Reescrita
Por Aluno 26
Dentre
as mais variadas dificuldades que a maioria das pessoas enfrenta diariamente,
nenhuma pode ser tão assombrosa quanto a de quem precisa usar lentes de
contato. Podendo escolher entre óculos de grau ou os pequenos objetos
gelatinosos, grande parte dos hipermetropes e míopes optam pela estética de um
rosto sem acessórios, ficando com as discretas lentes. Entretanto, para que
ninguém note suas dificuldades óticas, é inevitável que, todos os dias ao
acordar, o pesaroso processo de colocação das lentes aconteça.
Normalmente, a
caixinha das lentes de contato localiza-se no banheiro. Mais precisamente, no
armarinho ao lado do espelho. Se não conseguir chegar até ela sem tropeçar em
nada, nem se bater em nenhuma parede (porque, afinal, ainda não está em posse
das lentes), colocar os óculos para ir até o banheiro também é uma ótima opção.
Após vencer esta etapa, abre-se a caixinha. E lá estão elas: um par de lentes arredondadas,
gelatinosas e molhadas.
Primeiramente, se
pega a lente correspondente ao olho esquerdo porque, sabe-se lá o motivo, é
menos complicada de colocar do que a do olho direito. Ela escapa várias vezes
por entre os dedos até que, enfim, é possível colocá-la na palma da mão, que é
onde é feito o teste para saber se ela está do lado certo: flexiona-se a palma
e se ela (a lente) dobrar no meio, está correta. Após essa parte, ainda na
palma da mão, ela recebe um jato de soro desinfetante para se livrar das
impurezas que acumulou enquanto guardada. Quando se acredita que ela se
encontra limpa, vem a parte mais difícil que é conseguir equilibrá-la bem na
ponta do dedo indicador e levá-la ao olho, enquanto segura-se a pálpebra com a
outra mão para que o olho esteja bem aberto. A lente vai se aproximando, se
aproximando... Até que se pode sentir aquela estrutura gelada encaixar-se
perfeitamente na íris. É possível saber quando o encaixe se efetiva, pois
durante o primeiro contato com o olho ela faz um barulho parecido com um
“click”.
Pronto.
Agora chega a vez do olho direito. O processo se repete até o momento do
“encaixe perfeito” e, então, ao contato com o olho, é de praxe começar a sentir
um enorme desconforto, que logo causa ardência e lágrimas. Claro, o olho
direito sempre dá problemas. O desespero na hora do sofrimento faz com que os
olhos fiquem fechados e nenhuma solução instantânea surge nesse momento. Após
longos dois minutos de tortura, depois de passado o desespero maior, vem a
solução: retirar a malfeitora. Com o polegar e o indicador, se segura ela
dentro do olho – nada de sentimentos de repulsa quanto a isso. Essa parte já
foi superada! – e se puxa ela com força para frente. A ardência passa como que
instantaneamente e ao olhar para o objeto gelatinoso, pode-se enxergar uma
poeirinha resistente que fora brava na hora da lavagem com soro e continuou
ali, firme e forte. Essa é a hora da lente tomar seu segundo banho de soro e
sofrer todo o processo novamente.
Após a segunda
tentativa, normalmente, a lente se encaixa ao olho direito. Secam-se as
lágrimas provenientes da ardência, pisca-se umas cinco vezes para ter certeza
de que as lentes estão bem firmes nos olhos e admira-se a si mesmo no espelho.
Ninguém jamais perceberá (a não ser que o fato seja narrado), que há, ali,
objeto tão eficiente, capaz de compensar a falta de visão de alguém. Agora sim,
finalmente, seu dia pode começar com nitidez.
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