quarta-feira, 4 de junho de 2014

Como tomar um delicioso chá da tarde

Reescrita
Por Aluno 15


Existem duas leis que regem o preparo de um bom chá: primeiramente, deve-se tomar em dias frios, naqueles em que a neblina vista da janela faz o céu parecer branco. E, finalmente, é expressamente proibido o uso de água “esquentada” em microondas. O bom chá deve ser feito com água aquecida na chaleira, de preferência aquela que você herdou da sua mãe, em formato de joaninha. A temperatura ideal é aquela que faz o vapor da água provocar chiamento na chaleira. Quente, extremamente quente. É necessário que, ao fim do processo, a fumacinha da bebida suba em direção ao rosto, de maneira que antes mesmo de provar o delicioso chá, já se possa sentir o calor chegando, aquecendo como um abraço ou como coberta de soft. Canecas e xícaras são uma escolha importantíssima. As maiores tem prestígio, pois além de prolongar o momento, deixa tudo mais aconchegante. Aquele canecão colorido e enorme que é o amor em forma de louça.
O sabor se escolhe conforme o gosto, que é muito individual. Há quem goste dos mais cítricos, dos de frutas, dos de ervas, e por aí vai… O importante é escolher o seu preferido. Aquele que você, indo para a casa durante o dia mais gelado do inverno, ia pensando e desejando que estivesse em meio às suas duas mãos, esquentando-as.
Quando a água estiver no ponto e o sachê dentro da caneca, o momento tão esperado se inicia. O despejar da água traz uma sensação única, de ansiedade e de tranquilidade, ao mesmo tempo: ansiedade que é consequência do desejo de beber o tal chá e tranquilidade porque, finalmente, o grande momento se aproxima. Então, o chá vai soltando o seu sabor na água e o seu cheiro na ponta do nariz gelado. A caneca entre as duas mãos as aquece da mesma forma que a fumacinha vai perfumando a casa fria. O açúcar, adoçante ou o mel tomam espaço na medida em que são adicionados á bebida para adoçá-la. Tudo é misturado com uma colherzinha de café.
 Deve-se ir até o sofá ou poltrona mais próxima onde se senta com as joelhos dobrados junto ao peito, e os abraça com o braço direito. Com a mão esquerda segura-se a caneca enorme. Essa, vai em direção a boca e, em seguida, assopra-se a bebida com delicadeza, de forma que uma sensação de carinho tome conta de você. É nesse momento de sublime calmaria que se entende a magia de tomar um bom chá. Se você fechar os olhos vai ver quão esplendorosa emoção pode estar presente em uma bebida tão fácil de preparar.
Os primeiros goles descem inconfortando a garganta, que estranha a bebida quente. Porém, logo se acostuma á sensação, pois essa se torna agradável com o passar do tempo. O calor vai ocupando o corpo de maneira quase imperceptível: quando você se dá por conta está todo quentinho. Acontece da mesma maneira de quando você vai tomar banho: tira toda roupa e fica “morrendo” de frio; mas logo vai para debaixo do chuveiro, onde a água quente escorre  da cabeça até o dedão do pé. Assim, na medida em que se bebe o chá, gole por gole, o bem-estar provocado faz com que se esqueça completamente do frio. Dessa forma, o processo vai chegando ao seu final. Mas não há motivo para tristeza, porque a ocasião é para contentamento.

É importante notar que cada gole é um afago, por isso não se distrair é essencial. É o seu momento no dia. São dez minutinhos de profundo silêncio. É delicioso olhar pela janela o dia tão frio e você em casa tão quente. Poucas sensações na vida se comparam a desse contraste maravilhoso que somente um chá bem preparado pode trazer.

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