1ª
Versão
Por Aluno 43
A veiculação através do ônibus coletivo
não precisa ser um pesar ou uma dura pena infligida pelos fados: pode tornar-se
não-problemática e até suportável dentro dos limites físico-emocionais do
passageiro. Para que o transporte aconteça com êxito, isto é, para que o indivíduo
chegue ao seu destino com todas as partes de seu corpo, sem hematomas, cansaço extremo
ou cheiro duvidoso, algumas regras específicas devem ser seguidas; são dicas
práticas e garantem um melhor aproveitamento da locomoção.
Em
primeiro lugar, deve levar-se em conta o tipo de viagem. A viagem simples é aquela com as menores complicações: dá-se quando
o passageiro pretende ir ver um amigo, comprar algo no shopping ou atravessar
curtas distâncias – de um bairro para o outro, por exemplo - em horários em que
o trânsito não está caótico, ou seja, entre 9 e 16h e depois das 20h. Para que
se inicie a viagem, o indivíduo, que espera seu ônibus no corredor ou na
parada, deve manter-se atento à chegada do ônibus, pois esse aproveitará o
tráfego tranquilo para passar rápido e não transportar ninguém. O futuro
passageiro, esperto como é, está apostos para pegar o transporte e ergue o
braço em noventa graus quando o automóvel desejado se aproxima; então, quando o
ônibus para e abre suas portas (pois não é lícito arrancar o braço do cidadão),
o indivíduo sobe calmamente em seus degraus e cumprimenta sorridente o
motorista, com um “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”, dependendo do período
do dia. Como há, no máximo, três passageiros atrás dele, o indivíduo pega sem
pressa seu cartão vale-transporte e o encosta na máquina do cobrador para pagar
a passagem.
Então
o específico viajante passa pela roleta e escolhe o melhor lugar para sentar:
aquele alto e na janela, com mais ninguém ao lado, o que permite espreguiçar
suas pernas e braços sem incômodo. Ele também atenta-se para as fileiras de bancos
em que o sol está pegando e prefere o lado contrário, previamente sabendo
quanto tempo o ônibus ficará em cada rua/avenida e para que direção (Norte,
Sul, Leste, Oeste) estará nelas virado, de forma que pode prever o trajeto dos
raios do sol dentro do veículo e, logo, ser o menos possível por eles afetado.
Caminha até o banco escolhido segurando-se nas barras e nele se senta. Por fim,
o que fará durante a viagem se dá de modo pessoal: o passageiro pode ler um
jornal ou livro, navegar na internet em seu celular e até escutar música – com
fones de ouvido, é claro. O importante
neste quesito é não descuidar-se de seu ponto de chegada, apertando o botão
sinalizador assim que o ônibus aproximar-se da parada desejada.
Viagem
intermediária é
aquela que em que o ônibus transporta um número maior de pessoas e o trajeto
dá-se num período mais longo, como a ida da Zona Norte de Porto Alegre até o
Centro, mas que flui sem obstáculos no tráfego. Acontece quando os passageiros
precisam resolver algo importante nos bairros mais frequentados e comerciais da
cidade: uma reunião empresarial ou consulta ao médico, por exemplo. Mais
passageiros pretendem embarcar em um ônibus e esse não passará correndo. Caso
queira – impreterivelmente- assentar-se, o indivíduo deve subir no transporte
de maneira ágil, pois nestas viagens há poucos assentos vagos; se não for
possível conseguir um banco, ele deve ficar perto da porta de saída, que é o
local onde os viajantes que descem mais cedo no trajeto costumam sentar. Na
viagem intermediária, entretanto, é comum que todos os lugares fiquem ocupados
e duas ou três pessoas permaneçam de pé; isso não parece irritar ninguém e a
ânsia do indivíduo por sentar é facilmente refreável - ele ainda pode transitar
pelo ônibus sem problema algum. Ouvir uma música facilmente o distrairá.
A viagem batalhadora, todavia, é a mais temível das
viagens, que acontece nos horários de pico com passageiros que estão voltando
ou indo para seu local de trabalho ou estudo. Características dessa viagem são
o ônibus completamente lotado; tráfego infernal, lento e com direito a buzinas
e xingamentos; os passageiros estão cansados e muitas vezes fedidos. O desânimo
impregna-se no corpo destes brasileiros e deixa-os, às vezes, numa
agressividade desumana, pois diariamente precisam travar a luta da locomoção
urbana. Nessa viagem o indivíduo prepara-se para pegar o ônibus tal como se
posiciona um corredor antes do início da corrida ou um leão pronto a agarrar
sua presa; ele já coloca o cartão vale transporte em seu bolso e cuida com
atenção redobrada a vinda do ônibus escolhido. Vendo que esse se aproxima, reza
para que ao menos exista um espaço vago antes da roleta, espaço onde possa
encaixar-se. Aí calcula o local onde o ônibus parará e corre até alcançá-lo.
Se
conseguir entrar no automóvel, está no lucro. Na viagem batalhadora, o
guerreiro – digo, o passageiro não terá a necessidade de segurar-se em alguma
barra, pois o volume dos corpos humanos ao seu redor o susterá. Caso passe a
roleta, deve tentar chegar ao fundo do ônibus com movimentos sensuais, isto é,
requebrando-se de forma a adaptar-se aos poucos espaços ainda não-preenchidos
do ônibus. Se o indivíduo está portando uma mochila pesada, pode bater “sem
querer” em alguns passageiros sentados, incentivando-os a carregá-la. Também é
importante que ele se lembre de respirar, independente de quanto o ar se renova
dentro do transporte público. Como as viagens batalhadoras são viagens de
rotina, muitas pessoas dentro do ônibus conhecem-se de vista. Uma dica
interessante é memorizar aquelas que descem mais cedo no trajeto para pegar seu
lugar quando o fizerem.
O
aspecto mais importante para tolerar tal viagem é o emocional. O indivíduo
porto-alegrense, por exemplo, deve manter em mente tais coisas: milhares de pessoas
por todo o país passam pelo mesmo desafio diário que ele; seria pior se morasse
em São Paulo ou Rio de Janeiro; se ele se locomove nos horários de pico, é
porque felizmente ainda tem objetivo na vida.
Conhecendo,
então, as respectivas viagens de ônibus coletivo, qualquer pessoa pode
tornar-se um passageiro treinado e profissional, conseguindo sentar-se nos
melhores lugares e aproveitando ao máximo a locomoção no transporte público.
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