconchegantes e prateleiras cheias: um mundo cheio de maravilhosos livros esperando para serem desfrutados.
            Minhas pequenas mãozinhas de criança e meus olhos curiosos selecionavam os livros e, assim, fui encarando diversas leituras infantis, passando a conhecer alguns tipos textuais, suas estruturas e formas de discurso a mim apresentados. Isso foi acrescentando saber ao meu conhecimento textual, que faz parte do conhecimento prévio sobre o qual Kleiman (1995) fala. Se antes eu estava habituada a historinhas cheias de cores e animais fofos, como Ninoca, uma ratinha que vivia numa casa de dobraduras, ou Os Pingos, ratos pintados que residiam numa floresta, agora eu havia entrado num novo terreno. A coleção Salve-se Quem Puder era composta de livros de mistério com diversos enigmas a serem resolvidos; o leitor precisava estar extremamente atento a cada página e imagem. Também a poesia continuou a me encantar: A Caixa Mágica de Surpresa, de Elias José, brincava com divertidos elementos como piratas, animais, objetos, uma vovó e até um arco-íris, tudo dentro de poemas.
            Conforme avancei no Ensino Fundamental, me afastei do campo infantil e fui iniciada, através da escola e de amigos, na literatura infanto-juvenil. Agora os livros refletiam meus conflitos de pré-adolescente, e eu me espelhava nas protagonistas das aventuras. Eram textos divertidos: Judy Moody, de Megan McDonald, por exemplo, contava a história de uma menina da terceira série um pouco rebelde e deslocada. Também li O Diário da Princesa, de Meg Cabot, que dizia respeito a uma garota norte-americana comum que, de um dia para o outro, descobria ser uma princesa. Ainda me apaixonei por A Princesinha, de Frances Burnett, livro sobre uma menina abastada que acaba perdendo o pai e toda sua riqueza. Muitos outros títulos também regaram essa minha fase. Estas leituras estavam, sem que eu percebesse, ensinando-me a respeito dos recursos textuais, como a ironia de Judy Moody, a presença de um duplo texto em O Diário da Princesa (onde, no meio do livro, havia rabiscos matemáticos da protagonista Mia) e outras características narrativas.
            A partir da sexta série, também, minha professora de português optou por fazer trabalhos com as turmas abordando diferentes gêneros textuais: poesias, publicidades, poemas visuais, receitas, crônicas, notícias, cartas, diários e entre outros. Percebo hoje o quanto isso contribui para que eu tivesse maior facilidade na leitura nos diferentes contextos do dia-a-dia. Como afirmou Kleiman (1995): “Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto mais sua exposição a todo o tipo de texto, mais fácil será sua compreensão, [...] pois o conhecimento das estruturas textuais e de todo tipo de discurso determinará, em grande medida, suas expectativas em relação aos textos”. Minha mente, hoje, pode lidar com certa facilidade com diversos tipos de estrutura.
            Por fim, chegando quase ao Ensino Médio, debrucei-me na leitura de Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia, Dom Casmurro e outras obras. Foi a partir do primeiro ano que passei a buscar obras de maior conteúdo histórico. Minha curiosidade, então, voltou-se para as questões culturais do mundo, e não somente para a busca pela identificação com um personagem ou o entendimento das palavras. Li livros sobre cultura muçulmana (Prisioneira em Teerã; O Caçador de Pipas; O Livreiro de Cabul), nazismo (Olga; O Refúgio Secreto) e ainda sobre cultura oriental. Estava cada vez mais engajada naquilo que Kleiman fala sobre “fazer da leitura uma atividade caracterizada pelo engajamento e uso do conhecimento, em vez de uma mera recepção passiva.” Meu senso tornou-se cada vez mais crítico, e cada nova bagagem de conhecimento que eu adquiria servia para dialogar com as anteriores.
            Meus objetivos de leitura foram, em sua maioria, modificando-se durante o Ensino Médio: a leitura passou a ser dirigida à aprovação em testes escolares. Minha interação com o texto tornou-se mais perceptível. Segundo Rottava (1998), é justamente essa interação que dá sentido ao texto. Precisei lidar cada vez mais com textos informativos, devido aos estudos relacionados ao vestibular e pesquisas do colégio; tinha que selecionar partes do texto e literalmente discuti-las em minha cabeça. Quanto às leituras obrigatórias de Literatura e Português, necessitei estar cada vez mais ciente da trama, dos aspectos lingüísticos e abordagem histórica dos livros, pois todos estes pontos caíam em provas.
            A leitura, nos dias de hoje, não se apresenta mais tão colorida ou idealizada para mim. Ela é uma necessidade. Ler (não somente decifrar os signos, mas também compreender o conteúdo textual) é essencial na grande parte do mundo profissional, mas, para quem cursa uma graduação, como eu, torna-se um instrumento indispensável para o aprendizado, com tanto material escrito a ser pesquisado e estudado. Talvez, mesmo que de uma forma diferente, ler ainda seja um meio de saciar a curiosidade, mas o mundo adulto a fez perder suas cores.
Sei que a minha mente, em algum lugar remoto dentro de si, ainda acredita nas palavras do poema tão amado em minha infância, Caixa Mágica de Surpresa, de Elias José: “Um livro / é uma beleza, / É caixa mágica / só de surpresa. / Um livro / parece mudo, / mas nele a gente / descobre tudo.”



REFERÊNCIAS

 ROTTAVA, Lucia. A Leitura e a Escrita na Pesquisa e no Ensino. In: Espaços da Escola, Editora Unijuí, Ijuí, ano 4, n. 27, p.61-68, janeiro/março, 1998.
 ROTTAVA, Lucia. Importância da Leitura na Construção do Conhecimento. Espaços da Escola, Editora Unijuí, Ijuí, n. 35, ano 9, p.11-16, janeiro/março, 2000.
KLEIMAN, Angela. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. 4. ed. Campinas - Sp: Pontes Editores, 1995.

BRITTO, Luiz Percival Leme. LEITURA: ACEPÇÕES, SENTIDOS E VALOR. Nuances: estudos sobre Educação. Ano XVIII, v. 21, n. 22, p. 18-32, jan./abr. 2012.

Parecer_Aluno 43

Para a quarta proposta de escrita é preciso que se faça um exercício mnemônico a fim de constituir uma narrativa descritiva e reflexiva sobre sua trajetória como leitora. É preciso que o autor seja narrador, leitor e revisor ao mesmo tempo. Ao escrever sobre experiência e formação como leitor, o autor resgata suas memórias, já que a palavra é responsável pela “presentificação” do passado, remetendo a imagens, coisas, sensações. A pergunta que deve ser respondida, no final do texto, é a seguinte: como o autor do texto se constitui como leitor? Com relação ao seu memorial, algo importante deve ser dito: ele atende praticamente a tudo que foi mencionado acima.
Começando pelo título “Leitura: Do colorido prazer à necessidade”, é interessante ver como ele se conecta com o texto: você apresenta, em um primeiro momento, o olhar da criança, aquele que vê nos livros cores e que, por meio deles, encontra um mundo de descobertas e de prazer. Minha sugestão para a reescrita seria para dar mais “cor” a esses momentos. Perceba que seu diário era “rosa”, a biblioteca era “colorida”, então seria interessante se você conseguisse mostrar esses momentos de “colorido prazer” com mais detalhes. Posteriormente, seguido de um avanço temporal, você consegue substituir o olhar de criança por um olhar de alguém mais maduro (mudança de perspectiva), mostrando a literatura como uma atividade necessária e sem todas aquelas cores, traçando uma ponte do passado com o presente assim como a proposta exige. 

No terceiro parágrafo, quando você se refere à ida dos alunos para a biblioteca uma vez por semana a fim de pegar um livro, falta concretude “... podia parecer, às vezes, uma ordem desnecessária a mente de uma criança, mas geralmente era por mim encarada com deleite”. Seria interessante explicar por que aquilo era um deleite, pois mostraria seu ponto de vista sobre o assunto. Quanto aos aspectos formais da língua, seu texto está muito bem redigido, mostrando um bom domínio da regra.

sábado, 28 de junho de 2014

O saber

1ª Versão 
Por Aluno 22



Só me lembro que era sexta-feira, eu estava em casa com minha mãe que havia me  acomodado em frente a mesa de jantar, colocando em minhas mãos um texto, que só pelo modo de segura-lo, tornara notável a falta de intimidade entre nós. Minha mãe com um ar sério e agressivo, estava bem ao meu lado em pé dedicada a fazer  com que eu aprendesse a ler, pois eu estava com dificuldades na escola, e isso era inaceitável para ela.
Ela inicialmente falava a palavra que eu deveria ser repetida por mim, pausadamente dando ênfase a todas as sílabas. Logo depois, ela dizia também pausadamente as letras que continham em cada sílaba e ao final dizia o som que a junção dessas letras produziam na silaba e por fim ela repetia a palavra normalmente e apontava no texto a mesma palavra e pedia para eu ler. Era incrível sua dedicação, mais incrível ainda era o tédio que aquilo me causava, que por diversas vezes me exige um enorme esforço para não dormir, o que não podia de jeito algum acontecer, pois havia a necessidade que eu decorasse a minha fala para que o aprendizado se concretizasse.
Com isso o método de minha mãe tinha se demonstrado um tanto ineficaz, ou seja, assim que ela acabava, eu já havia decorado o que ela queria que eu dissese e apenas o fazia, as vezes até gaguejava, no intuito de dar uma veracidade maior ao aprendizado, e este até ali era inexistente por sinal. Portanto ao final de todo aquele processo eu não havia aprendido nada, mas minha mãe se mostrava feliz, pois seu filho havia decifrado um texto e foi o que eu aprendi durante muito tempo em casa e na escola a decifrar letras, frases, textos e livros.
Isso se tornaria recorrente durante quase todo meu contato com a leitura, por que cada vez que acabava uma leitura poucos professores me perguntavam o que eu havia absorvido daquilo, sendo essa absorção o supra-sumo de qualquer aprendizado. No entanto hoje como estudante de letras depois de ter lido os textos, da professora Lucia Rottava, pude exercer certo domínio sobre este assunto e posso afirmar que o importante é o que se absorve na leitura o sentido que está empreguinado em cada palavra e o contexto em que estão inseridas é isso que vai atiçar a vontade do aluno de querer ter aptidão com a leitura e não uma obrigação acadêmica e social baseada no aprender por aprender.
Toda criança precisa ouvir histórias, ser instigada e colocada em contato com o mundo das letras, para que se familiarizem com elas, e assim busquem a leitura no intuito de eliminar o interlocutor, isso deveria ser um processo natural, como andar. Infelizmente, não é o que acontece, pois mesmo naquela época quando era criança eu queria informação, desejava saber novas histórias, conhecer outras realidades. E por ignorância ou falta de percepção não atinava que a ferramenta essencial para atingir meu objetivo era a leitura, essa por sua vez era constantemente colocada diante de mim de maneira estranha, equivocada e como obrigação  através de minha mãe e professores.

Portanto como cobaia e graças a deus sobrevivente de um sistema de ensino sucateado que ainda perdura até os dias de hoje, peço a todos os leitores que mudem essa realidade se não como futuros professores, talvez como pais, irmãos (as) ou amigos. Pois uma grande parte de pessoas ainda enxergar o ato de ler de maneira errada, e cabe a nós como futuros professores de letras mudar esse contexto social.Só me lembro que era sexta-feira, eu estava em casa com minha mãe que havia me  acomodado em frente a mesa de jantar, colocando em minhas mãos um texto, que só pelo modo de segura-lo, tornara notável a falta de intimidade entre nós. Minha mãe com um ar sério e agressivo, estava bem ao meu lado em pé dedicada a fazer  com que eu aprendesse a ler, pois eu estava com dificuldades na escola, e isso era inaceitável para ela.
Ela inicialmente falava a palavra que eu deveria ser repetida por mim, pausadamente dando ênfase a todas as sílabas. Logo depois, ela dizia também pausadamente as letras que continham em cada sílaba e ao final dizia o som que a junção dessas letras produziam na silaba e por fim ela repetia a palavra normalmente e apontava no texto a mesma palavra e pedia para eu ler. Era incrível sua dedicação, mais incrível ainda era o tédio que aquilo me causava, que por diversas vezes me exige um enorme esforço para não dormir, o que não podia de jeito algum acontecer, pois havia a necessidade que eu decorasse a minha fala para que o aprendizado se concretizasse.
Com isso o método de minha mãe tinha se demonstrado um tanto ineficaz, ou seja, assim que ela acabava, eu já havia decorado o que ela queria que eu dissesse e apenas o fazia, as vezes até gaguejava, no intuito de dar uma veracidade maior ao aprendizado, e este até ali era inexistente por sinal. Portanto ao final de todo aquele processo eu não havia aprendido nada, mas minha mãe se mostrava feliz, pois seu filho havia decifrado um texto e foi o que eu aprendi durante muito tempo em casa e na escola a decifrar letras, frases, textos e livros.
Isso se tornaria recorrente durante quase todo meu contato com a leitura, por que cada vez que acabava uma leitura poucos professores me perguntavam o que eu havia absorvido daquilo, sendo essa absorção o supra-sumo de qualquer aprendizado. No entanto hoje como estudante de letras depois de ter lido os textos, da professora Lucia Rottava, pude exercer certo domínio sobre este assunto e posso afirmar que o importante é o que se absorve na leitura o sentido que está empreguinado em cada palavra e o contexto em que estão inseridas é isso que vai atiçar a vontade do aluno de querer ter aptidão com a leitura e não uma obrigação acadêmica e social baseada no aprender por aprender.
Toda criança precisa ouvir histórias, ser instigada e colocada em contato com o mundo das letras, para que se familiarizem com elas, e assim busquem a leitura no intuito de eliminar o interlocutor, isso deveria ser um processo natural, como andar. Infelizmente, não é o que acontece, pois mesmo naquela época quando era criança eu queria informação, desejava saber novas histórias, conhecer outras realidades. E por ignorância ou falta de percepção não atinava que a ferramenta essencial para atingir meu objetivo era a leitura, essa por sua vez era constantemente colocada diante de mim de maneira estranha, equivocada e como obrigação  através de minha mãe e professores.
Portanto como cobaia e graças a deus sobrevivente de um sistema de ensino sucateado que ainda perdura até os dias de hoje, peço a todos os leitores que mudem essa realidade se não como futuros professores, talvez como pais, irmãos (as) ou amigos. Pois uma grande parte de pessoas ainda enxergar o ato de ler de maneira errada, e cabe a nós como futuros professores de letras mudar esse contexto social. 

Parecer_Aluno 22

            O tema do seu texto parece girar em torno de sua dificuldade em aprender a ler, tanto em casa quanto na escola. Para a quarta proposta de escrita você deve se colocar com narrador e personagem do texto e evocar suas memórias a fim de proporcionar uma narrativa descritiva e reflexiva sobre sua trajetória como leitor.     
            Segundo SOUZA (2006, p159) “escrever sobre a experiência na formação é proporcionar ao autor, através do ato de lembrar e narrar, reconstruir experiências, refletir sobre dispositivos formativos e criar espaço para uma compreensão de sua própria prática”. Perceba que você evoca suas memórias para relatar seu percurso como leitor, porém você em nenhum momento oferece uma possível explicação para sua dificuldade de aprendizado relacionando com um texto teórico trabalhado em aula. No quarto parágrafo você faz uma ponte com o presente, porém você não consegue apresentar argumentos necessários para relacionar com o seu texto. Leia o trecho a seguir retirado do quarto parágrafo: “No entanto hoje como estudante de letras depois de ter lido os textos, da professora Lucia Rottava, pude exercer certo domínio sobre este assunto e posso afirmar que o importante é o que se absorve na leitura o sentido que está impregnado em cada palavra e o contexto em que estão inseridas é isso que vai atiçar a vontade do aluno de querer ter aptidão com a leitura...” Perceba que você não utiliza as ideias da autora, assim como não deixa claro esse domínio que você exerce sobre a leitura.

            Seu texto, em alguns momentos, não apresenta concretude. Faça com que o leitor crie imagem a partir do que está sendo dito por meio de exemplos e explicações. Releia o trecho retirado do primeiro parágrafo: “...Acomodado em frente a mesa de jantar, colocando em minhas mãos um texto, que só pelo modo de segurá-lo, tornara notável a falta de intimidade entre nós”. Perceba que você apenas diz, e não mostra ao leitor como era esse “modo de segurar o livro” e por que havia uma falta de intimidade entre vocês.Com relação aos aspectos formais, sugiro que você revise a pontuação, pois há problemas sérios quanto ao não uso ou ao mau uso do sinal gráfico. Para a reescrita atente-se aos aspectos formais de uma escrita acadêmica como: introdução, citações, recuos, espaçamentos, referências bibliográficas, conforme as regras da ABNT.

O Saber

Reescrita
Por Aluno 22 



Poucas coisas em minha vida foram tão difíceis como aprender a ler e mesmo me considerando uma criança inteligente, pelo fato de aprender tudo muito rápido, aparentava haver entre mim e a leitura um bloqueio, que não era reduzido em nada pelos métodos de ensino escolar. Embora se eu não possuísse dificuldade de aprendizado, pois como já havia dito era precoce em praticamente todo o resto como, por exemplo, na matemática onde aos seis anos dominava o uso da tabuada e me arriscava em operações com frações. E se o sistema de ensino obtinha sucesso com as outras crianças, afinal minha turma possuía trinta e três alunos e somente eu ainda não havia aprendido a ler, apesar de transcorrido metade do ano letivo, sendo assim continuava no ar uma questão sem resposta, o porquê da minha dificuldade de aprendizagem.
             Logo minha mãe foi chamada a escola em que eu estudava, naquele ano, para ser avisada sobre esse assunto e minha mãe para não ver seu filho repetir a primeira série, vestiu sua roupa de super-mulher e abraçou a missão de me fazer ler. Porém se alguém está pensando que os métodos de ensino de minha mãe se baseavam em amor e carinho, estão completamente enganados, foi a base de muitos puxões de orelha, petelecos e gritos que ela tentou me ensinar. E seu método se apoiava no processo em que agora irei descrever. Ela inicialmente pronunciava a palavra que deveria ser repetida por mim, pausadamente dando ênfase a todas as sílabas. Logo depois, falava as letras que continham em cada sílaba, posteriormente, dizendo o som que a junção dessas letras produzia na sílaba e por fim ela repetia a palavra normalmente e apontava no texto a mesmo vocábulo e pedia para que eu lesse.
             Era incrível sua dedicação, mais interessante ainda era o tédio que aquilo me causava, que por diversas vezes, me exigia um enorme esforço para não dormir, o que não podia de jeito algum acontecer, pois havia a necessidade que eu decorasse a minha fala, para que o aprendizado se concretizasse. Com isso como podem perceber, o método de minha mãe tinha se demonstrado tão ineficaz quanto o de minha professora, pois, assim que ela acabava eu já havia decorado o que ela queria e apenas o fazia, às vezes até gaguejava, no intuito de dar uma veracidade maior ao aprendizado, e este até ali era inexistente por sinal. Portanto ao final de todo aquele processo eu não havia aprendido nada, mas minha mãe se mostrava feliz, pois seu filho havia decifrado um texto e foi o que eu aprendi durante boa parte daquele ano em casa e na escola a decifrar letras, frases, textos e livros.
              Isso se tornaria recorrente durante quase todo meu contato com a leitura, por que cada vez que acabava uma leitura poucos professores me perguntavam o que eu havia absorvido daquilo, sendo essa absorção o supra-sumo de qualquer aprendizado. E hoje por estar cursando letras em uma das melhores universidades do país após ler alguns textos, da professora Lucia Rottava, em que é abordado o conceito de leitura em sua amplitude não apenas como decodificação de sintagmas, e todos os fatores que contribuem para uma boa leitura como: conhecimento prévio do leitor, interesse sobre o assunto, linguagem compatível com o leitor, nível de intimidade que o leitor possui com assunto, entre outros.

E assim podendo notar que fui vítima de um sistema de ensino sucateado que perdura até os dias de hoje, no qual se cria, ano após ano, uma nova leva de semi-analfabetos, pelo fato das instituições de ensino diminuir o ato da leitura, a um simples procedimento de reconhecimento e reprodução de fonemas. Uma vez que, não é explicado ao aluno a funcionabilidade da leitura e sua importância, mencionando o prazer que a leitura pode trazer a vida das pessoas, e por ter sido cobaia, deste sistema educacional, posso afirmar, que nada disso foi explicado a mim na época, apenas me impuseram a aprendizagem da leitura como uma obrigação acadêmica e social. 

Tapeçaria

Reescrita
Por Aluno 8

                 Minha trajetória de leitura começou cedo. Na estante de madeira escura de minha sala, próxima a janela que dava para um grande abacateiro, encontravam-se livros dos mais diversos tamanhos e cores. Eles faziam parte do lugar onde passei boa parte de minha infância, na qual minha mãe se sentava e lia durante horas e horas. E eu, um tanto curiosa em saber que graça tinham aquelas páginas de papel, tentava imitá-la, franzindo a testa, estreitando os olhos e fingindo que compreendia os seus livros complicados repletos de classificações de rochas e conceitos geográficos.
    A partir dessa curiosidade inicial (e depois de muito tempo e esforço), aprendi a ler. Comecei o ato da leitura e gostava de realizá-lo principalmente porque aquele mundo que encontrava nas histórias era tão diferente do meu. Meu primeiro livro favorito era Bruxa Onilda vai à Nova York, de Roser Capdevila, pois justamente era lá que eu encontrava novas realidades mágicas, com seus feitiços, corujas que falavam, bruxas que iam a desfiles de moda, vassouras que voavam e a magia que não existia no cotidiano. Saía do tédio do dia a dia por se tratarem de situações incomuns, que eu nem sequer teria imaginado se não fossem pelos enredos.
Construía, dessa forma, sentidos positivos a outras obras (não só à Bruxa Onilda, mas também a vários outros livros de ficção), achava-as cativantes por me prenderem à narrativa, podia ler horas e horas a fio. Esses sentidos foram construídos de acordo com o resultado de experiências com outras leituras infantis, além de meu conhecimento prévio das leituras que realizava na época (ROTTAVA, 1998). Mais tarde, esse conhecimento prévio de leituras fantásticas me levou a novos tipos de livros.
Esses novos livros foram, em parte, apresentados por meus pais. Foi uma fase importante do estímulo à leitura, pois eles me incentivaram e motivaram não só a ler o que a escola pedia, mas também outros temas (ROTTAVA, 2000).
Os novos temas, novos livros, foram uma queda do mundo fantástico de fadas, bruxas e elfos para os romances policiais, como Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle. Eu procurava me envolver nas histórias tentando descobrir o que conectava os pontos dos mistérios, as redes criadas por criminosos nos crimes perfeitos e nos planos infalíveis.
Essas leituras me instigaram a não apenas abranger o campo de assuntos que me interessavam, mas também contribuíram para a construção de conhecimento. Não só leituras de jornais do dia a dia constroem o conhecimento, mas de acordo com Britto (2012), as leituras que estão além das esperadas, das obrigatórias, são aquelas que nos ajudam em tarefas de interpretação e foco no que está sendo lido.
Estabeleci e desenvolvi maior atenção no que lia a partir do momento em que me esforçava e praticava o ato da leitura, ou seja, quanto mais eu lia, melhor eu lia (e isso vale para qualquer leitor). A leitura não só me servia de entretenimento, mas expandia os campos da minha imaginação.

                       “A leitura é uma habilidade que perpassa de maneira transversal                                                        o conhecimento de maneira geral, contribuindo para a construção do                                                         conhecimento em várias áreas.” (ROTTAVA, 2000, p. 12). 

Passei a compreender melhor as histórias, pois já procurava entender alguns significados dos enredos ou o que eles tentavam passar adiante. Nos romances de meu detetive de Baker Street (citado acima), por exemplo, era passada a ideia de que é preciso ter atenção a todos os detalhes no mundo que nos cerca, observar é muito diferente de só ver, é preciso levantar hipóteses a partir do que é observado. “Observar” é dar significado, “ver” é simplesmente olhar.
Esses e outros significados eram interpretados e reconhecidos por mim nos textos que passava a ler (e reler), que também me trouxeram outro benefício importante: a escrita. Comecei a escrever porque adorava ler, criar novas histórias repletas de magia e façanhas dos meus heróis favoritos, com monstros horrendos e princesas aprisionadas por dinossauros.
Escrevia a partir das histórias que já tinha lido antes. Meu objetivo de ler acabou virando inspiração nos processos de reconstrução de significados às experiências anteriores (ROTTAVA, 1998). Recordava de personagens que haviam me marcado, vivências e aventuras cheias de ação, como as histórias de Senhor dos Anéis, de Tolkien, ou em Artemis Fowl, de Eoin Colfer.
Nesses livros, eu encontrava batalhas, seres mitológicos, e tentava recriar as cenas nas minhas próprias histórias, descrevendo algumas que havia lido ou criando algo novo com base no meu conhecimento prévio. Ler me ajudou no processo de escrita e de criação, pois de acordo com Rottava (2000), ler e escrever são indissociáveis, com os quais os leitores compartilham pensamentos e ideias.
            Esclarecer meus pensamentos nunca foi tarefa fácil, sempre havia um terreno árduo a ser percorrido. Unir ponto a ponto, costurar cada palavra de maneira fixa era difícil, sempre custei a especificar e organizar minhas ideias. Na maior parte das vezes, não funcionava, surgia um turbilhão de conceitos mal conectados, mas só aprendi a escrever pela prática da escrita, processo que deve ser exercido diversas vezes (ROTTAVA, 1998).
            E quanto mais eu escrevia, mais eu melhorava. O processo me ajudava a esclarecer as ideias, refletir sobre os pontos principais dos quais eu queria chamar a atenção e, a partir da prática intensiva, consegui integrar as minhas ideias aos textos (ROTTAVA, 1998). Se antes eu não conseguia nem mesmo atar os nós da costura, hoje consigo até pregar alguns botões, trazer alguns argumentos e relacioná-los razoavelmente.
            Quando digo “razoavelmente”, refiro-me a escrever com precisão, sem deixar ideias vagas, conceitos abstratos. Aprendi a me esforçar para redigir textos mais específicos, com pensamentos claros, interligados por uma mesma linha, um fio conector de minha costura.
            A leitura me levou a campos desconhecido e a escrita me levou a explorá-los. Depois da leitura fantástica, num salto fui parar na literatura, junto de livros como O Tempo e Vento, de Érico Veríssimo, e Os Miseráveis,de Victor Hugo, passei a interagir com o mundo a minha volta. Relacionava os assuntos universais dos enredos (como a família, as causas sociais, as brigas políticas) com a realidade em que estava inserida, e escrevia, a partir disso, minhas opiniões.
            As melhores leituras foram as que me fizeram pensar com elas, refletir a partir da reação que provocavam em mim, emitir opiniões e impulsionar a construção de meu conhecimento (ROTTAVA 2000). Recebi muito das leituras que realizei, encontrei personagens marcantes (como Ana Terra e sua força em manter a família) e situações extremas da natureza humana (como o julgamento de Esmeralda em Os Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo), nas quais a violência e a injustiça estavam presentes.
            Meu processo de leitura passou desde o entretenimento dos livros infantis até os mais densos, que podiam me chocar com a seriedade das tramas ou me emocionar com seus desfechos. Nunca me esqueci, por exemplo, desse trecho de O continente:
                                  “Ergueu Leonor nos braços, segurou a mão de Bolívar, lançou                                                             um último olhar para a sepultura de Rodrigo e achou que afinal de                                                     contas tudo estava bem. Podiam dizer o que quisessem, mas a                                                         verdade era que o Capitão Cambará tinha voltado para casa."
                                                  (VERISSIMO, Érico, p. 309 Editora Globo, v.1)

            A morte do personagem na saga representou uma grande fase na minha leitura: passei a me integrar na história a ponto de sentir com ela, guardar na memória passagens como esta, que marcam pela força das imagens e do sentimento do enredo.
Foram os pequenos livros que me levaram a ler os grandes (como a obra citada acima), foi a partir da prática diária que comecei a me interessar e a definir objetivos como leitora. A leitura vinculou-se ao meu novo contexto social, o acadêmico, o qual exige que a literatura seja estudada, não mais os livros de ficção infantil, mas as novas circunstâncias, assim como toda leitura (ROTTAVA, 2000).
Ainda assim, não esqueci a origem das minhas antigas leituras, do sentimento de descoberta que tinha com elas, de todos os mundos aos quais fiz parte e que me ajudaram a construir o conhecimento que tenho até hoje. Foram eles que me impulsionaram e ajudaram a tecer, ponto a ponto, a tapeçaria da minha trajetória de leitura.

Referências Bibliográficas
ROTTAVA, Lucia; Leitura e Escrita na Pesquisa e no Ensino In Espaço da Escola; n. 26; p. 61-68; 1998
ROTTAVA, Lucia; A Importância da Leitura na Construção de Conhecimento In Espaço da Escola; n. 35; p. 11-16; 2000
BRITTO, Luiz P. L.; Leitura: acepções, sentido e valor In Nuances: estudos sobre Educação; v. 21. n. 22; p. 18-22; 2012