terça-feira, 3 de junho de 2014

Viagens de ônibus: como encará-las efetivamente

Reescrita
Por Aluno 43



            A veiculação através do ônibus coletivo não precisa ser um pesar ou uma dura pena infligida pelos fados: pode tornar-se não-problemática e até suportável dentro dos limites físico-emocionais do passageiro. Para que o transporte aconteça com êxito, isto é, para que o indivíduo chegue ao seu destino com todas as partes de seu corpo, sem hematomas, cansaço extremo ou cheiro duvidoso, algumas regras específicas devem ser seguidas; são dicas práticas e garantem um melhor aproveitamento da locomoção.
Em primeiro lugar, deve levar-se em conta o tipo de viagem. A viagem simples é aquela com as menores complicações: dá-se quando o passageiro pretende ir ver um amigo, comprar algo no shopping ou atravessar curtas distâncias – de um bairro para o outro, por exemplo - em horários em que o trânsito não está caótico, ou seja, entre 9 e 16h e depois das 20h. Para que se inicie a viagem, o indivíduo, que espera seu ônibus no corredor ou na parada, deve manter-se atento à chegada do ônibus, pois esse aproveitará o tráfego tranquilo para passar rápido e não transportar ninguém. O futuro passageiro, esperto como é, está a postos para pegar o transporte e ergue o braço em noventa graus quando o automóvel desejado se aproxima; então, quando o ônibus para e abre suas portas (pois não é lícito arrancar o braço do cidadão), o indivíduo sobe calmamente em seus degraus e cumprimenta sorridente o motorista, com um “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”, dependendo do período do dia. Como há, no máximo, três passageiros atrás dele, o indivíduo pega sem pressa seu cartão vale-transporte e o encosta na máquina do cobrador para pagar a passagem.
Então o específico viajante passa pela roleta e escolhe o melhor lugar para sentar: aquele alto e na janela, com mais ninguém ao lado, o que permite espreguiçar suas pernas e braços sem incômodo. Ele também atenta-se para as fileiras de bancos em que o sol está pegando e prefere o lado contrário, previamente sabendo quanto tempo o ônibus ficará em cada rua/avenida e para que direção (Norte, Sul, Leste, Oeste) estará nelas virado, de forma que pode prever o trajeto dos raios do sol dentro do veículo e, logo, ser o menos possível por eles afetado. Caminha até o banco escolhido segurando-se nas barras e nele se senta. Por fim, o que fará durante a viagem se dá de modo pessoal: o passageiro pode ler um jornal ou livro, navegar na internet em seu celular e até escutar música – com fones de ouvido, é claro.  O importante neste quesito é não descuidar-se de seu ponto de chegada, apertando o botão sinalizador assim que o ônibus aproximar-se da parada desejada.
Viagem intermediária é aquela que em que o ônibus transporta um número maior de pessoas e o trajeto dá-se num período mais longo, como a ida da Zona Norte de Porto Alegre até o Centro, mas que flui sem obstáculos no tráfego. Acontece quando os passageiros precisam resolver algo importante nos bairros mais frequentados e comerciais da cidade: uma reunião empresarial ou consulta ao médico, por exemplo. Mais passageiros pretendem embarcar em um ônibus e esse não passará correndo. Caso queira – impreterivelmente - assentar-se (por estar cansado ou com sacolas, por exemplo), o indivíduo deve subir no transporte de maneira ágil, pois nestas viagens há poucos assentos vagos; se não for possível conseguir um banco, ele deve ficar perto da porta de saída, que é o local onde os viajantes que descem mais cedo no trajeto costumam sentar. Na viagem intermediária, entretanto, é comum que todos os lugares fiquem ocupados e duas ou três pessoas permaneçam de pé; isso não parece irritar ninguém e a ânsia do indivíduo por sentar é facilmente refreável - ele ainda pode transitar pelo ônibus sem problema algum. Ouvir uma música facilmente o distrairá.
A viagem batalhadora, todavia, é a mais temível das viagens, que acontece nos horários de pico com passageiros que estão voltando ou indo para seu local de trabalho ou estudo. Características dessa viagem são o ônibus completamente lotado; tráfego infernal, lento e com direito a buzinas e xingamentos; os passageiros estão cansados e muitas vezes fedidos. O desânimo impregna-se no corpo destes brasileiros e deixa-os, às vezes, numa agressividade desumana, pois diariamente precisam travar a luta da locomoção urbana. Nessa viagem o indivíduo prepara-se para pegar o ônibus tal como se posiciona um corredor antes do início da corrida ou um leão pronto a agarrar sua presa; ele já coloca o cartão vale-transporte em seu bolso e cuida com atenção redobrada a vinda do ônibus escolhido. Vendo que esse se aproxima, reza para que ao menos exista um espaço vago antes da roleta, espaço onde possa encaixar-se. Aí calcula o local onde o ônibus parará e corre até alcançá-lo.
Se conseguir entrar no automóvel, está no lucro. Na viagem batalhadora, o guerreiro – digo, o passageiro não terá a necessidade de segurar-se em alguma barra, pois o volume dos corpos humanos ao seu redor o susterá. Caso passe a roleta, deve tentar chegar ao fundo do ônibus com movimentos sensuais, isto é, requebrando-se de forma a adaptar-se aos poucos espaços ainda não preenchidos do ônibus. Se o indivíduo está portando uma mochila pesada, pode bater “sem querer” em alguns passageiros sentados, incentivando-os a carregá-la. Também é importante que ele se lembre de respirar, independente de quanto o ar se renove dentro do transporte público. Como as viagens batalhadoras são viagens de rotina, muitas pessoas dentro do ônibus conhecem-se de vista. Uma dica interessante é memorizar aquelas que descem mais cedo no trajeto para pegar seu lugar quando o fizerem: o específico passageiro as vê, e, como já as conhece de vista e sabe que vão descer, vai ao lado delas e aguarda o momento em que deixarão livre o desejado assento.
O aspecto mais importante para tolerar tal viagem é o emocional. O indivíduo porto-alegrense, por exemplo, deve manter em mente tais coisas: milhares de pessoas por todo o país passam pelo mesmo desafio diário que ele; seria pior se morasse em São Paulo ou Rio de Janeiro; se ele se locomove nos horários de pico, é porque felizmente ainda tem objetivo na vida.

Conhecendo, então, as respectivas viagens de ônibus coletivo, qualquer pessoa pode tornar-se um passageiro treinado e profissional, conseguindo sentar-se nos melhores lugares e aproveitando ao máximo a locomoção no transporte público.

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