1ª
Versão
Por Aluno 3
Um
suculento sorriso, colorido como o sangue de jovem mulher... vívido, gritante,
vermelho...
Sentada
sobre os escuros, quase de todo pretos, sedosos lençóis da cama de largos
colchões, penteia ela os seus longos e corredios fios de cabelo. Estes, criando
um mais que perfeito contraste entre pelos e pele quando estendidos sobre as
suas alvas, femininas e delgadas espáduas, compartilham com o noturno céu por
densas nuvens encoberto as naturais, negras feições e matizes da sua fábrica. A
jovem admira a própria beleza, todo o seu delicado corpo, no reflexo a ela
apresentado pelo espelho disposto sobre a parede do quarto. Velas proviam ao
cômodo a luz necessária para que houvesse qualquer imagem visível nos vidros
nos quais era replicada a divina imagem da linda moça.
Discreto em
sua observação, homem de alta estirpe, renomado médico, muito bem apresentado
em seu negro paletó, sapatos e calças a custo de muito dinheiro comprados, ele
permanece imperceptível à inocente desatenção da jovem musa. Fica imaginando os
seus claros, celestes olhos azuis. Disfarça seu emotivo respirar e os
acelerados batimentos do peito apaixonado escondendo o som da expiração e do
pulsar de veias em meio às notas cantadas pela delicada brisa que entra pelas
janelas abertas pouco antes do retorno da bela ao quarto, depois do seu
demorado banho. A noite é quente. Ela o conhece há pouco mais de uma semana.
Ele faz descer as persianas e fecha os vidros das janelas, isolando
acusticamente o quarto, na medida do possível.
Já nebulosas
as suas percepções, tomado por incontrolável desejo, se aproxima do leito, da
dama que, não mais escovando seus longos cabelos, aguarda paciente o amante a
poucos dias conhecido. O homem, já próximo o suficiente da sua querida para que
pudesse notar maiores detalhes do seu tão bem delineado semblante, inveja
amargamente as ralas gotas d’água que sem o menor pudor rolavam sobre a
delicada pele da formosa moça, deleitadas ao quente toque do seu jovem corpo.
Sente, ele, daquela que a poucos centímetros dele agora se dispõe, o
irresistível olor natural, o seu intoxicante perfume. Correm pela sua fronte as
gotas do suor proveniente do seu descontrole emocional. Pensando compreender as
intenções do seu, ao menos por aquela noite, companheiro, a linda moça, faces e
lábios avermelhados, sorri.
Um
voluptuoso sorriso, colorido como o sangue da jovem mulher... vívido,
silencioso, vermelho...
Decide ele
que irá toma-la para si, finalmente seguindo os conselhos insidiosos do mais
natural dos instintos da carne. Envolve-a com seus fortes braços e firmes mãos
(mãos de habilidoso cirurgião), vestidas estas por finas luvas de couro
cinzento, imobilizando quaisquer possíveis maiores movimentos a serem por parte
dela inesperadamente efetuados. Ela, sentindo o calor da respiração do parceiro
sobre a sua delicada nuca, aceita o gesto. Levemente tocando com os lábios a
suave pele da mulher envolta em seus braços, ele faz com que corram arrepios
pela espinha da pobre infeliz quando lhe beija a nuca. Já se vê o homem enlouquecido
pelo irrefutável desejo.
O médico
tem fome.
Apertando-a
com ainda maior gasto de energias em seus abraços, morde ele o pescoço da jovem
dama, não de maneira terna e sensual, mas imprimindo sobre a frágil carne da
amaldiçoada mulher toda a brutal pressão que podiam exercer suas poderosas
mandíbulas, fazendo tremer as paredes brancas do quarto com o reverberar dos
desesperados berros daquela por quem tinha então tamanha paixão. A aterrorizada
moça, sem conseguir se desvencilhar do sufocante abraço do elegante psicopata,
tem, pela faminta boca deste, a carótida arrancada. Os jatos de sangue
redecoram o quarto. Cessam, em segundos, os gritos da desventurada jovem.
Com o
recorte de músculos e veias ainda sendo por seus brancos dentes mastigados, o
insano canibal vislumbra através do seu reflexo no espelho, ainda tomado por
insuperável sentimento de satisfação e prazer lascivo, a sua verdadeira
natureza: seus morenos cabelos já desgrenhados; olhos de frio azul abertos como
se não fossem envolvidos por suas pálpebras; os lábios e o queixo
ensanguentados por completo. Ainda abraçando o imóvel cadáver da sua querida,
sorri para si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário