1ª
Versão
Por Aluno 32
Festa
de quinze anos de uma pessoa com quem só conversamos uma vez na vida. Casamento
de um casal que nunca vimos antes. Não importa se pensamos que festas de quinze
anos são rituais patriarcais que nenhuma mulher deveria apoiar. Não importa se vemos
alguma coisa errada na monogamia. Vamos acabar tendo de ir.
A
ida a esses eventos está quase sempre associada a nossos pais. Eles passam o
convite. Data, horário e local. Geralmente fica implícito que nossa ida é
indispensável, mas se ficar dúvida/esperança, pode-se perguntar:
-
E eu preciso ir?
Então
vem a resposta afirmativa. Pode ser tanto verbalizada quanto apenas um olhar –
que, por sua vez, pode ser tanto cúmplice, do tipo “eu também não quero ir, mas
sabe como é”, quanto ditador, do tipo “sim,
vai ir sim”.
Suspiros
resignados. Cedemos, porque, convenhamos, nossos pais fazem tanto por nós. O
que é usar um sapato desconfortável e “passar alguma coisinha na cara” por uma
noite, comparado a tudo que eles representam?
Esquecemos
da existência do evento. Até a véspera. Daí precisamos conferir se a roupa
apropriada ainda serve, se nada está descosturando. Grande xingo da mãe se algo
não estiver como deveria estar: “Por que deixou pra ver isso na última hora,
criatura?”
Chegou
o dia. Pensamos na importância que a cerimônia tem para nossos pais. Buscamos
inspiração nos corajosos heróis e heroínas dos livros e filmes para não
chutarmos as convenções sociais e irmos de camiseta e calça de abrigo. Puxamos
a força de vontade, a perseverança, a garra, do âmago de nossos seres, para
conseguirmos levantar de nossas tão confortáveis camas e nos arrumarmos.
Conseguimos.
Ao chegar no local, acontece todo o cerimonial. Na festa de quinze anos, a
aniversariante dança a valsa com o pai, os amigos e parentes fazem homenagens a
ela, depois há o jantar, música alta começa a tocar e luzes piscantes são
acesas, e a maioria das pessoas dança. Já no casamento, primeiro ocorre a
cerimônia religiosa, e depois a festa, geralmente em outro lugar, festa essa
bem similar à de quinze anos, em alguns pontos. Ser cortês com os donos da
festa é de suma importância em ambas as situações.
Com
sorte, podemos pegar sorrateiramente algum papel da mesa, quando a música e as
luzes a piscar, e fazer dobraduras para espantar o tédio. Se formos prevenidos,
levamos papel e caneta de casa, para garantir o passatempo. É comum sentir
certa culpa por não estar aproveitando a festa, mesmo que grande esforço tenha
sido feito para elaborá-la. É importante apenas não desmerecer o trabalho, é
apropriado elogiar o afinco com que ela foi feita, o que não é hipócrita de
nossa parte.
Depois
do tempo considerado adequado, vamos embora. Ao retornar ao lar, tiramos o
sapato que machuca os pés e a roupa que pinica. Voltamos para nossa cama, com
nossa camiseta e com nossa calça de abrigo e, acima de tudo, com o sentimento
de “Parabéns, você acaba de passar com êxito por um evento socialmente obrigatório.
O equilíbrio do mundo foi mais uma vez assegurado.”
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