Reescrita
Por Aluno 15
Existem
duas leis que regem o preparo de um bom chá: primeiramente, deve-se tomar em
dias frios, naqueles em que a neblina vista da janela faz o céu parecer branco.
E, finalmente, é expressamente proibido o uso de água “esquentada” em
microondas. O bom chá deve ser feito com água aquecida na chaleira, de
preferência aquela que você herdou da sua mãe, em formato de joaninha. A
temperatura ideal é aquela que faz o vapor da água provocar chiamento na
chaleira. Quente, extremamente quente. É necessário que, ao fim do processo, a
fumacinha da bebida suba em direção ao rosto, de maneira que antes mesmo de
provar o delicioso chá, já se possa sentir o calor chegando, aquecendo como um
abraço ou como coberta de soft. Canecas e xícaras são uma escolha
importantíssima. As maiores tem prestígio, pois além de prolongar o momento,
deixa tudo mais aconchegante. Aquele canecão colorido e enorme que é o amor em
forma de louça.
O sabor se
escolhe conforme o gosto, que é muito individual. Há quem goste dos mais
cítricos, dos de frutas, dos de ervas, e por aí vai… O importante é escolher o
seu preferido. Aquele que você, indo para a casa durante o dia mais gelado do
inverno, ia pensando e desejando que estivesse em meio às suas duas mãos,
esquentando-as.
Quando a
água estiver no ponto e o sachê dentro da caneca, o momento tão esperado se
inicia. O despejar da água traz uma sensação única, de ansiedade e de
tranquilidade, ao mesmo tempo: ansiedade que é consequência do desejo de beber
o tal chá e tranquilidade porque, finalmente, o grande momento se aproxima.
Então, o chá vai soltando o seu sabor na água e o seu cheiro na ponta do nariz
gelado. A caneca entre as duas mãos as aquece da mesma forma que a fumacinha
vai perfumando a casa fria. O açúcar, adoçante ou o mel tomam espaço na medida
em que são adicionados á bebida para adoçá-la. Tudo é misturado com uma
colherzinha de café.
Deve-se ir até o sofá ou poltrona mais próxima
onde se senta com as joelhos dobrados junto ao peito, e os abraça com o braço
direito. Com a mão esquerda segura-se a caneca enorme. Essa, vai em direção a
boca e, em seguida, assopra-se a bebida com delicadeza, de forma que uma
sensação de carinho tome conta de você. É nesse momento de sublime calmaria que
se entende a magia de tomar um bom chá. Se você fechar os olhos vai ver quão
esplendorosa emoção pode estar presente em uma bebida tão fácil de preparar.
Os
primeiros goles descem inconfortando a garganta, que estranha a bebida quente.
Porém, logo se acostuma á sensação, pois essa se torna agradável com o passar
do tempo. O calor vai ocupando o corpo de maneira quase imperceptível: quando
você se dá por conta está todo quentinho. Acontece da mesma maneira de quando
você vai tomar banho: tira toda roupa e fica “morrendo” de frio; mas logo vai
para debaixo do chuveiro, onde a água quente escorre da cabeça até o dedão do pé. Assim, na medida
em que se bebe o chá, gole por gole, o bem-estar provocado faz com que se
esqueça completamente do frio. Dessa forma, o processo vai chegando ao seu
final. Mas não há motivo para tristeza, porque a ocasião é para contentamento.
É
importante notar que cada gole é um afago, por isso não se distrair é
essencial. É o seu momento no dia. São dez minutinhos de profundo silêncio. É
delicioso olhar pela janela o dia tão frio e você em casa tão quente. Poucas
sensações na vida se comparam a desse contraste maravilhoso que somente um chá
bem preparado pode trazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário