Reescrita
Por Aluno 13
Crianças
mimadas comprovam que, em 93% dos casos de suplício, o biquinho é o método mais
eficaz para manipular a resposta de seus pais objetivando uma permissão para
algo que, em condições normais, eles não aceitariam. Mas essa não é uma
condição normal. E o biquinho não é uma técnica qualquer, afinal, utiliza-se do
método de persuasão – e por isso é muito delicado lidar com ela. Só deve ser
usada como último recurso, por exemplo, “eu quero muito ir dormir na casa da
Fulaninha e meus pais já disseram que não” – esse é um caso, realmente, muito
delicado e requer que se faça uso da arte do biquinho.
Mas,
antes de apresentar essa técnica para vocês, preciso explicar a que se aplicam
aqueles 7% de ineficácia. Depois de alguns fracassos, foi comprovado que, em situações
de perigo eminente ou possível morte, o biquinho não funcionará, nunca. Os pais
têm um sensor de perigo que, quando ativo, faz tanto estardalhaço, com tantas
luzes e gritos, que não os permite pensar de maneira razoável – razoável para
você, e não para eles. Se você pedir para seu pai “posso ir dormir na casa do
meu namorado na Restinga”, por exemplo, seu pai vai proibi-la de o fazer. As
luzes começaram a piscar quando ele ouviu a palavra “namorado” – e
possivelmente ele não tenha ouvido mais nada depois dela –, então, não importa
o quão bem você faça o biquinho, ele não vai funcionar: é uma situação de
perigo eminente! – pelo menos na visão dele.
Passemos,
agora, finalmente, para a descrição da técnica em si. Ela envolve, não somente
a movimentação labial, mas também outras movimentações que muitos amadores, erroneamente,
não considerariam parte da técnica. Começo, então, explicando-lhes que o
processo de juntar os lábios, piscar os olhos, comprimir o corpo e, quase
miando, falar numa voz suave “deixa, vai, por favor, por-favorzinho” não é
natural. Ele precisa, portanto, de muito treinamento. Um espelho ajudará nisso.
Sentar à frente dele é um bom começo e será muito útil na descoberta do seu
melhor ângulo. Assim descoberto, passemos para o treinamento facial. Os
músculos do rosto devem estar bem relaxados para que possam se adequar ao
movimento suave que os lábios farão. Estes se ajuntarão à frente do rosto, como
um botão de rosa, tentando superar, em relevo, o nariz – mas não sobrepondo o
lábio inferior ao superior e nem vice versa. O próximo item da lista são os
olhos. Eles devem exprimir, ao mesmo tempo, suplício e necessidade. Devem
causar, nos pais, uma sensação de urgência que, se desrespeitada, lhes trará
arrependimentos. Especialistas nessa arte ainda discutem a relevância de lacrimejos
no canto dos olhos como catalizadores desse fenômeno. Particularmente, acredito
que lágrimas são muito apelativas e podem causar um efeito contrário. De qualquer forma, melhor não arriscar.
Finalmente: a expressão corporal. O seu corpo diz muito sobre as suas
intenções. Na hora do biquinho, ele não deve estar desleixado. Ele deve estar
comprimido e, de preferência, com as mãos juntas, palma com palma,
diagonalmente posicionadas abaixo do rosto – não tem
muita relevância se será diagonalmente para a direita ou para a esquerda. Eis a
pose ideal para efetuar o biquinho. Agora só faltará implorar quase miando e,
salvo nas condições já citadas, sua petição será aprovada.
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